Andrea Orcioli, CEO da Sephora Brasil: Sobre trabalhar para a Sephora lá fora, talvez. Não me bloqueio para as novas oportunidades novas (Sephora Brasil/Divulgação)
Repórter
Publicado em 12 de março de 2024 às 09h10.
Última atualização em 13 de setembro de 2024 às 17h23.
Muitas coisas estão deixando Andrea Orcioli, CEO da Sephora Brasil, otimista, como: inauguração de 5 lojas neste ano, aumento de vendas nos últimos anos, conciliação da família e trabalho e a possibilidade de apoiar outras mulheres por meio de sua carreira.
“Hoje eu entendo que as mulheres se inspiram em outras mulheres que alcançaram um cargo de liderança. Elas só precisam de oportunidades para chegarem lá”, diz Orcioli, que tem a mãe como principal inspiração de vida e a ex-CEO da Sephora, Flavia Bittencourt, como a inspiração de carreira.
A executiva que acabou em Publicidade na Unip e depois em Marketing pela Universidade da Califórnia, quando criança tinha um sonho muito diferente do que comandar uma multinacional de beleza no Brasil: ela queria ser bailarina.
“Eu era literalmente apaixonada pelo balé, eu realmente me dedicava e acreditava que eu ia ser uma bailarina profissional, mas em um determinado momento, na época da de entrar na faculdade, eu comecei a pensar no futuro de uma bailarina, em que eu teria que abdicar o sonho de ter uma família, afinal, eu viveria viajando e me apresentando pelo mundo”, diz a CEO. “Foi aí que eu percebi que eu queria ter raízes.”
Hoje o balé é apenas uma parte das atividades que a executiva faz para extravasar, mas Orcioli lembra das lições que essa arte trouxe e que a ajudam até hoje no mundo corporativo.
“Com o balé eu aprendi definitivamente a importância do trabalho em equipe, é uma dança que é fundamental ter sincronia. Aprendi também a confiar no outro, se eu te contar o momento que eu me atirava para as pessoas me pegarem, se elas não me pegassem ia ser um belo de um tombo e eu iria me machucar, mas eu me atirava, porque eu realmente confiava”, diz.
A dedicação e a disciplina também faziam parte de sua antiga rotina. “Quando você se compromete com uma tarefa, você é capaz de ir além, os limites não existem quando a gente tem realmente dedicação e disciplina. Aprendi tudo isso com o balé”, afirma a CEO.
Outra característica que ajudou Orcioli a chegar em um dos poucos cargos que uma mulher ocupa no Brasil é a autoconfiança, que ela diz ter herdado dos pais. “Eu tenho uma gratidão muito grande pela minha família. Durante toda a minha infância os meus pais me fizeram acreditar que eu poderia ser quem eu quisesse na vida. Se eu podia sonhar, eu seria capaz de realizar. É uma crença que me marcou e que eu acredito até hoje.”
O primeiro trabalho de Orcioli foi entre 18 e 19 anos. “Eu comecei em lojas de shopping em momentos de alta temporada tipo Natal, Dia das Mães, eu fazia aquele famoso trabalho temporário.”
O estágio apareceu na Avon e depois de quatro meses de estágio foi efetivada e passou pelas áreas de merchandising, pesquisa de mercado e marketing. Chegou a atuar na Unilever por 1 ano e 10 meses nas áreas de trade e gerenciamento por categoria, e depois voltou para Avon, onde ficou por um longo período trabalhando em marketing no Brasil e na América Latina. O próximo desafio foi a Sephora, onde Orcioli completa dez anos em setembro. “Cheguei na Sephora liderando as áreas de marketing e merchandising, e assumi a posição de presidente em abril de 2019. Tive muitos desafios no caminho, mas sou apaixonada pelo meu trabalho.”
Com exclusividade à EXAME, Andrea Orcioli comenta sobre a expansão dos negócios, os desafios que encontrou para conseguir chegar no cargo de CEO da Sephora Brasil e suas lições de carreira.
Quando eu olho para toda a minha carreira, o maior desafio que eu tive realmente foi a pandemia. Foi muito forte, porque para mim fazia menos de um ano que eu tinha assumido o cargo de presidente da Sephora Brasil.
