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Não faça pós-graduação fora do Brasil sem pensar nestes 4 riscos

Sonha em estudar fora? A ideia é boa, mas é importante analisar certas variáveis antes de tomar a sua decisão

Diploma (Creative Commons/gadgetdude/Flickr)

Diploma (Creative Commons/gadgetdude/Flickr)

Claudia Gasparini

Claudia Gasparini

Publicado em 6 de junho de 2017 às 15h00.

Última atualização em 6 de junho de 2017 às 17h14.

São Paulo — Imagine que você acabou de ganhar uma bolsa de estudos para fazer pós-graduação no exterior. Qual seria a sua reação?

Claro que não faltariam motivos para aceitar. Para começar, se você pensa em fazer uma carreira internacional, um diploma numa instituição estrangeira é indispensável. Num momento em que tantos brasileiros começam a abandonar suas vidas aqui para começar “do zero” no exterior, buscar qualificação lá fora faz ainda mais sentido.

Mesmo que você decida regressar ao Brasil depois, um curso no exterior pode ter grande impacto sobre o seu sucesso. Além do conhecimento adquirido nas aulas em si, você viverá uma experiência de imersão em outra cultura, o que traz competências muito valorizadas pelos recrutadores, tais como flexibilidade, resiliência e capacidade de negociação.

Carlos Felicíssimo, sócio da consultoria de recrutamento 4hunter, também destaca a oportunidade de consolidar os seus conhecimentos de idioma. “Se você consegue acompanhar aulas e ser aprovado num curso ministrado naquela língua, você prova que realmente a domina”, explica.

Por outro lado, também há expectativas ilusórias sobre o significado de uma pós-graduação fora do Brasil. A principal delas é a de que o diploma trará retornos grandiosos e imediatos para a carreira.

“Algumas pessoas têm a fantasia de que, assim que voltarem para cá, vão ser recepcionadas no aeroporto por alguém com uma plaquinha com os dizeres: ‘Bem-vindo, meu novo CEO’”, brinca Rafael Souto, presidente da consultoria Produtive. “Muitos acham que só porque fizeram uma pós no exterior vão ser contratados, promovidos ou receber aumentos”.

O diploma “gringo” não é garantia de nada: ele pode ter grande valor e pode abrir portas, mas não resolve a carreira de ninguém. Em termos práticos, você até pode ser chamado para uma entrevista porque o recrutador se interessou pelo seu mestrado em Harvard, mas se for mal na entrevista ou não tiver os requisitos necessários, a vaga não será sua.

O alerta de Souto dá a medida da complexidade dessa decisão. Por mais atrativa que pareça, nem sempre a pós-graduação no exterior é a melhor alternativa. Assim como qualquer passo dado na carreira, é preciso refletir e ponderar muitas variáveis antes de agir.

Está em dúvida se deve ou não fazer as malas? Confira a seguir 4 situações em que é melhor desistir do plano:

1. O diploma não faz sentido para a sua carreira

Este é o erro mais clássico de todos. Encantados pela ideia de morar fora por um tempo e interessados no status social trazido por essa experiência, muitos brasileiros embarcam em aventuras que não fazem muito sentido.

Investir numa experiência internacional só porque você deseja uma linha “chique” no seu currículo é uma péssima ideia a longo prazo. "A pós-graduação deve estar sempre alinhada a um plano de carreira”, recomenda Souto.

Por isso, antes de comprar as passagens de avião, é importante se fazer algumas perguntas. O curso será realmente útil quando você voltar para o Brasil? Se for um MBA em gestão, por exemplo, é pertinente fazê-lo agora ou é melhor esperar alguns anos até você assumir um cargo de liderança?

No fundo, são questionamentos que também valem para quem pensa em fazer pós no Brasil, mas com um agravante: os custos de uma vivência internacional necessariamente serão muito mais altos. O que nos leva ao próximo ponto.

2. Você vai gastar mais do que pode

Estudar fora pode ser bem caro. Principalmente porque a maioria dos países não permite que um estrangeiro estude e trabalhe ao mesmo tempo, e conseguir bolsas de estudo é mais complicado do que parece. Mesmo que você consiga um auxílio financeiro, provavelmente haverá custos adicionais com os quais será preciso arcar. 

Claro que há exceções. A Nova Zelândia, por exemplo, permite que alunos internacionais paguem o mesmo preço que os neozelandeses por cursos de doutorado, o que deixa a experiência bem mais em conta. É uma tentativa de atrair “cérebros” para o país e movimentar a economia.

Na prática, porém, situações assim são relativamente raras. Além de financiar o curso, você precisa pensar em gastos com moradia, alimentação, saúde e transporte por alguns anos num país estrangeiro — tudo isso num momento em que o câmbio está bastante desfavorável para os brasileiros. 

3. O timing não é ideal

De acordo com Felicíssimo, todo profissional que faz pós-graduação no exterior acaba se distanciando um pouco do mercado. “É inevitável que o seu nome deixe de ser falado pelas pessoas”, diz. “Mesmo quando a empresa está financiando o seu curso e você continua empregado, você perde relevância internamente”.

Isso é especialmente negativo quando o mercado de trabalho está aquecido. No período pré-crise, sair do Brasil para estudar podia ser uma má ideia: havia aqui uma abundância de ofertas, com salários inflados. Hoje, ocorre exatamente o oposto — a economia vai mal e se ausentar um pouco não significa perder oportunidades.

Ainda assim, fazer pós-graduação no exterior agora pode ser uma má ideia para algumas pessoas. Segundo Souto, é importante analisar cuidadosamente o seu momento de carreira — se você está satisfeito ou insatisfeito, se tem ou não chances de crescer no emprego atual, se acabou de começar numa nova empresa ou já está há muitos anos na mesma, entre outros fatores.

Não há uma regra simples para decidir se o “timing” é correto ou não, mas essa variável jamais deve ser desconsiderada. O momento de vida também pode não ser ideal. “Talvez você esteja numa fase de transição na sua vida pessoal, começando uma família, por exemplo, o que pode tornar um período no exterior mais complicado”, diz Felicíssimo.

4. O curso não é “tudo isso”

É comum a percepção de que a educação brasileira é necessariamente inferior à oferecida em países desenvolvidos. Síndrome de vira-lata? Em parte, diz Souto. “Muita gente subestima os excelentes cursos, professores e pesquisadores do país, mas também é fato que os cursos de ponta para o mundo executivo estão nos Estados Unidos e na Europa”, explica.

Ainda assim, é preciso lembrar que a pós-graduação ideal para a sua carreira pode estar, sim, no Brasil. Principalmente se a alternativa estrangeira não tiver solidez acadêmica ou se for oferecida por uma instituição de qualidade duvidosa. Afinal, aí vai uma obviedade por vezes esquecida: também há cursos ruins no exterior.

Fazer uma pós-graduação num país que não é reconhecido pela excelência na sua profissão, numa faculdade desconhecida pelo mercado brasileiro, pode ser uma decisão equivocada, diz Felicíssimo. Do ponto de vista do mercado de trabalho, um curso de excelência no Brasil vale muito mais do que “um diploma qualquer” expedido no exterior.

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