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Nordeste a mil

Saiba por que o Nordeste vem atraindo mais profissionais e quem são os maiores empregadores da região

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 7 de junho de 2013 às 12h00.

São Paulo - Nos últimos anos, o Nordeste vem ganhando projeção econômica por causa de seu pujante crescimento econômico. Em função desse movimento, há um verdadeiro boom em andamento no mercado de trabalho da região, resultado dos investimentos de empresas locais, nacionais e multinacionais que apostam no aumento gradual do poder de consumo dos 53,5 milhões de habitantes — o que corresponde a 28% da população brasileira.

O rendimento médio dos nordestinos ainda está bem abaixo do padrão brasileiro, 491 reais por mês para pessoas acima de 25 anos de idade, ante a média nacional, de 745 reais. Ainda assim, o Nordeste obteve o maior avanço na participação do Produto Interno Bruto (soma de todas as riquezas geradas pelo país) ao longo da última década, saltando de 12% para 13,1%.

De olho em todo esse potencial, grandes fabricantes de bens de consumo estão entrando para valer no Nordeste e se preocupando em conhecer a fundo os hábitos e preferências dos nordestinos. A Kraft Foods desenvolveu especialmente para esse público novos sabores do refresco Tang  — cajá, graviola e seriguela — e planeja para 2011 uma nova fábrica em Vitória de Santo Antão, Pernambuco, com geração de 600 empregos.

Já a Danone anuncia para julho a inauguração da unidade de Maracanaú, no Ceará, que fará o número de colaboradores no Nordeste subir de 900 para 3 000, entre empregos diretos e indiretos. As vendas da empresa na região aumentaram 33% no ano passado em relação a 2008, impulsionadas por produtos voltados às classes C e D, como o Corpus em formato unitário, vendido a 49 centavos.

“A preocupação das empresas em adaptar seus produtos às peculiaridades do Nordeste evidencia o grande interesse que o mercado local está despertando”, diz o consultor João Thiago de Oliveira Santos, do Instituto de Pesquisa Lince, de Recife, Pernambuco.

“Há sutilezas que precisam ser percebidas no ar quando você chega ao Nordeste”, diz o paulistano José Carlos Castilho de Freitas, de 42 anos, gerente executivo de vendas para o Norte-Nordeste da Kimberly-Clark. Morando há três anos e meio em Recife, ele destaca, como principal característica do jeito nordestino de fazer negócios, a construção de relacionamentos que vão além do contato meramente profissional.


“No começo eu estranhei um pouco. Você mal conhece um cliente e ele já lhe convida para comer uma buchada de bode na fazenda dele, com a maior naturalidade e esperando que você vá mesmo”, diz José Carlos. Quando percebeu que esse é o jeito local de estabelecer confiança mútua, o gerente relaxou e entrou no clima. Hoje, ele faz questão de ser chamado pelo apelido, Joca, por onde quer que passe. 

As empresas estão especialmente atentas à tradição de fracionamento que predomina em toda a região Nordeste. Muitos comerciantes já o faziam por conta própria, vendendo por unidade produtos que originalmente vêm em pacotes ou bandejas, como iogurtes e fraldas. “O baixo poder aquisitivo faz com que as pessoas tenham decisões diárias de compra e eventualmente se vejam obrigadas a excluir o que não é tão necessário ou urgente”, diz José Carlos.

Nesse cenário, muitas empresas apostariam na venda de produtos baratos, mas a Kimberly-Clark optou por uma lógica diferente. “Quem tem pouco dinheiro no bolso não pode errar na compra. Mais vale comprar um refrigerante que é sucesso garantido em casa do que outro, pela metade do preço, que as crianças não vão gostar. Isso sim seria jogar dinheiro fora”, descreve o diretor da regional, o também paulista Pedro Coletta, de 46 anos. 

Ainda sem fábrica no Nordeste — os produtos comercializados na região vêm do interior de São Paulo —, a regional da Kimberly-Clark tem 55 funcionários próprios, além da força de vendas e de merchandising, composta por 70 profissionais contratados por empreendedores regionais, que se tornaram parceiros da companhia na distribuição em áreas de baixa densidade populacional.

Para reduzir os custos com logística, uma vez que os caminhões precisam percorrer grandes distâncias para cobrir as duas regiões, a empresa desenvolveu o Scott compacto, papel higiênico que tem a propriedade de ser amassado e voltar posteriormente ao normal, o que garante 30% a mais de espaço no veículo. 

