Ilustração do filme "O Pagador de Promessas" (Dave Santana / VOCÊ S/A)
Da Redação
Publicado em 11 de agosto de 2014 às 14h37.
São Paulo - Durante muitos anos, o único filme brasileiro premiado num grande festival de cinema foi O Pagador de Promessas (1962). Dirigido por Anselmo Duarte, o longa-metragem ganhou a Palma de Ouro em Cannes.
No roteiro, o personagem principal, Zé do Burro (interpretado por Leonardo Villar), para salvar a vida de seu amado burro, promete numa sessão de candomblé que carregará uma cruz até a catedral de uma cidade vizinha. Após arrastar a cruz pela estrada, Zé do Burro é barrado na porta da igreja onde cumpriria a promessa.
O padre justifica a proibição dizendo que o motivo (animal doente) e o local (terreiro) do juramento impedem sua realização. O fim é triste, pois Zé do Burro, manipulado por vários grupos interessados em se promover à custa dele, é morto. A cena final mostra o personagem amarrado à cruz sendo levado à força para dentro da catedral.
O ponto importante aqui é um valor que definha em nossa sociedade: o ato de cumprir o que se promete. Esse valor foi sempre muito importante em nossa vida. Qualquer dúvida entre crianças e adultos era resolvida pela pergunta direta: “Você me promete?” Promessa era dívida. Quem não a cumpria criava a imagem de falso, incompetente, desleal e mentiroso.
Os tempos mudaram e, muito por culpa de nossa classe política, as promessas ficaram cada vez mais superficiais. Por serem sempre descumpridas sem remorso, foram cada vez menos cobradas. Ao observar o mundo dos negócios, podemos ver como o fenômeno da falta de credibilidade das promessas está instalado em nossa vida diária.
Discutem-se promessas de consecução de objetivos, de qualidade de produtos e serviços, de atenção com os funcionários. Prometer é hoje uma forma de terminar a conversa com uma afirmação que, por definição, não vai ser cumprida — e pior — nem cobrada. A promessa se tornou uma mentira socialmente aceita. Um horror.
Esse é um dos valores de nossa sociedade que devem ser resgatados. Precisamos valorizar nossos compromissos e ser cobrados de sua realização. Trata-se de um necessário esforço individual que tomará uma dimensão coletiva.
Outra parte importante é a cobrança. A força e a pertinência do ato de cobrar são o que motiva o pagamento da promessa. Seja mais idôneo e não assuma responsabilidades para desviar o assunto ou para ganhar tempo. Promessa é dívida. Cobrar é um direito.