Cris Junqueira, do Nubank: Sem autoconhecimento, como é que você vai ser autêntico? Não é sustentável ficar tentando ser uma coisa pra algumas pessoas e outra pra outras pessoas (Nubank/Divulgação)
Leo Branco
Publicado em 19 de outubro de 2020 às 13h40.
Passar por dificuldades é um fato da vida. Independentemente do cenário, todos terão que encarar desafios na carreira e na vida pessoal mais cedo ou mais tarde. E é sobre como enfrentar esses momentos com inteligência emocional que a Cristina Junqueira, cofundadora do Nubank, fala em sua coluna desta quinzena. Veja:
Cristina – O fundamento da inteligência emocional é o autoconhecimento. É entender quem somos, quais são as nossas forças e fraquezas. Precisamos disso mais do que oxigênio para respirar. Quando você tem clareza das suas forças e limitações, fica muito mais fácil criar um plano de ação para se desenvolver e alcançar seus objetivos.
Sem autoconhecimento, como é que você vai ser autêntico? Não é sustentável ficar tentando ser uma coisa pra algumas pessoas e outra pra outras pessoas. Meu conselho é: busquem feedback, entendam onde vocês podem melhorar e tentem aprender o mais rápido possível, mas ainda sendo vocês.
Daqui até a eternidade, todo mundo tem coisas pra melhorar. Não é sobre a gente fugir disso. Quando a gente abraça essa realidade e se apresenta com coragem, é aí que a gente deixa uma marca no ambiente, nas pessoas, no trabalho, onde quer que a gente vá.
Cristina – Não dá pra dar conta de tudo. Ninguém consegue equilibrar todos os papéis de uma vez só. A gente precisa fazer escolhas conscientes e ser feliz com as escolhas que a gente fez.
Aí que o autoconhecimento e a inteligência emocional entram. Primeiro para entendermos nossas prioridades, fazermos as escolhas de acordo com isso e, depois, para ter a paz de espírito. Não adianta ficar sofrendo pelas coisas que você não fez. É fazer escolhas conscientes e viver com elas de uma maneira feliz.
Cristina – Não tem um grande segredo não, são aquelas coisas básicas mas que são difíceis de fazer na prática: eu tento dormir pelo menos sete horas por noite, me alimento de comida saudável e faço exercício três vezes por semana.
Saúde mental tem muita relação com as escolhas que a gente faz. Por isso, eu procuro me cercar de pessoas que me fazem bem e fazer atividades que também me fazer bem. Por exemplo, parei de assistir filmes e séries de terror, de drama ou de muita violência. A mentalidade é entender o que funciona pra você e fazer escolhas muito claras.
Cristina – Sempre busco usar os percalços para fazer diferente e superar. A realidade é que nada que vai te dar orgulho vai ser fácil.
Tem uma frase que eu sempre falo que é “se fosse fácil, estava feito”. É óbvio que vai ser díficil, mas não é impossível. As pessoas que conseguem são, justamente, as que encontram motivação para fazer apesar das dificuldades.
Aí que entra, de novo, a questão do autoconhecimento. Motivação não é linear e nem algo binário. Mas tendo ou não tendo motivação, você precisa ter responsabilidade com os compromissos que você assumiu.
Cristina – Todo mundo passa por momentos difíceis na carreira. Eu já tive, você já teve. Todo mundo tem. A nossa geração vai viver fácil até os 90, 100 anos com boa qualidade de vida. Isso significa que muitos vão continuar trabalhando até os 70, 80 anos. Se você começou a trabalhar com 20 anos, serão uns 50 anos de carreira. Nesse tempo, será que não vai ter um ano que não vai ser tão bom? Claro que vai.
O primeiro ponto é reconhecer que todo mundo passa por isso, aceitar o que está acontecendo e focar em encontrar qual é o caminho de saída daquela situação. A chave nesse momento é analisar o cenário, entender o que você pode e não pode controlar, e focar no que você pode controlar e no plano que você desenhou.
Adotei a filosofia Bob Iger, que foi CEO da Disney por quinze anos, sobre dificuldades na vida profissional. Ele sempre olha para uma situação difícil como um problema que ele tem que resolver, ele separa a questão emocional e olha com mais racionalidade para aquela questão.
Precisamos tomar uma decisão consciente de ser protagonistas otimistas das nossas vidas. Os protagonistas são as pessoas que resolvem e saem do momento difícil. Temos que ser pragmáticos para nos colocar no controle. Com certeza há algo que você pode fazer para sair dessa.
Recentemente, fiz uma palestra para o pessoal do Nubank sobre liderança e trabalhei com eles um poema do Walt Disney que tem tudo a ver com essa ideia de olhar com uma nova perspectiva para os problemas e com inteligência emocional. Vou compartilhar um trecho com vocês:
"Decidi olhar cada problema como uma oportunidade para encontrar uma solução.
Decidi olhar para cada deserto como uma oportunidade para encontrar um oásis.
Decidi olhar para cada noite como um mistério para solucionar.
Decidi olhar para cada dia como uma oportunidade para ser feliz".