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Coelho, o homem que conduz os negócios do Google no Brasil

O principal executivo do Google no Brasil, Fábio Coelho, falou com a VOCÊ S/A sobre as conquistas e as novas oportunidades da empresa

Fábio Coelho, na sede do Google, em São Paulo: ambiente de alto desempenho (Omar Paixão/Você S/A)

Fábio Coelho, na sede do Google, em São Paulo: ambiente de alto desempenho (Omar Paixão/Você S/A)

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José Eduardo Costa

Publicado em 25 de agosto de 2013 às 12h59.

São Paulo - Fábio Coelho, o principal executivo do Google no Brasil, dobrou o faturamento e o número de funcionários no país, ampliou a relação da empresa com o setor público e modernizou o escritório de São Paulo. Os próximos desafios: encontrar gente com o perfil adequado para triplicar o faturamento da empresa de tecnologia em quatro anos 

VOCÊ S/A - Como você se autoavalia desde que assumiu a presidência do Google?

Fábio Coelho - Eu vou cumprir dois anos e meio no comando do Google no Brasil e nesse período a empresa mais que dobrou de tamanho, nosso negócio cresceu mais de 100%.

Nosso quadro de funcionários também dobrou. Viemos para um escritório maior, onde a gente pôde acomodar as pessoas de maneira que elas possam ser mais eficientes e se sentir bem.

A gente começa a mostrar que o YouTube vai ao encontro daquilo que a geração C (geração que está conectada, compartilha e comenta) mais busca, que é conectividade, capacidade de compartilhamento e consumo de conteúdo não linear a hora que quiser.

VOCÊ S/A - Quais foram suas realizações?

Fábio Coelho - Estamos mais próximos do governo brasileiro e vendo como podemos ter um papel mais relevante em transformar o Brasil num país digital. Temos mais de 20 canais de comunicação de diferentes órgãos do governo federal no YouTube, desenvolvemos mais aplicativos para o setor público. Temos um papel enorme de auxiliar as pequenas e médias empresas na sua digitalização.

Apenas 2% delas utilizam nossas plataformas como uma ferramenta para transcender sua abrangência local e para se tornar empresas globais, abertas 24 horas todos os dias. Temos um trabalho para quadruplicar o número de pequenas e médias empresas na internet, utilizando os serviços do Google.

Quando olho as parcerias que estabelecemos no setor público, a aceleração do YouTube, que atrai mais gente e anunciantes, e a possibilidade que temos com os pequenos empreendimentos, fico contente com o trabalho feito até agora.


VOCÊ S/A - Como se vê quando se compara com seus antecessores? Fábio Coelho - Tanto o (Alexandre) Hohagen quanto o Alex (Dias) são excelentes executivos, que tiveram uma contribuição importante no Google. Momentos diferentes exigem atitudes diferentes, às vezes da mesma pessoa. Eu prefiro não estabelecer um comparativo com meus antecessores.

Eu sou um profissional que passou nove anos nos Estados Unidos, participou do movimento de digitalização, do entendimento de como as empresas passam para o digital. Fui presidente nos Estados Unidos da parte de internet da telefônica AT&T, uma grande empresa americana que teve de aprender a operar na web.

A experiência me ajudou a compreender essa transformação de mercado. No Brasil, as empresas cada vez mais precisam do entendimento do mercado digital. A economia brasileira já não está tão boa como há três anos. Isso exige um executivo mais orientado para resultados.

VOCÊ S/A - Por que você cita o YouTube como uma realização?

Fábio Coelho - O YouTube vai ao encontro da necessidade que as pessoas têm de interagir e de participar. Hoje em dia, ninguém quer ser só consumidor de conteúdo. As pessoas querem consumir mas também querem produzir, comentar e compartilhar.

Não há na internet uma plataforma de conteúdo melhor para o brasileiro. O YouTube é extremamente audiovisual e permite fazer todo o resto num ambiente móvel, que é o celular, o notebook, o tablet. O usuário pode consumir conteúdo de uma biblioteca enorme de vídeos.

