Loja da Riachuelo na rua Oscar Freire, em São Paulo: a rede lança 35.000 produtos por ano (Fabiano Accorsi / VOCÊ S/A/Reprodução)
Da Redação
Publicado em 24 de julho de 2014 às 13h17.
São Paulo - O empresário Flávio Rocha, presidente da Riachuelo, costuma afirmar que esta é a “década do varejo”. De fato, os varejistas têm os números a seu lado. No Brasil, um em cada quatro empregos criados por empresas privadas está nesse setor. Só neste ano, mais de 350.000 vagas serão abertas no varejo.
“Nos anos 80 e 90, os principais empregadores estavam na indústria. Naquela época, uma montadora empregava mais do que as 60 maiores empresas de varejo. Hoje, a maior varejista emprega mais do que todas as montadoras juntas”, diz Flávio.
O empresário se refere ao Grupo Pão de Açúcar, controlador da Via Varejo — empresa que surgiu da fusão entre Casas Bahia e Pontofrio —, que contabiliza 160.000 funcionários.
O principal fator por trás da virada do comércio sobre a indústria foi a entrada de 35 milhões de brasileiros na classe média nos últimos dez anos — e o aumento de seu poder de consumo. Para atrair talentos para o varejo, as empresas têm acenado com oportunidades de crescimento. Mas exigem vocação e habilidades bem específicas.
“Não basta estudar nas melhores faculdades e ter MBA. Os recrutadores dão preferência a profissionais que gostam de gente e entendem a cabeça dos novos consumidores”, diz Renato Meirelles, do instituto Data Popular. Você conhecerá as três áreas mais dinâmicas do varejo e o perfil profissional que as empresas buscam.
Com que roupa eu vou?
Quando a rede americana Forever 21 abriu sua primeira unidade em São Paulo, em março, os lojistas providenciaram lanches e bebidas para quem tivesse de esperar do lado de fora por muito tempo.
A precaução não foi em vão: alguns consumidores enfrentaram até 3 horas de fila para experimentar as blusas da marca, especialista em traduzir a moda das passarelas para o consumidor a um baixo custo.
O interesse por esse tipo de produto é explicado pelo maior acesso à informação sobre moda. “Dez, 20 anos atrás, quem tinha informação de moda era quem comprava revistas, viajava para fora do país, acompanhava os desfiles. Hoje, com a internet, qualquer um pode assistir ao desfile da Chanel em Paris em tempo real”, diz Elio França, diretor de operações da C&A.
“Os nossos clientes estão cada vez mais exigentes. Para não perdê-los, precisamos fazer mudanças constantes”, afirma Flávio, da Riachuelo. Para atender a essa expectativa, as apostas são variadas.
Só a Riachuelo lança 100 produtos novos todos os dias. São mais de 35.000 itens por ano, com tempo de reposição curtíssimo. Entre a aprovação do desenho de uma peça, a fabricação e a chegada à loja passam-se apenas dez dias.
A rede também inaugurou duas lojas-conceito em São Paulo (a segunda em maio) e lançou coleções com Oskar Metsavaht, Cris Barros e Pedro Lourenço. Já a C&A criou as Collections, parcerias entre a varejista e estilistas famosos. Foram mais de 30 coleções com profissionais como Stella McCartney, Francisco Costa e Adriana Barra.
A gaúcha Renner, por sua vez, vai reestruturar sua marca e abriu, no ano passado, uma nova rede, voltada para os jovens: a Youcom, que já tem 20 lojas próprias e ganhará outras 20 até o fim do ano. “Queremos chegar a 2021 com 300 lojas da Youcom e 408 da Renner”, diz Clarice Costa, do RH da Renner.
O crescimento dessas redes, a abertura de quatro novas lojas da Forever 21 e a possível vinda da sueca H&M refletem o fato de o Brasil ser hoje o oitavo maior mercado de moda do mundo, com um crescimento de 287% nos últimos dez anos. Só no ano passado, o segmento movimentou 188 bilhões de reais. Tanta atividade puxa contratações em áreas como moda, logística e expansão.
Uma das que ingressaram nesse mercado é a paulistana Camila de Paula Souza, de 36 anos. Formada em moda pela Anhembi Morumbi, ela trabalha na área de desenvolvimento de produto da C&A e viaja várias vezes ao ano dentro e fora do país em busca de novidades. “Para quem está começando na moda, o varejo é uma área com muitas oportunidades”, diz Camila.
