Nubank: engenheiros são um quinto da força de trabalho na empresa (Nubank/Divulgação)
Camila Pati
Publicado em 29 de setembro de 2017 às 06h00.
Última atualização em 29 de setembro de 2017 às 09h31.
São Paulo – Profissionais dos mais requisitados no Nubank, todos os engenheiros de computação passam por um teste prático durante o processo seletivo. Nele, os candidatos a oportunidades precisam resolver um exercício de desenvolvimento de código de programação e espera-se mesmo que eles não consigam resolver.
Não saber não significa ser cortado do processo de cara, diz Edward Wible, cofundador e CTO da empresa, já que são utilizadas linguagens de programação bem pouco conhecidas no Brasil. O que será avaliado é menos o domínio prévio da linguagem A ou B e mais a capacidade de aprendizado demonstrada pelo engenheiro.
Mas não foi sempre assim. A seleção era mais estressante, revela Wible. “Historicamente a gente tinha uma postura um pouco mais dura com o candidato, de exigir que ele nos mostrasse o que podia fazer. Hoje em dia estamos tentando ser mais 'amigos' dos candidatos, porque dizer ‘senta lá e prova para mim’ resulta numa experiência negativa”, explica.
A mudança veio após feedbacks negativos sobre a atitude do banco com quem tentava entrar para seu quadro de funcionários. “Essa postura desafiante foi algo estranho que aconteceu no nosso processo de seleção e que não ajuda”, diz o cofundador e CTO.
Além da postura durante a seleção, o exercício também foi simplificado, segundo Wible. “O exercício está vindo mais simples porque a gente sabe que as pessoas têm várias coisas para fazer e não dá para tirar duas semanas e focar só o exercício. O que estamos fazendo é um exercício menor, mais simples, mas que seja alguma coisa que represente o trabalho que a gente faz”, conta.
O candidato tem duas semanas para resolver e pode tirar dúvidas com engenheiros da equipe do Nubank. “Não tem muita pressão. Tem várias pessoas que não completam, mas tem bastante gente que completa”, afirma. Vale destacar também que a correção do exercício é "cega", feita por uma equipe examinadora que não recebe qualquer referência de nome ou outros dados pessoais do postulante à vaga.
O estagiário de engenharia de software, Leonardo Iacovini, 21 anos, conta que pôde escolher entre três opções de linguagem de programação e que, das três, só conhecia (e pouco) uma delas. Nem foi essa a escolhida. “Acabei fazendo em Clojure mesmo. Nessas duas semanas tinha que aprender, fazer e tirar dúvidas. O bom é que tinha esse contato com os engenheiros do banco”, lembra.
A engenheira de software, Isabela Gonçalves, 27 anos diz que foi avisada que saber programar nas linguagens do exercício não era requisito da seleção porque sabe-se que são pouco conhecidas. E ela não conhecia mesmo.
“Eu tinha emprego e trabalhava durante o dia e estudava de noite para tentar fazer o exercício, porque, como não conhecia, tinha que estudar. Acabou dando certo e consegui fazer ainda que eu não ache que tenha sido o melhor uso da linguagem”, conta Isabela.
Vitor Olivier, 28 anos, líder da engenharia de finanças do Nubank, é um dos veteranos da equipe de engenheiros diz que a proposta da seleção tem tudo a ver com o dia a dia de trabalho na fintech.
“A gente quer dar tempo, ferramentas e o suporte para o candidato conseguir aprender no processo seletivo e se desenvolver. No final ele vai sentir que não só entregou algo que já sabia. Realmente criou uma ferramenta nova. E o nosso dia a dia é isso”, diz.
Gostar de trabalhar com novas tecnologias, de resolver problemas novos, criar novos produtos. Não é à toa a repetição do termo “novo” entre os funcionários do Nubank.
“Hoje eu não consigo dizer o que eu vou fazer daqui a seis meses na empresa, e isso foi verdade nos últimos 3 anos e meio que eu estou aqui”, diz Olivier.
Para ele, aliás, o aspecto é inovador um dos motivadores para fazer carreira por lá. “É aquele sentimento que você está sempre evoluindo, sempre aprendendo”. No entanto, Oliver não hesita em dizer que é o propósito do seu trabalho, o que tem mais peso na sua satisfação profissional.
Ele conta que o impacto de uma revolução do sistema financeiro é o aspecto mais sedutor do Nubank. “Com a eficiência que a gente traz nesse mercado eu vejo que a gente consegue mudar o país”, diz.
Foi essa aposta que fez com que ele largasse uma carreira mais tradicional num banco de investimentos e investisse na proposta de uma fintech em fase embrionária, há três anos e meio.
“Eu falei esses caras (David Vélez, CEO do Nubank e o cofundador Edward Wible) um dia vão aparecer na capa da Exame, então tenho que conhece-los pelo menos para contar uma história”, disse.
Além de inovação e propósito, o que também aparece no discurso dos engenheiros do Nubank é poder participar das decisões da empresa. “Para mim o mais legal é estar sempre envolvida em tudo desde o início. E algo muito relevante eu poder ter voz e não só ser uma pessoa que está digitando um código”, diz.
Leonardo conta que nem se sente um estagiário, tamanha a participação que tem em reuniões, projetos e na tomada de decisão dentro do seu time. “Você tem muita liberdade mas tem muita responsabilidade também. Isso é importante porque faz você crescer. Sinto que eu cresci muito profissionalmente depois que comecei aqui”, diz.