Ilustração - Trabalhadores (Denis Freitas/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 19 de março de 2013 às 15h22.
São Paulo - Seria uma grande ousadia afirmar que sabemos o que os jovens querem. Muitas vezes, nem eles próprios sabem o que desejam. Por si só, a transição para a vida adulta já não é dos momentos mais simples. A passagem envolve muito mais do que a conquista de um bom emprego.
Pouco a pouco, a moçada vai dando os primeiros passos rumo à independência pessoal e financeira. Esse é o momento de afastar os móveis e limpar a área para, finalmente, conquistar um espaço na sociedade — e, claro, no mercado de trabalho. Com a ajuda dos 7 717 jovens que responderam à pesquisa Melhores Empresas para Começar a Carreira, tentamos desvendar os anseios e as frustrações dessa turma em relação à carreira.
No início, a ansiedade é por colocar em prática tudo o que aprendeu após pouco mais de duas décadas de vida, exercitando seus talentos e valores. A empresa também pode ajudar o jovem a mergulhar nas próprias potencialidades. Nesse caso, a palavra-chave é autoconhecimento.
E quem nunca abraçou uma vaga esperando um milhão de oportunidades interessantes e depois percebeu que o caminho não seria tão simples? A ansiedade desse pessoal pelos altos cargos tem fundamento. Da engenharia à criação publicitária há muitas nuances, mas apenas um grande ponto em comum. “Essa geração é essencialmente relacional e, principalmente, multitarefa”, diz Sandra Cabral, diretora de desenvolvimento da Cia de Talentos.
Leem notícias na internet, fazem pesquisas, trocam e-mails, postam no Facebook, reclamam no Twitter de serviços mal prestados, sobem fotos no Instagram (rede social de fotografias por dispositivos móveis) e, mesmo com todas essas atribuições, trabalham. E trabalham muito. “Se você conseguir fazê-lo enxergar o que o trabalho dele significa e como ele é importante para o todo, você terá um funcionário que vira a noite focado em resultados”, diz Sandra.
Para se sentir realizada com as escolhas profissionais, a galera tem sido cada vez mais exigente. Não basta ter um chefe: ele só terá legitimidade se for coerente e, principalmente, der o exemplo. Manda quem pode, obedece quem tem juízo? Não para essa turma. “Ela respeita a pessoa que está ali e as atitudes dela.
Com essa turma, a ‘carteirada’ não funciona”, afirma Sandra. Mais do que isso, os jovens de hoje não toleram relações de trabalho nas quais não haja uma troca clara.
“Eles também são compromissados com si próprios e fazem questão de um ambiente estimulante”, diz Joel Dutra, professor do Programa de Estudos em Gestão de Pessoas (Progep), da Fundação Instituto de Administração (FIA), e corresponsável, juntamente com a Cia de Talentos, pela metodologia da pesquisa que deu origem a este guia.
Essa virada no jogo é fruto da lei da oferta e da demanda, em que o mercado de trabalho já sente as dificuldades da falta de mão de obra em diversos setores da economia. “Entender como atrair e reter esses jovens é uma questão crítica”, diz Joel.
Principalmente nas áreas técnicas, como engenharia civil, as companhias estão se vendo obrigadas a investir. A organização precisará aplicar tempo e dinheiro nos jovens e, por isso, busca identificar quais candidatos têm mais “química” com a empresa, como defende o professor da FIA.
A galera também está antenada no posicionamento da companhia no mercado. Joel afirma que, para evitar dissabores, a pesquisa informal é fundamental. “A pessoa tem de se informar, mas, principalmente, conversar com gente que trabalha na empresa”, afirma. Mesmo assim, a pergunta continua sendo ousada: “Afinal, o que querem os jovens?”. Confira a seguir.
Desenvolvimento
O maior foco da galera está no aprendizado e no desenvolvimento profissional e pessoal. Segundo nossa pesquisa, 19,9% dos jovens acreditam que a boa empresa oferece chances de evolução. Para Isabel Arias, presidente da Satôria Dedicare, especializada em gestão de carreiras, de São Paulo, a oportunidade de aprendizado e desenvolvimento caminha junto com a aceitação do jovem como um profissional integral.
