Um estudo publicado na revista acadêmica "Computers in Human Behavior” mostra que interrupções como as notificações de mensagens levam a um aumento de até 27% no tempo de execução da atividade em andamento (d3sign/Getty Images)
Publicado em 5 de fevereiro de 2025 às 08h00.
Por Paula Esteves, Co-CEO da Cia de Talentos, diretora da ABRH Berrini e da ONG Instituto Ser+
Quem tem costume de lidar com o público mais jovem sabe que não é só ele que aprende conosco: nós, pessoas adultas, ampliamos nosso conhecimento por meio desse convívio. Acredito que isso também vale na relação com nossos filhos e filhas — posso afirmar que minha pequena Vitória me ensina algo novo cotidianamente.
Tendo isso em vista, estou curiosa para ver o impacto da lei sancionada agora, em janeiro, que proíbe o uso de celulares durante as aulas. Meu interesse tem a ver não só com o reflexo da mudança no aprendizado de crianças e adolescentes, mas como essa nova regra pode influenciar também pais, mães e todo mundo ao redor. Afinal, nós bem que poderíamos incorporar algumas boas práticas nesse sentido.
Não que eu defenda a proibição do aparelho nas empresas. Entendo que o celular pode, sim, ser uma ferramenta útil de trabalho e que ele facilita o nosso dia a dia em diferentes aspectos. Contudo, a verdade é que, por vezes, esse objeto que nos acompanha em tudo quanto é lugar também acaba sendo uma fonte de distração. Até porque ele foi projetado para tal finalidade e diversas pesquisas já comprovaram esse fato
Segundo um estudo publicado na revista acadêmica "Computers in Human Behavior", por exemplo, interrupções como as notificações de mensagens levam a um aumento de até 27% no tempo de execução da atividade em andamento.
Além disso, os pesquisadores Brian P. Bailey e Joseph A. Konstan mostraram que essas “interferências” elevam a chance de erros e, em certo grau, contribuem para o mau humor. É que a dupla identificou que, quando as pessoas são interrompidas pelas chamadas "tarefas periféricas", elas sentem de 31% a 106% mais irritação e experimentam o dobro do aumento na ansiedade. Ou seja, aquele aviso sonoro e/ou visual que surge o tempo todo na tela do seu celular não é tão inocente assim…
Diante dessa realidade, a minha proposta não é transformar as empresas em zonas livres de smartphones, mas adotar algumas medidas simples que podem melhorar nosso foco, desempenho e, consequentemente, resultados no trabalho. Algumas sugestões são:
Não tem jeito, as notificações foram criadas para chamar a sua atenção, por isso, o ideal é fazer uma varredura pelo seu aparelho, identificando quais são, de fato, essenciais e demandam sua resposta imediata. Lembre-se: nem tudo é urgente e precisa ser visualizado na mesma hora.
Introduza blocos de tempo dedicados exclusivamente a tarefas importantes, nos quais celulares e outras fontes de distração devem ser mantidos longe. Esse conceito, popularizado pelo autor Cal Newport, pode transformar a produtividade na sua organização.
Estimule pausas sem o smartphone para recuperar o foco e evitar a fadiga mental. Momentos offline podem ajudar a clarear as ideias, impulsionar a criatividade e elevar o engajamento, além de estreitar o vínculo entre as pessoas.
Ofereça workshops ou palestras para conscientizar as pessoas sobre os efeitos das distrações digitais e ensinar estratégias para manter a concentração em um mundo hiperconectado. Nesse sentido, a adoção de aplicativos de gestão de tarefas, como Trello ou Asana, ou de foco, como o Forest, podem colaborar tanto com a otimização do tempo, quanto com a redução de distrações.
Como de costume, a liderança desempenha um papel fundamental na transformação de hábitos dentro da empresa — e, neste caso, não é diferente. Evite usar seu aparelho em reuniões ou durante eventos importantes, essa é uma forma de demonstrar que você valoriza a atenção plena e o tempo das demais pessoas envolvidas na conversa.
Quem sabe se, com essas recomendações e a mudança nas escolas, não nos tornamos pessoas verdadeiramente conectadas. Uma conexão que vai além do mundo digital, mantendo os indivíduos atentos ao que acontece ao nosso redor, fora da telinha.