Eu me sentia responsáveis pelas pessoas e por suas famílias em um momento muito difícil, mas consegui passar por essa fase com um trabalho incansável de todo o time, tive muito apoio da Sephora global e da LVMH.
Além do desafio do cuidado com os funcionários, eu também precisava expandir a companhia no Brasil. Imagine expandir as lojas físicas no Brasil quando se estava questionando a presença de pessoas nas ruas, mas foi algo que conseguimos fazer, considerando todos os protocolos de segurança, como foco em pessoas e tecnologia.
Podemos ver hoje o resultado do trabalho e ele é muito bom para o momento. Em 2020, mesmo com a pandemia, conseguimos um crescimento de vendas. Tivemos uma expansão prioritariamente e continuamos expandindo no Rio de Janeiro e São Paulo, mas também chegamos no Nordeste e Sul, e agora a meta é abrir cinco lojas por ano. Atualmente, estamos com 35 lojas no país, que eu costumo visitar bastante.
Tivemos uma fortaleza no nosso digital. Vimos que durante a pandemia cresceu muito a questão de autocuidado, que foi o conceito que alavancou as vendas.
Maquiagem continuou vendendo, mas durante 2020 e 2021, vimos um crescimento importante nas categorias de principalmente cuidados da pele e fragrâncias, era a busca do autocuidado emergindo.
Quando eu olho para toda a minha carreira eu digo que eu fui uma pessoa de certa maneira bastante privilegiada. Eu sempre trabalhei na indústria da beleza, é uma indústria majoritariamente feminina, por isso nunca precisei questionar o meu gênero.
Só que quando assumi a presidência na Sephora, eu fui para um evento que era um evento de lideranças do mercado, lembro como se fosse hoje. Quando eu entrei no evento era um almoço onde eu me deparei com apenas mais uma mulher como CEO, o restante era uns 30 homens presidentes de diferentes companhias. Na hora que isso aconteceu, ali caiu a ficha e me questionei onde estão as mulheres?
Eu sempre vivi com muitas mulheres a minha volta. Naquele momento eu percebi qual era o meu papel e sei que é de inspirar outras mulheres na liderança ou em qualquer outra cadeira que elas desejam assumir.
Para qualquer movimento que precisamos ou queremos fazer em relação à diversidade, equidade e inclusão, precisamos ter a intencionalidade. Não existe mudança se não houver a intenção, então metas são fundamentais.
Por isso, sim, temos uma intenção, inclusive no ano passado abrimos a área de diversidade, equidade, inclusão, e trouxemos uma gerente para cuidar dessa área com mais atenção.
A nossa meta é refletir a população brasileira dentro da do nosso escritório e dentro das nossas lojas. Por isso, uma meta muito clara para esse ano é de atingir pelo menos 50% da nossa população de pessoas negras e 6% de pessoas com deficiência.
Hoje a gente já está em 40% de pessoas negras no time, mas até o fim do ano a gente quer atingir os 50%.
Mulheres já representam hoje 74% do nosso time, aonde 60% da nossa liderança são mulheres, e quando eu vou para o time de diretoria, 50% são mulheres.
Para mim foi fundamental, eu volto no tema de como eu fui educada e do apoio que eu tive dos meus pais, porque eu acho e essa crença de autoconfiança que eu tenho foi fundamental.
Por isso, o conselho que eu posso dar é: cuide dessa relação com você mesmo.
Quando escuta pessoas trazendo frases como “você não vai conseguir”, comigo não funciona, porque hoje eu sei que a outra pessoa está trazendo um limite que é baseado nas vivências dela. Ela não sabe o que eu passei na minha vida e as minhas experiências para poder colocar algum limite em mim.
Acho que a contemplação da natureza é o meu hobby. Eu sou aquele tipo de pessoa que acorda cinco horas da manhã para ver o nascer do sol. Eu sou aquela pessoa que rega e conversa com as plantas. Eu amo ir para praia e andar horas na areia. Amo fazer essa troca de energia com a natureza, porque são nesses momentos em que eu tenho muitas ideias, inclusive para o trabalho.
Quando eu penso na vida profissional tem várias, mas a mulher que mais me inspira e me inspirou na minha vida toda, é a minha mãe, eu não poderia trazer outra pessoa.
