O dia a dia dos negócios mostra que o principal fator de impacto na performance é o contexto interno e externo da organização (Shannon Fagan/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 10 de abril de 2025 às 17h45.
Por Tiago Vargas, presidente da Dentsu Brasil
Enquanto escrevo essas linhas, Nasa e SpaceX concluem com sucesso a missão de trazer de volta à Terra dois astronautas que ficaram “presos” em órbita por quase nove meses — a previsão original era de apenas dez dias. O motivo da estadia prolongada foi o mau funcionamento da espaçonave da Boeing (concorrente da SpaceX), que, por motivos de segurança, não pôde retornar à Terra com os tripulantes.
Se é difícil dimensionar a magnitude desse desafio — tanto pela ótica dos profissionais retidos no espaço quanto dos responsáveis por resgatá-los —, penso nas metodologias de trabalho tão distintas que regem esses dois ícones da corrida espacial e suas implicações no alcance da alta performance.
A Boeing adota uma metodologia que prima pela efetividade, segurança e previsibilidade. A espaçonave Starliner teve todo o seu desenvolvimento planejado previamente, com o resultado definido desde o início (uma abordagem próxima ao modelo PMBOK). Já a SpaceX opera com uma metodologia mais aberta e ousada, inspirada na lógica Ágil — não há um projeto completo definido, mas sim etapas que são realizadas, testadas e servem de aprendizado para as fases seguintes. Criatividade, flexibilidade e inovação são os principais ganhos.
Duas organizações bem-sucedidas, duas trajetórias vitoriosas. Qual delas tem o melhor método? Depende. A tentação de responder com base apenas em manuais ou modismos deve ser evitada. A sedução de palavras como “efetividade” (Boeing) e “inovação” (SpaceX) pode mais atrapalhar do que ajudar.
O dia a dia dos negócios mostra que o principal fator de impacto na performance é o contexto interno e externo da organização. Vejamos: uma companhia em crise, inserida em um cenário econômico estável, deve priorizar a inventividade ou a segurança? E uma empresa próspera em um setor que vive disrupções? Pode repetir sua fórmula ou precisa se arriscar?
São perguntas complexas, com respostas que parecem óbvias — mas não são. Há muitas variáveis em jogo.
No universo das agências de comunicação, existe ainda uma camada a mais. O valor da inovação, por exemplo, é diferente para um cliente que vende produtos e outro que oferece serviços. No primeiro caso, estar na vanguarda pode ser uma questão de sobrevivência na transformação digital. No segundo, a estabilidade garante entregas bem-feitas mesmo em cenários adversos.
Resumindo: uma agência precisa comportar tantas abordagens quanto os perfis de seus clientes. A metodologia deve servir à empresa — e não o contrário.
Por isso considero a sabedoria corporativa um ativo tão valioso. Ela vai além de teorias, fórmulas e conceitos. Pode vir dos times, das lideranças, do conselho — ou de todos juntos — e possibilita a compreensão e o manejo da realidade interna e externa. Esse saber organizacional é fruto de uma construção longa, única e intransferível. O que serve para umas empresas, não faz sentido para outras.
O que serve para todas as organizações, no entanto, é cultivar um ambiente favorável à sabedoria corporativa. Ela cresce em empresas com modelos operacionais bem definidos, processos de gestão eficazes (sem excesso de burocracia), objetivos claros e compartilhados, e boa capacidade de adaptação.
A soma dessas qualidades, mais do que qualquer metodologia, é o que guia as empresas para decisões sábias e para a alta performance.