São disponibilizadas a cada minuto 100 horas de vídeo por 1 bilhão de usuários. É um tremendo repositório de informações do mundo. Claro, isso também tem valor para o anunciante brasileiro e estamos rentabili­zando muito bem essa plataforma.

VOCÊ S/A - O que o Google está fazendo com o governo e qual a proposta desse trabalho?

Fábio Coelho - Estamos buscando formas de ajudar o Brasil a ficar mais conectado digitalmente e também estamos colocando as nossas plataformas à disposição para conectar o governo com a sociedade. Temos no YouTube­ o canal da Presidência, da Secretaria de Assuntos Estratégicos, do Ministério da Saúde, do Ministério dos Esportes.

Utilizamos o GoogleApps, o Google Maps, o Street View, fazemos hangouts com ministros para, por exemplo, mostrar o andamento dos trabalhos do PAC. São iniciativas para divulgação institucional do governo. É uma maneira de deixar o governo próximo dos cidadãos.


VOCÊ S/A - Como negócio, qual o foco do Google no Brasil?

Fábio Coelho - A gente olha para todo mundo. Os grandes cada vez mais aprendem o valor do digital. Vai chegar um ponto em que a internet vai se tornar a primeira plataforma de engajamento, comunicação e geração de performance para todas as empresas. Estamos perto das principais empresas brasileiras.

VOCÊ S/A - Qual o maior negócio do Google por aqui?

Fábio Coelho - É a busca. (Sem abrir a participação no faturamento.)

VOCÊ S/A - E os negócios que mais crescem?

Fábio Coelho - O YouTube cresce muito, tudo que tem a ver com mobilidade cresce muito, assim como tudo que tem a ver com aplicativos empresariais. Mais de 100% ao ano.

VOCÊ S/A - Para onde o Fábio Coelho está olhando, qual é sua agenda?

Fábio Coelho - Estou olhando para maneiras de triplicar esse negócio nos próximos três ou quatro anos. Mas mais importante do que isso é ajudar a desenvolver o ambiente digital brasileiro para termos empresas mais fortes, mais competitivas e eficientes. Ao fazer isso, cresce o mercado digital e cresce nosso negócio.

VOCÊ S/A - Com essa perspectiva de crescimento, como vocês têm trabalhado a questão das pessoas?

Fábio Coelho - Somos um ambiente de alto desempenho. Buscamos pessoas que se identificam com nossos valores, com vontade de ajudar o mundo na transformação digital, capazes de pensar coisas impossíveis e competentes para trazer esses sonhos para o dia a dia de todos.

O sistema Android, a loja de aplicativos Google Play, o navegador Chrome são exemplos de ferramentas que há cinco anos, oito anos, eram inconcebíveis.


VOCÊ S/A - Vocês flexibilizaram os critérios de seleção?

Fábio Coelho - O processo continua com o mesmo rigor. O número de entrevistas é menor, a seleção ficou mais ágil. Mas nossa busca é de alto nível e considera nossos pilares de contratação: liderança, diversidade de competências e paixões e o que chamamos de googleyness — capacidade de lidar com a ambiguidade e trabalhar em equipe.

VOCÊ S/A - Você também participa do processo da contratação?

Fábio Coelho - Participo para alguns níveis.

VOCÊ S/A - O que você observa num candidato?

Fábio Coelho - Primeiro a aderência aos conceitos. Além disso, gosto de pessoas que gostam de aprender, que sabem trabalhar sem supervisão. Observo muito se o profissional sabe lidar com a ambiguidade. Vivemos num mundo muito ambíguo, que exige flexibilidade, tolerância com o diferente.

Olho se a pessoa sabe trabalhar em grupo, mesmo. Aqui, o profissional precisa reconhecer que depende do outro. E mais uma variável fundamental num ambiente de alto desempenho é a resiliência, que é a capacidade de entender que esse é um trabalho de hoje, de amanhã, de depois e de depois.

