Andrea Martini, CEO da Baudduco: “Liderar hoje é mais exigente, mais humano — e, por isso mesmo, muito mais interessante”, (Alê Couto/Divulgação)
Repórter
Publicado em 20 de abril de 2025 às 07h51.
Última atualização em 20 de abril de 2025 às 13h13.
Nascido em Parma, na Itália, Andrea Martini, hoje CEO da Bauducco, leu uma frase num jornal nos anos 1990 que mudaria para sempre sua trajetória:
“Se você tem vontade de crescer, vá embora. Saia da sua zona de conforto. Deixe o seu país por alguns anos. O mundo do futuro pertence a quem souber enxergar além das fronteiras.”
O conselho, assinado pelo sociólogo italiano Francesco Alberoni, que tinha uma coluna em um jornal italiano, foi o estopim para que ele pedisse uma oportunidade internacional na Barilla, onde iniciava sua carreira.
Desde então, Martini construiu uma jornada em seis países (Itália, Brasil, Colômbia, México, Inglaterra e EUA), e liderou operações de grandes marcas como Hershey’s, BAT e Bimbo, antes de assumir, em 2021, a posição de CEO da Bauducco - sendo o primeiro fora fora da família fundadora a ocupar o cargo.
A missão como CEO da Bauducco? Manter viva a alma italiana da marca, ao mesmo tempo em que mira na expanção global da empresa. Com mais de 70 anos de história, a Bauducco tem hoje cinco fábricas no Brasil, 7 mil funcionários e uma operação crescente nos Estados Unidos, que deve ganhar uma nova fábrica na Flórida com investimento de US$ 200 milhões nos próximos anos.
Em entrevista exclusiva à EXAME, Martini fala sobre liderança, desafios globais, propósito e os bastidores da nova estratégia da empresa para crescer no Brasil e no exterior. “Liderar hoje é mais exigente, mais humano — e, por isso mesmo, muito mais interessante”, resume.
Durante a Páscoa de 2025, a Bauducco projeta um crescimento acima de 10%, com apostas que misturam tradição e inovação: a Colomba continua como carro-chefe, enquanto a Casa Bauducco investe em lançamentos premium, como Ovo Chocottone e bombons artesanais.
Mas o plano mais ambicioso vem de fora: com investimento bilionário em reais, a nova fábrica nos EUA, em Zephyrhills (Flórida), começa a operar em 2026 e deve gerar 600 empregos. O objetivo é tornar a marca ainda mais relevante no mercado americano, onde o Bauducco Wafer já lidera em estados como Nova York, Califórnia e Flórida.
Filho de um motorista e de uma dona de casa, Martini cresceu em um lar simples, mas com grandes referências de valores. “Meus pais sempre acreditaram muito na educação como caminho de transformação”, diz.
Sua carreira como CEO começou ainda em 2002, na Hershey’s, e desde então ele viu a liderança se transformar: “Hoje, liderar é engajar. A qualidade da experiência de um funcionário depende, em 90% — ou 99% — do líder”, afirma.
Para Martini, boas lideranças precisam combinar dois pilares: consistência e mobilização.
“O líder precisa ser capaz de inspirar e conectar as pessoas à estratégia. Isso exige escuta ativa, comunicação clara e uma abertura constante para aprender”, afirma.
Martini reforça que o maior aprendizado da carreira foi buscar experiências além das fronteiras.
“Desde aquele artigo que li, nunca mais voltei a trabalhar na Itália. Meus filhos nasceram fora, falam quatro idiomas e seguem seus próprios caminhos internacionais. Esse conselho moldou minha vida e minha liderança.”