Mais empregos para quem é da região

Ao mesmo tempo que abrem oportunidades para profissionais de todo o Brasil, as grandes empresas que atuam no Nordeste estão decididas também a valorizar a mão de obra local, já que a familiaridade com a cultura é um atributo importante.


“Hoje, eu não vejo a menor necessidade de sair daqui para fazer carreira em São Paulo ou em qualquer outro lugar do país”, diz a paraibana Raqueline Lima, de 31 anos, gerente de recursos humanos do Grupo Parvi, maior revendedor de automóveis do Nordeste, com atuação em todos os estados da região e também no Norte.

Formada em psicologia, com pós-graduação em psicologia organizacional, ela assumiu há dois anos o desafio de comandar o RH de uma empresa com 4.200 funcionários — que deverão ser 4.500 em dezembro, caso se confirme a meta de 17% de incremento das vendas em 2010.

Raqueline trata de chamar à realidade quem tem uma visão romântica de como é trabalhar no Nordeste. Água de coco e sombra fresca só mesmo nos fins de semana, e olhe lá. “Chego ao escritório às 7 da manhã e muitas vezes só saio em torno das 10 da noite. A diferença em relação a São Paulo é que perdemos menos tempo no trânsito, mas o ritmo também é puxado”, compara.

Os salários inferiores à média de São Paulo são compensados pelo custo de vida também mais baixo — as pessoas ganham 30% menos, mas o aluguel do apartamento, a escola das crianças e os preços dos restaurantes seguem a mesma proporção. A diferença mais significativa está no pacote de benefícios e na remuneração variável, que ainda não se equiparam aos oferecidos em São Paulo e no Rio de Janeiro. 

Mesmo que você não vá viver no Nordeste, há a possibilidade de que venha a trabalhar para uma empresa nordestina. Notícias sobre a expansão de grupos nascidos na região estão se tornando cada vez mais frequentes. A pernambucana Vitarella, fabricante de massas e biscoitos, começa a fazer suas marcas mais presentes no resto do país.

Já a baiana Insinuante acaba de se fundir com a mineira Ricardo Eletro para formar a Máquina de Vendas, segunda maior rede varejista de eletroeletrônicos do país, com presença em 17 unidades da federação.

A distribuidora de combustíveis AleSat, nascida em Natal, Rio Grande do Norte, há 25 anos, tem 1.700 postos espalhados por 22 estados, gera 12.000 empregos e faturou 7 bilhões de reais em 2009. “Nossa meta é chegar a 2.500 postos em 2012”, anuncia Marcelo Alecrim, de 44 anos, fundador e presidente da companhia. 

A AleSat comprou recentemente 327 postos da multinacional Repsol e 130 postos da catarinense Polipetro, e vem reforçando a marca em todo o território nacional — patrocinou o Flamengo no último trimestre do ano passado, por 3,5 milhões de reais, e teve a sorte de ver o time mais popular do país ser campeão brasileiro com o nome Ale, bandeira dos postos, estampado no uniforme.

Típico empreendedor nordestino, Marcelo não conseguiu concluir o curso de administração na Universidade Federal do Rio Grande do Norte — faltava um ano quando a demanda do negócio inviabilizou de vez a vida de estudante. “O meu aprendizado ocorreu, sobretudo, na prática, à medida que surgiam as necessidades. Mas sempre tive o cuidado de ter ao meu lado profissionais capacitados e bem preparados, perfil que certamente será cada vez mais valorizado pelo mercado aqui do Nordeste”, diz. 

Aos 19 anos, Marcelo recebeu do pai a missão de administrar um posto de combustível na cidade de Canguaretama, no interior de seu estado. Menos de dez anos depois tinha uma rede de 13 postos.

Em 2004, o promissor negócio atraiu o interesse de um fundo de investimentos dos Estados Unidos, o Darby Overseas, que comprou um terço das ações e deu o empurrão definitivo para o sucesso nacional da AleSat.

“Quando comecei, praticamente não existiam grandes empresas no Nordeste. Hoje, com tantas corporações de ponta atuando na região, as locais se viram obrigadas a buscar melhorias em tecnologia, processos e controle”, diz Marcelo. 

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