VOCÊ S/A - Como você avalia a oferta de mão de obra considerando essas competências?

Fábio Coelho - Tem muita gente boa, mas poucas que se enquadram no perfil que buscamos no Google. Quando se exigem conhecimento da indústria digital, liderança intrínseca, excelente formação acadêmica e o que chamamos de googleyness, é difícil achar gente em número suficiente. Muitos candidatos têm até três dessas habilidades.

É possível crescer na velocidade que vocês desejam contratando só no Brasil? Temos mais de dez nacionalidades no escritório de São Paulo (comercial) e 13 no escritório em Belo Horizonte (engenharia). Recrutamos gente no país, mas aprendemos a contar com a mobilidade dos jovens, que estão dispostos a vir trabalhar no Brasil.


VOCÊ S/A - Por que motivo o Google demite?

Fábio Coelho - Baixo desempenho. A gente demite pouco, a saída quase sempre é negociada. Os funcionários que saem vão empreender.

VOCÊ S/A - Vocês avaliam o desempenho com que frequência?

Fábio Coelho - Trimestralmente. Há um monitoramento do RH para saber quem precisa de ajuda.

VOCÊ S/A - Quantas pessoas vão contratar em 2013?

Fábio Coelho - Cem pessoas.

VOCÊ S/A - Que área do Google investe mais em recursos humanos?

Fábio Coelho - Vendas em geral. Somos basicamente um escritório de negócios no Brasil.

VOCÊ S/A - Vir para o Google mudou seu comportamento em relação à tecnologia?

Fábio Coelho - Eu me tornei uma pessoa ainda mais conectada com as novidades.

VOCÊ S/A - O Google estimula os funcionários a falar o tempo todo o que os incomoda. Como lidam com isso sem gerar insatisfação?

Fábio Coelho - Escutamos e levamos o feedback a sério. Nossa pesquisa de satisfação neste ano teve 98% de participação. Temos uma reunião semanal, toda quinta-feira no fim do dia, para a qual todos os funcionários são chamados.

Canais abertos, liberdade para perguntar o que quiser e um esforço tremendo para trabalhar nas questões que os funcionários identificam como pontos de melhoria são o espírito da coisa. Isso já é 80% do trabalho.


VOCÊ S/A - Como você lida com o erro dos subordinados?

Fábio Coelho - Quem não faz, não erra e não aprende. Agora, é importante cometer erros diferentes e aprender rapidamente.

VOCÊ S/A - O que deu errado nesses dois anos e meio?

Fábio Coelho - Como filosofia, guardo só as coisas positivas. Tem eventos que foram mágicos e outros eventos que foram menos mágicos.

VOCÊ S/A - Quais foram os momentos mágicos?

Fábio Coelho - Tomar café com o Larry (Page) e ouvi-lo falando do futuro. Entender do Sergey (Brin) o que faz a 23AndMe, empresa da mulher dele (Anne Wojcicki), que ajuda as pessoas a decifrar sua composição genética. Estar com o Wael Ghonim, que é o sujeito que começou a revolução da praça Tahrir, no Egito (que derrubou o presidente Hosni Mubarak em 2011).

Ir a Manaus e ouvir, por meio de vídeos, pessoas da comunidade ribeirinha falando "pela primeira vez, eu me sinto parte do planeta", quando filmamos 50 quilômetros do rio Amazonas. Estar com Sal Khan (fundador da Khanacademy) e discutir como vai ser a educação daqui a 30 anos.

Mágico também é ver o brilho nos olhos de minhas três filhas (de 16, 15 e 7 anos de idade) quando elas perguntaram: "O que você fez para entrar no Google?" Eu disse que foi o bom aproveitamento na escola. Então, elas começaram a entender a relação entre boas notas e projeção profissional. O Google me deu projeção profissional.

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