“Ter oportunidade de estar no estratégico da organização e ter suas opiniões ouvidas são itens diretamente ligados ao aprendizado”, diz a especialista, que aconselha a quem está começando mostrar as habilidades aos poucos, para ser mais assertivo nas sugestões.
Conhecer e entender diferentes culturas empresariais e sociais também é importante, assim como a possibilidade de trabalhar fora do país — que encanta 74,9% dos jovens. No entanto, apenas 66,7% das organizações têm programas de movimentação internacional efetivos.
Equilíbrio
A turma que entra hoje no mercado de trabalho precisa atuar em diversas frentes além da profissional. Família, amigos e hobbies, somados ao excesso de trabalho, fazem com que os jovens se sintam sobrecarregados. Por isso, a possibilidade de equilibrar a vida pessoal e o trabalho é o fator de maior relevância para 12,1% dos entrevistados na pesquisa do Guia VOCÊ S/A – As Melhores Empresas para Começar a Carreira.
“Eles não estão dispostos a sustentar as rupturas forçadas pelo excesso de trabalho”, diz Carmen Rittner, professora de psicologia organizacional e do trabalho da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Para identificar uma empresa adequada a essa nova preocupação é preciso observar se as necessidades pessoais do jovem estão entre as prioridades da organização. Carmen aponta que o equilíbrio interage diretamente com a autoestima do funcionário. “Quem vive diversos papéis tem mais criatividade”, diz a professora.
Salário
Tão desafiador quanto promover o desenvolvimento é acertar na remuneração. Carreiras diferentes trazem diversas possibilidades de salário e benefícios, e essa é a preocupação de 12,4% dos jovens quando elegem uma boa empresa para começar. A remuneração é relevante quando o assunto é retenção. Para quem prefere ficar onde está, mas não está satisfeito com o salário, não há momento certo para negociar mudanças de salário.
Os convites do mercado acabam criando ocasiões perfeitas para novas investidas. “Se o jovem recebe uma proposta de emprego cujo salário é superior, esse pode ser o momento certo de buscar uma negociação”, afirma Andréa Leite, mestre em administração e professora do curso de gestão de recursos humanos da Universidade Metodista de São Paulo, em São Bernardo do Campo, que ressalta, no entanto, que grandes organizações têm investido na recolocação interna dos profissionais para evitar a rotatividade.
Crescimento profissional
O crescimento profissional está na mira de 11,1% dos jovens consultados pela pesquisa — o que vai além do aprendizado e do desenvolvimento. Quando a turma pede oportunidade de crescimento profissional, ela está falando de espaço para ampliar seus ganhos, subir de cargo e atingir posições estratégicas.
A maturidade comportamental é apontada por Paulo Alvarenga, presidente da Crescimentum, firma de coaching profissional de São Paulo, como o principal desafio para a nova geração de profissionais. “As habilidades de relacionamento e de liderança vêm somente com o tempo”, diz.
No entanto, a empresa pode colaborar nessa jornada até a liderança. Uma das formas é orientando adequadamente os líderes sobre como receber essa turma dentro da companhia. Por isso, organizações que hospedam programas de trainee tendem a conduzir melhor essa trajetória lado a lado com a moçada. “Esses caras entregam resultado e fazem acontecer. Vale a pena investir na formação e no crescimento deles”, afirma Paulo.
Reconhecimento
E ntre os pesquisados, 10,7% entende que uma boa empresa para trabalhar é aquela que reconhece o esforço da galera. No entanto, erra quem acredita que, para essa turma, basta o dinheiro no bolso.
Para o jovem é imprescindível que ele seja ouvido e, principalmente, levado a sério. “A grande expectativa desse cara é se provar e provar que ele é capaz de realizar projetos para a companhia”, afirma Marco Túlio Zanini, professor da Escola de Administração da Fundação Getulio Vargas no Rio de Janeiro.
O jovem não gosta e não pretende se sentir apenas mais uma engrenagem dentro da organização. “Geralmente ele perde seu brilho quando se sente substituível, e isso acaba com sua potência de realização.” Potência de realização, esse é o principal atributo da turma mais nova que deve ser observado e aproveitado pelas empresas.
Para isso, é fundamental que as organizações apontem o quanto ele está contribuindo para o crescimento do negócio e — o mais importante — sinalizem qual o caminho para agregar ainda mais valor ao trabalho.