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O que fazer se você for pego mentindo no currículo?

Graduação inventada ou inglês fluente: pesquisa revela que 65% dos jovens já inventou ou distorceu informações no CV

Personagens do filme Parasita, do diretor Bong Joon-ho (Divulgação/Divulgação)

Personagens do filme Parasita, do diretor Bong Joon-ho (Divulgação/Divulgação)

Luísa Granato

Luísa Granato

Publicado em 21 de julho de 2020 às 07h30.

Última atualização em 21 de julho de 2020 às 13h31.

Em “Parasita”, ganhador do Oscar de melhor filme do ano, o personagem Ki-woo forja um diploma universitário para conseguir um emprego como tutor de inglês. O jovem avisa ao pai que aquela não é uma mentira, ele ainda vai se formar e só imprimiu o certificado antes.

E na hora da entrevista de emprego, a Sra. Park, a dona da casa onde ele iria trabalhar, de cara já fala que não se interessa por documentos, o que importa para ela é a recomendação.

O caso da vida real ocorreu no mês passado: Carlos Alberto Decotelli, indicado para o Ministério da Educação, acabou não assumindo o cargo após a validade de seu mestrado e doutorado no exterior ser questionada.

Mentir no currículo é sempre um risco e a verdade pode vir à tona a qualquer momento. Segundo Wilma dal Col, diretora do ManpowerGroup, os mentirosos no Brasil contam com que as credenciais falsas nunca passem por grande escrutínio. Para ficar abaixo do radar, as mentiras não costumam ser tão grandes quanto no filme.

“Em geral, o que é mais habitual é uma informação não tão verdadeira. O idioma é o caso mais comum, em que tentam camuflar o nível de conhecimento. Colocam inglês intermediário, mas é básico, e na entrevista a pessoa fala que está enferrujada”, fala a diretora.

Segundo pesquisa da Fundação Mudes, 65% dos jovens já mentiu no currículo, inventando ou distorcendo informações.

No levantamento com 500 jovens, entre 18 e 29 anos, 50,1% já colocou informações falsas sobre conhecimento de idiomas e 25,2% sobre o domínio de softwares, como o pacote Adobe e Office.

Depois, 15,5% dos jovens colocaram competências e habilidades irreais no currículo e 11,9% deles sobre cursos extra.

A diretora da ManpowerGroup conta que o principal motivo por trás das mentiras é a ansiedade.

Como o currículo é o cartão de visita das pessoas, os profissionais têm a grande tentação de inflacionar o conteúdo na esperança de abrir mais portas ou ficar mais próximo dos requisitos colocados pelas empresas.

“A pessoas acredita que uma porta de oportunidade pode ser aberta para ela. É um equívoco, a mesma porta que pode abrir para entrar pode abrir para você sair de um processo”, fala ela.

Para Adriano Lima, especialista em carreiras e fundador da AL+ People & Performance Solutions, do mesmo jeito que não adianta responder que é perfeccionista como o maior defeito para o recrutador, as empresas também precisam abrir mão da ideia de perfeição entre os candidatos.

“Não concordo com mentir para ter espaço em uma seleção, mas não é totalmente culpa dos candidatos. Se o ambiente do recrutamento for mais transparente, diminui o nível de pressão e as mentiras nos currículos tendem a diminuir”, comenta ele.

O especialista acredita que a sinceridade seja um bom remédio para quem já mentiu no currículo: para se redimir e expor sua vontade de melhorar.

Novamente, ele reforça que nada justifica a mentira, mas fala que é ainda pior quando o candidato persiste nela ao ser descoberto e nem tenta se desculpar.

“Em um caso que aconteceu comigo: o trainee mentiu no CV dizendo que já estava formado. E ele ainda tinha duas matérias pendentes. A gente teve que excluí-lo do processo, pois ele persistiu na mentira. É difícil julgar o passado, mas acredito que as chances dele seriam melhores se assumisse o erro”, conta ele.

Para a diretora, é muito importante se desculpar, se colocar à disposição do recrutador e trazer sua razão para a mentira. Muitas vezes, um ponto do currículo não é a razão que levou o candidato a ser chamdo para a entrevista.

Ela relembra de um processo em que falava com o candidato e se virou rapidamente para trás. Quando olhou de volta, a pessoa estava chorando e perguntou se ela havia dito alguma coisa.

“Eu lembro muito da tristeza que senti quando a pessoa admitiu que era surda e tinha lido meus lábios desde o início. A informação foi omitida por medo de perder a chance. O recrutamento é uma via de mão dupla, não pode ter um lado só, precisamos compreender cada caso”, fala ela.

No lugar da mentira, o que colocar no currículo?

Se a pessoa mente, existe um vácuo ali. De oportunidade, de conhecimento ou de transparência. A primeira recomendação da executiva é óbvia: evitar a mentira. No entanto, ela aponta que é possível usar essa informação de forma útil.

Se o profissional identificou que falta alguma coisa no seu currículo, ele já determinou o caminho para trabalhar em cima de seus pontos fracos.

“Se você não tem a formação específica, o que mais pode trazer de sua experiência que enriqueça o documento naquela área? Pode ser um novo curso técnico online, trabalhos sociais ou um projeto que participou. Sempre há uma proposta positiva que pode colocar dentro do currículo. Nem sempre os requisitos mais específicos que a empresa colocou na descrição da vaga vão fazer a diferença na seleção”, explica ela.

A segunda recomendação da diretora é o networking. Não como todas a rede de recomendações baseadas em mentiras como acontece no filme “Parasita”.

A proposta da especialista não é procurar uma indicação, mas se conectar com profissionais que trabalhem nas empresas onde o profissional deseja tentar uma vaga para entender melhor quais são os requisitos necessários para entrar nelas.

“O networking é cada vez mais essencial. Pela internet, podemos conhecer melhor as organizações. E se inspirar nos outros, pensando no que tem a oferecer para focar em um currículo com mais qualidade”, diz ela.

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