Mais de 97% dos alunos concordam que o estudo é uma forma de ascensão social, mas muitos tem a barreira do dinheiro para conseguir concretizar esse sonho (Divulgação: Tom Werner / Getty Images)
Repórter
Publicado em 8 de dezembro de 2023 às 07h06.
Última atualização em 8 de dezembro de 2023 às 14h03.
O sonho de se formar em uma faculdade ainda é um desejo muito forte entre os jovens brasileiros. Segundo a quinta edição da pesquisa “O que realmente os alunos pensam sobre o ensino superior”, 80% pretendem ingressar em uma instituição de ensino superior no próximo ano.
A pesquisa, realizada pelo Instituto Semesp, centro de inteligência analítica criado pelo Semesp, e a Worklaove, plataforma de orientação e desenvolvimento de carreiras do Pravaler, ouviu 1.542 jovens de todo o Brasil, no período de 9 a 22 de novembro de 2023, destes, 79% de até 24 anos.
Para esses respondentes, as motivações para ingressar em uma faculdade são:
“De forma geral, a motivação dos estudantes permanece muito semelhante, sempre associada à promoção de uma mudança de vida ocasionada pela ascensão profissional, ou à busca pelo emprego na área de atuação, atrelado a realização de seus sonhos pessoais,” afirma Fernanda Verdolin, fundadora da Workalove, estrategista de Carreiras e pesquisadora do Futuro do Trabalho.
A área da saúde foi destaque na pesquisa:
Com o aumento de oportunidades de emprego no mercado de trabalho, muitos jovens estão buscando estudar cursos voltados à tecnologia. Segundo, Rodrigo Capelato, diretor-executivo do Semesp, entidade que representa mantenedoras de ensino superior no Brasil, apesar da alta procura, é preciso que as universidades busquem qualificar seus alunos de acordo com as demandas do mercado de trabalho.
“A partir do início de 2023, vemos que a procura por cursos da área de tecnologia aumentou, e a pesquisa mostrou que hoje já é a terceira área com mais interesse dos estudantes. Mas uma questão para que essas carreiras deslanchem de vez é que a oferta seja mais aderente à demanda do mercado de trabalho.”
“O que a gente vê são currículos muito duros e engessados, que não tem tanta aderência com um mercado muito dinâmico, que quer que o aluno já faça várias certificações rapidamente e tenha algumas técnicas bem rápido. Então, para incentivar mais os estudantes, e impedir que procurem por cursos de curta duração, é necessário que os currículos sejam mais aderentes a essa demanda do mercado de trabalho,” afirma Capelato.
Esse desejo dos estudantes em cursar o ensino superior é acompanhado pela necessidade de financiamento estudantil: de acordo com um levantamento realizado pela plataforma do Pravaler, mais de 860 mil pessoas buscaram pelo financiamento estudantil para ingressar no ensino superior neste ano, um aumento de 28% em relação ao ano passado.
Entre os respondentes deste ano, 65% afirmaram não conseguir ingressar sem algum tipo de auxílio. Sendo que, mais de 30% pretendem acessar via bolsa da própria instituição.
“Na pesquisa anterior tivemos 68,6% dos respondentes com essa afirmação, não existindo diferença significativa entre as pesquisas. Isso pode estar associado ao fato de que a grande maioria dos entrevistados possui uma renda familiar de no máximo 5 mil reais mensais, dificultando o acesso ao ensino superior caso não haja algum tipo de subsídio, como desconto, bolsa ou financiamento,” diz Verdolin.
Mais de 97% dos alunos concordam que o estudo é uma forma de ascensão social, mas muitos tem a barreira do dinheiro para conseguir concretizar esse sonho. Para Capelato, é preciso democratizar o acesso ao ensino superior por meio de políticas públicas para diminuir a desigualdade social do país.
“Menos jovens no ensino superior implica em uma maior vulnerabilidade social e menos capital socioeconômico no mercado, o que deve impactar na capacidade produtiva do país no futuro”.
O interesse dos jovens em ingressar no ensino superior têm aumentado a cada ano, segundo Verdolin. “A última edição do Enem é prova disso, com um aumento de cerca de 13% no número de inscritos em relação a 2022.”
A pesquisa deste ano também mostra que 66% dos participantes não são o primeiro a ingressar em uma faculdade.
“Na última edição da pesquisa esses dados se mantêm muito semelhantes, o que difere de dados históricos, uma vez que nos últimos anos ainda observávamos alto índice de estudantes sendo o primeiro da família a ingressar no ensino superior."
"A queda dessa estatística pode estar associada à ampliação do acesso aos estudantes de baixa renda, possibilitando a uma maior parcela da população o ingresso e a permanência no ensino superior,” diz Capelato.