Flávio Vasconcelos, diretor da FGV-Ebape, do Rio: desafio de retomar a confiança dos professores (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 17 de junho de 2013 às 15h24.
São Paulo - Em fevereiro de 2009, o professor de estratégia empresarial Flávio Vasconcelos assumiu a diretoria da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro (FGV/Ebape).
No momento de sua posse, o clima era de comemoração, já que a Ebape foi a faculdade brasileira mais bem avaliada em 2008 pelo índice geral de cursos, divulgado pelo Ministério da Educação. O novo diretor deu início, então, a uma série de mudanças na tradicional escola. As principais foram a reformulação na estrutura de alguns cursos e a renovação do corpo docente, com a demissão de professores seniores.
“Meus objetivos são claros: ter um nível de excelência e estar entre as melhores do mundo. Já somos a melhor do Brasil, mas temos que estar sempre um passo à frente. O momento de fazer mudanças é quando a empresa está bem.” Com esse discurso, o novo diretor tem sido alvo de críticas pelas políticas adotadas e tenta administrar o clima de tensão na Ebape.
Flávio Vasconcelos fez carreira na Escola de Administração de Empresas da FGV de São Paulo. Doutor em administração e mestre em sociologia pelo Institut d’Études Politiques de Paris, ele teve de encarar um processo seletivo nos moldes das universidades americanas para conseguir o cargo de diretor.
Ele concorreu com 40 outros professores que mandaram currículos e foram entrevistados por uma comissão formada por dois membros eleitos pela escola e três indicados pela presidência. “Isso quebra o antigo modelo que elegia um representante entre os professores. Fui o primeiro diretor eleito por um processo aberto, o que garante um diretor que administre alinhado aos interesses da instituição”, diz Flávio.
Seus críticos, no entanto, questionam o processo, sobretudo a constituição da comissão, e acreditam que Flávio foi beneficiado pelo fato de contar com o apoio do presidente da FGV, Carlos Ivan Simonsen Leal.
As críticas mais ácidas, porém, são em relação ao critério utilizado na demissão dos professores. “A escola tem o melhor potencial docente do país”, disse um dos tutores recém-demitidos, que preferiu não ser identificado porque ainda desenvolve projetos na universidade.
Para definir quem deve deixar a escola, foi criada uma comissão formada por um membro da presidência e membros da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão do governo federal, que avaliou especificamente a produção acadêmica dos professores nos últimos dez anos.
“É um critério muito americanizado, em que o que vale é o que o professor publica, e não a competência docente. A vocação do professor é formar gente, dando aula e orientando. A pesquisa é importante na medida em que dá subsídios, porém o mais importante ainda é formar bons profissionais”, diz um dos demitidos.
O critério adotado pela comissão é o mesmo utilizado pela Capes na avaliação geral dos cursos acadêmicos. “A intenção é exclusivamente aumentar a pontuação das escolas de administração da FGV na classificação da Capes. Alguns professores foram contratados somente para produzir publicações”, diz outro professor.
A assessoria de imprensa da escola não divulga os números de demissões e das novas admissões. “Que eu tenha conhecimento, foram demitidos cerca de 15 profissionais e contrataram menos de cinco até agora. Não é uma renovação. É uma matemática medíocre. Com menos docentes, o número de publicações por professor aumenta e sobe a nota”, afirma um dos críticos do novo diretor.
Diante da situação, se instaurou um debate na FGV-RJ: o que é mais importante, as publicações de um professor ou a qualidade do que ele ensina? A professora recém-contratada Monica Pinhanez, doutora pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), que já lecionou na Universidade de Nova York, nos Estados Unidos, e na Universidade da Cidade de Yokohama, no Japão, acredita que deve haver um equilíbrio.
“As duas experiências são importantes. Pessoas que saíram de quadros de estudos trazem discussões muito atuais para a universidade, ao mesmo tempo, têm que estar alinhadas com o mercado. Isso dá solidez e precisão de olhar para os alunos.”
De acordo com fontes internas da Ebape, os alunos que estão defendendo teses se sentem prejudicados com a situação. Um dos professores demitidos, por exemplo, estava orientando 15 pessoas, que ficaram sem substituto. Houve início de um movimento de discentes que logo terminou por medo de represálias, já que grande parte deles é bolsista.
Entre os professores que ficaram, o clima também está pesado. “Obviamente existe uma tensão. Mas a pior escola é aquela em que as pessoas são acomodadas. No mercado é normal que tenha movimentação de carreira e é o que se espera de uma escola que vá ensinar os alunos a viver neste mundo de hoje”, diz o diretor.
Outra proposta de Flávio Vasconcelos é a reformulação dos cursos de pós-graduação em administração. Ele quer elevar o nível dos programas de mestrado da FGV-RJ, equiparando-os ao nível de qualidade dos melhores MBAs do mundo.
Para isso, além da renovação do quadro, também houve a reestruturação dos cursos de mestrado, oferecendo o regime de dedicação total, cursado em quatro trimestres em período integral e no regime de dedicação parcial, em meio período, que será realizado em oito trimestres.
“Queremos atrair dois públicos: o aluno que trabalha e quer fazer mestrado e quem pode se dedicar mais e faz o curso integral”, explica o diretor. Seu maior desafio, no entanto, é engajar os professores nesse projeto e administrar o clima de tensão e insegurança que tomou conta também das áreas administrativas da instituição. Sem isso, suas metas, que são louváveis, correm o risco de ficar apenas no campo das ideias.