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Da Redação
Publicado em 21 de maio de 2013 às 14h26.
São Paulo - O medo de um apagão de profissionais provocado pelos gargalos da educação, que não consegue formar mão de obra qualificada na quantidade que o mercado demanda, preocupa 63% dos presidentes de empresa no Brasil. Uma pesquisa realizada pela consultoria PricewaterhouseCoopers com 1 150 executivos de grandes corporações no mundo (70 deles brasileiros) mostra que essa inquietação supera outras ameaças ao desenvolvimento, como os custos de energia, as mudanças climáticas e até mesmo a escassez de recursos naturais.
Em ano de eleição presidencial, essa deveria ser a bandeira dos candidatos, mas até o fechamento desta edição os três primeiros colocados na corrida presidencial ainda não tinham apresentado um plano de governo que contemple o assunto. Não por acaso, os brasileiros são os mais céticos em relação à capacidade do governo de resolver o problema. Enquanto na China, 52% dos CEOs acreditam que o governo está combatendo o mal da falta de mão de obra qualificada, na Holanda essa confiança no governo é de 37%, na Índia é de 33% e no Brasil é de apenas 10%.
Uma das alternativas para resolver a questão é o maior investimento na formação técnica. “O Brasil tem de investir em cursos técnicos, que é uma qualificação rápida e em dois anos o profissional consegue entrar no mercado de trabalho”, diz Juan Quiró, presidente do Grupo Advento e vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). “Mas, para isso, é necessário mapear o país e verificar as vocações produtivas de cada região e focar em cursos específicos para cada habilidade.”
A criação de níveis intermediários de formação, que possibilitem aos jovens de 15 anos começarem a trabalhar logo cedo, amparados por certificações intermediárias (antes do diploma de formação no Ensino Superior), é a alternativa defendida pelo professor Armando Dal Colletto, diretor acadêmico da Business School São Paulo (BSP) e secretário executivo da Associação Nacional de MBA (Anamba).
“Isso daria a possibilidade de o jovem ter contato com a profissão que irá escolher e se preparar melhor para ela, e até mudar de ideia antes mesmo de entrar na universidade, economizando tempo e poupando frustrações futuras”, diz Armando. Outra solução seria patrocinar cursos para formação de tecnólogos, algo que o Brasil falhou ao não fomentá-los há mais tempo, como fizeram alguns países europeus. “Muitas vezes se coloca um engenheiro fazendo o papel que um tecnólogo faria”, diz Marcelo Braga, sócio da Search, consultoria de RH, em São Paulo.
O que não faltam são modelos de países que conseguiram sair do limbo social e econômico em que estavam, apostando na educação de melhor qualidade. Muitos deles se transformaram em exportadores mundiais de mão de obra qualificada, como é o caso da Índia, ou se tornaram exportadores de tecnologia de ponta, como China e Coreia do Sul. Este último tinha, em 1960, PIB per capita de 900 dólares, a metade do PIB do Brasil naquela época.
Em 2009, esse número era de 28 900 dólares, e por aqui chegávamos aos 10 200 dólares. O Brasil ficou para trás. Enquanto os coreanos praticamente erradicaram o analfabetismo, ainda temos 14,2 milhões de analfabetos e cerca de 30 milhões de analfabetos funcionais. No entanto, as diferenças culturais entre os dois países impedem de se transplantar integralmente o modelo coreano. “O Brasil não tem que adotar nenhum modelo de fora, ele tem que criar o seu próprio modelo”, diz Juan Quiró, da Fiesp. “O estado tem que se concentrar no Ensino Fundamental e técnico muito forte e manter o mix de privado e público no Ensino Superior, com uma maior comunicação com o mercado”, completa.
A falta de foco do governo e de comunicação entre o mundo acadêmico e o mercado são as causas desse gargalo. “A não integração gera distorções que levam a desequilíbrios de oferta e demanda. Temos hoje carência extrema de engenheiros e químicos e excesso de bacharéis em Direito”, diz Alberto Pfeifer, coordenador executivo do Conselho Empresarial da América Latina (Ceal). Um sinal de como o país vai mal na educação é o desempenho no Pisa, uma avaliação internacional promovida pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que mede os conhecimentos de estudantes na faixa dos 15 anos.
O programa é aplicado a cada três anos. No Pisa de 2006, o Brasil ficou em 52o lugar entre os 57 países. O resultado de 2009 será divulgado em dezembro. “Não podemos só reclamar. As empresas terão de ajudar mais na formação dessa mão de obra”, diz Juan Quiró. Preparar o país para o futuro, agindo com soluções de curto e médio prazo, não é uma tarefa fácil, mas é, certamente, possível. Cabe ao governo também se engajar nessa missão.