Meu pai faleceu quando eu tinha 15 anos. O meu irmão menor tinha 13 e a minha irmã maior tinha 17 anos. Obviamente até aquele momento tivemos uma infância muito feliz, mas depois foi um momento muito difícil, em que a minha mãe teve que nos criar sozinha, então, ela é até hoje a minha inspiração.
Como eu vivi e cresci nesse ambiente feminino, eu tenho várias mulheres que eu admiro, mas tem uma que marcou a minha carreira. O nome dela é Flavia Bittencourt, hoje ela está na Adidas e foi a pessoa que me trouxe para Sephora. Tenho uma admiração profunda por ela, porque ela é uma líder muito cheia de energia, é uma potência. E ela era a presidente da Sephora Brasil e da América Latina antes de eu virar a presidente do Brasil e o convite para eu ocupar hoje a cadeira da presidência veio dela.
Fiquei muito feliz com o convite, claro que aceite de cara, mas não posso negar que foi um momento de muita insegurança, porque não era só eu que admirava a Flávia, era a Sephora inteira.
Eu me vi em um momento muito estressante em que eu ficava me questionando como que eu ia substituir a Flávia. Até que em uma reunião, em que eu conversei com um alto executivo do LVWH, acabei não só agradecendo pela oportunidade, mas também dividindo essa minha inquietude em relação a substituir a Flávia. Lembro que ele me falou uma frase simples, e que fez toda a diferença para mim naquele momento: “Andrea, ninguém substitui ninguém, você simplesmente vai continuar o seu caminho e agora você vai trazer a liderança da Andrea para a Sephora Brasil.” Era uma simplicidade que eu não estava conseguindo enxergar, mas que me tirou um peso para seguir com a minha carreira e com o meu jeito de liderar.
Com certeza eu realizei o seu de casar e ter filhos. Estou com o meu marido há mais de trinta anos, trabalhamos muito bem em equipe, um apoio o outro com os seus sonhos.
Tenho dois meninos e já passei por aquele momento de querer ser a supermulher - de querer ser espetacular no trabalho, na carreira, de querer ser a supermãe, de querer ser a melhor em todas essas partes da minha vida, e no fim do dia a gente não consegue.
Aprendi, então, a fazer escolhas. Tive momentos de muita cobrança e de muita culpa por toda essa trajetória no trabalho, mas aprendi a ser feliz com as minhas escolhas. Quando eu cheguei nesse momento de maturidade me aliviou muito. Então, volto a dizer, precisamos sempre cuidar da gente e ter essa clareza das decisões.
A pandemia me trouxe um outro olhar sobre como levar trabalho e vida pessoal. Com o home office, eu tive aqueles momentos de almoço e de jantar em família, cheguei a levar meus filhos para escola, coisas muito pequenas que se a gente parar para pensar, são enormes e tem um valor enorme em nossas vidas.
Dentro de toda a dificuldade que tivemos durante a pandemia, esse foi um lado que me abriu os olhos e que me deu muita clareza das prioridades que eu preciso ter na minha vida e hoje eu não abro mais mão de ficar longe desses momentos. Eles são fundamentais para minha felicidade e por isso que apoio o modelo híbrido, de acordo com as atividades.
Por exemplo, no escritório trabalhamos dois dias no presencial e três dias em casa e esses dois dias em que trabalhamos no escritório todo mundo vai – só nas lojas que o 100% presencial é necessário, e busco sempre visitar o time.
Eu sou apaixonada pelo que eu faço e pela Sephora também. Estou amando ser CEO, é um cargo generalista, em que você pode apoiar e ver crescer profissionais de diferentes áreas, além de olhar o negócio em 360 graus.
Sobre trabalhar para a Sephora lá fora, talvez. Não me bloqueio para as novas oportunidades novas.
Mas quero e gosto de atuar como uma líder: Para mim líder tem que ser próximo, se você está próximo das pessoas, se você tem transparência, se você coloca as pessoas nos lugares certos, se você delega para as pessoas que são expert naquilo que elas fazem, o resultado vem, porque o resultado vem por meio delas.
Não podemos abrir o faturamento, mas posso adiantar que como exemplo que nos últimos 5 anos, mesmo com a pandemia, nós mais que triplicamos o negócio no Brasil. Seguimos otimistas como os resultados deste ano.