Apesar do bom momento, os empresários reclamam da burocracia, que limita o crescimento do segmento. “O cenário está mais favorável, mas falta uma melhora no ambiente de negócios. As empresas estrangeiras demoraram para chegar por causa do labirinto jurídico e tributário que existe aqui”, afirma Flávio.
Mudança para a internet
A Via Varejo, empresa resultante da fusão das operações do Pontofrio com as da Casas Bahia, abrirá 210 lojas até 2016 — 48 delas na Região Nordeste.
Ao lado da expansão do escritório da companhia, que deve aumentar seu quadro em cerca de 500 profissionais administrativos, de marketing e comércio digital, serão 2.000 contratações por ano.
“Estamos vivendo um momento de consolidação. Passamos por uma reorganização societária e estamos renovando nosso quadro, com uma liderança com estilo jovem, mais focada em tecnologia”, diz Paulo Naliato, diretor executivo de RH da Via Varejo.
No Magazine Luiza também há planos para contratar.
“O maior número de contratações é para as lojas”, diz Telma Rodrigues, diretora de gestão de pessoas do Magazine Luiza. Mas a maior dificuldade é encontrar especialistas em e-commerce. “Esse é um segmento novo, com profissionais jovens, interessados em empreender. As startups também competem por eles”, afirma Telma.
Demanda sem remédio
No ano passado, o mercado de medicamentos vendeu o equivalente a 58 bilhões de reais, e deve crescer mais 16,7% em 2014, segundo a Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma). É natural, portanto, que as maiores redes do Brasil acompanhem a demanda, abrindo unidades.
Neste ano, uma nova drogaria será aberta todos os dias. E, para cada uma delas, são necessários dois farmacêuticos — ou cinco, nas lojas 24 horas. Considerando que há um déficit de 30.000 profissionais da área, de acordo com pesquisa do Instituto de Pós-Graduação para Farmacêuticos, o momento é favorável para quem escolheu essa carreira. Há ainda uma distribuição irregular desses profissionais.
“Hoje, há cerca de 350 cursos de farmácia no Brasil, mas 80 deles estão em São Paulo”, diz a professora Vladi Olga Consiglieri, do Departamento de Farmácia da Universidade de São Paulo.
Para corrigir esse déficit e manter o ritmo de expansão, algumas empresas oferecem um pacote de migração que inclui pagamento da hospedagem nos três primeiros meses e incentivos financeiros aos profissionais dispostos a se mudar.
Os estados que mais sofrem com a falta dessa mão de obra ficam nas regiões Norte e Nordeste. No Piauí, por exemplo, há mais de 900 drogarias sem o profissional responsável. Lá, há um farmacêutico para cada 4.340 habitantes. Já no Espírito Santo, estado com maior proporção desse profissional, há um para cada 670 habitantes.
Outro obstáculo para as contratações no setor é a perda da mão de obra para a indústria bioquímica. Enquanto isso, as redes de drogarias não param de crescer. Só a cearense Pague Menos, presidida por seu fundador, Deusmar Queirós, abrirá 80 pontos de venda, todos próprios. Ele pretende chegar a 1.000 unidades, em todos os estados brasileiros, nos próximos três anos.
“Além dos farmacêuticos, esse crescimento, logicamente, afeta outras áreas da empresa. Vou precisar aumentar meu time de expansão, de operações, de compras e os 37 escritórios regionais”, afirma Deusmar. A RaiaDrogasil, fruto da fusão que deu origem à maior rede de farmácias do país, pretende abrir cerca de 130 unidades — de 30 a 40 delas serão instaladas na Região Nordeste.
Outras redes passam por uma fase de consolidação. A Extrafarma, originária das regiões Norte e Nordeste, foi adquirida no ano passado pela Ultra, empresa de combustíveis e gás de cozinha. Também em 2013, a CVS Caremark, maior grupo de varejo farmacêutico dos Estados Unidos — com 7.500 unidades naquele país —, comprou 80% das 44 lojas da Onofre.
Agora, nos planos da rede está incluída a inauguração de 28 unidades até 2015. Mas a expansão do grupo no Brasil não para por aí. De acordo com as informações veiculadas na imprensa, a rede negocia, em segredo, a compra da Drogarias DPSP, que conta com 722 unidades espalhadas por todo o Brasil — um negócio de 4,5 bilhões de reais.