Novo workaholic: se entrega de corpo e alma aos projetos da empresa, esquecendo até mesmo de que tem uma vida pessoal fora dali (Cristiano Mariz/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 19 de março de 2013 às 11h28.
São Paulo - Você planejou um almoço com a família durante uma semana e, quando chega o dia, seu chefe o convida para almoçar informalmente, assim como convida a outros dois funcionários que estavam por ali na ocasião. Você, então, cancela o compromisso familiar, num piscar de olhos, por uma necessidade de não recusar o convite da chefia.
Se a situação acontece uma vez, tudo bem, mas se já faz alguns meses que você perde a happy hour com os amigos, os fins de semana e também as férias com a família, é possível que seja um profissional "supercomprometido". A expressão, utilizada pelo psicólogo do Laboratório Fleury, Thiago Pavin, caracteriza um perfil profissional muito comum nos dias de hoje.
Trata-se daquele indivíduo que se entrega de corpo e alma aos projetos da empresa, esquecendo até mesmo de que tem uma vida pessoal fora dali. As pesquisas do Fleury mostram que o supercomprometido é provavelmente um workaholic, mas com algumas particularidades, pois ele não está sempre estressado e pode reagir muito bem a alguns pedidos da organização, se sentindo motivado e realizado.
Além disso, costuma se tratar de um estágio mais passageiro, durante um projeto específico ou relacionado a uma meta que ele deseja muito atingir. "O supercomprometido gerencia sua vida em torno do trabalho, mas espera mais do que ninguém ser reconhecido por esse esforço", diz Thiago.
Muitos profissionais costumam manifestar esse tipo de problema porque têm dificuldades pessoais de antemão. "Geralmente é uma pessoa que tem uma relação um pouco sofrida com os filhos ou cujo casamento não vai muito bem", diz o psicólogo.
Há diversos casos de profissionais supercomprometidos que acabam se esquecendo de importantes compromissos pessoais. Como Homero Mateus Fonseca Junior, de 45 anos, gerente de vendas da filial de Brasília da Netsolutions. "Fui ao Rio de Janeiro trabalhar em um projeto e fiquei cinco dias sem sair de dentro da companhia. Acabei esquecendo que, no meio de um desses dias, seria o meu noivado."
Ele não somente tomou uma bronca da companheira, como foi abandonado por ela. Dez anos depois, ele ainda reconhece sua dedicação excessiva, mas procura controlar a agenda para evitar sobrepor as prioridades do dia.
Entretanto, se desligar do trabalho ainda é difícil para ele. "Acho que os problemas da empresa precisam ser respondidos sem demora. Evidentemente, ser supercomprometido tem lá seus desconfortos, mas também surte bons efeitos", diz Homero.
O supercomprometido até relaxa em períodos mais tranquilos, mas, ao menor sinal de aumento da demanda, é o primeiro a vestir a camisa da corporação e a perder o senso crítico a respeito do volume de trabalho assumido. Está sempre sededicando bastante, até mesmo desmarcando compromissos pessoais.
Porém, se não é valorizado, fica estressado e sente um vazio. O grande problema desse perfil é que, na maioria das vezes, ele não percebe que a escolha de ficar além do horário é da pessoa.
E, quanto mais se esforça, mais provável que adoeça, apresentando uma série de sintomas, como diminuição da eficiência do sistema imunológico, problemas cardiovasculares, podendo causar infarto ou acidente vascular cerebral (AVC) em pessoas com fatores predisponentes, crises de asma e diminuição da produtividade no trabalho, pois o estresse crônico prejudica a criatividade, a memória, a atenção e a capacidade de gerenciar relacionamentos interpessoais.
Katilen Marcondi, de 31 anos, fazia hora extra todos os dias na multinacional de tecnologia em que trabalhava. "Eu perdia encontros com família e amigos e fiquei com problemas de saúde.
Passar mal no escritório era uma rotina e acabei emagrecendo 7 quilos", diz. Custou até que ela mudasse de emprego. Mas, em 2006, ela foi contratada pela Elektro, onde atualmente é coordenadora de logística. Lá, às 18 horas o ar-condicionado e as luzes são desligados para que todos se lembrem de que o expediente se encerrou. Com a mudança na cultura empresarial, ela foi buscar realizações pessoais.
"Comecei a fazer cursos depois do trabalho, voltei a malhar e dou mais atenção ao meu marido", diz a executiva. Incentivar o lazer, o esporte e a alimentação saudável é uma prática cada vez mais adotada pelas corporações para impedir que os profissionais desequilibrem a balança da produtividade e estresse.
Mas o limite tem de partir do próprio funcionário, compreendendo que não é o fim do mundo recusar um convite de almoço do chefe ou ir para casa ao terminar seu expediente. "Reflita sempre sobre a importância de equilibrar vida pessoal e profissional.
Você pode começar se inspirando em um colega ou alguém famoso que saiba manter esse equilíbrio", diz Thiago, psicólogo do Laboratório Fleury.