Diploma: na hora de escolher uma pós-graduação, é importante fugir de modismos ou meras indicações (Flickr/Creative Commons/gadgetdude)
Claudia Gasparini
Publicado em 24 de agosto de 2016 às 15h00.
Última atualização em 10 de janeiro de 2017 às 10h07.
São Paulo — Se você está planejando fazer uma pós-graduação, está no caminho certo: a preocupação contínua com os estudos é um traço típico dos profissionais de sucesso. Porém, é importante saber que a escolha do curso — e do momento para fazê-lo — merece cuidados que poucas pessoas realmente têm.
A decisão precisa ser tomada com base em uma série de fatores. Disponibilidade de recursos como tempo e dinheiro, flexibilidade na agenda, estágio de desenvolvimento da carreira e aptidões individuais são algumas das variáveis que precisam entrar nesse cálculo, explica Carlos Felicíssimo, sócio do Group4.
Para não se arrepender, é importante fugir de modismos ou meras indicações. “Não faça um curso só porque os outros estão fazendo”, afirma Rafael Souto, CEO da consultoria Produtive. “Cada caso é um caso, não existe ‘bala de prata’”.
Um dos dilemas mais comuns é escolher entre três opções: mestrado acadêmico, mestrado profissional ou MBA. Veja a seguir os casos em que cada uma dessas modalidades é mais indicada:
A opção é interessante para quem já tem pelo menos três ou quatro anos de experiência profissional e busca um curso mais robusto do que a especialização. “É um diploma de lato sensu mais valorizado pelo mercado do que outras pós-graduações do tipo", diz Souto.
Um aluno típico de MBA tem certeza de que não quer seguir carreira acadêmica. Além disso, busca uma pós-graduação flexível, cuja carga horária se molde à rotina de quem trabalha em tempo integral numa empresa.
Povoada por estudantes experientes e ambiciosos, a sala de aula de um MBA é um lugar privilegiado para quem busca networking de alto nível. “Ali você fará alguns dos contatos profissionais mais importantes da sua vida”, afirma Souto.
Como o foco das aulas será a gestão empresarial, o ideal é que o aluno já esteja ocupando uma posição de comando. Não é preciso já ser diretor ou gerente: até quem está nos primeiros degraus da liderança, como um supervisor ou coordenador, está apto a se matricular num programa do tipo.
Para Felicíssimo, não faz sentido buscar um título de "Master of Business Administration" se você ainda está numa posição de analista ou técnico. “Isso é queimar etapas”, explica. “Quem ainda não ocupa um cargo gerencial não vai aplicar nada do que aprendeu, o que significa um desperdício de tempo, energia e dinheiro”.
Muitos jovens estão cometendo o erro estratégico de obter o título precocemente, diz Souto. O ideal, para eles, seria apostar numa especialização, uma opção mais leve, econômica e adequada à sua realidade atual.
Outro ponto de atenção é a reputação da escola em que você vai se matricular. Como até pouco tempo o MBA se tornou uma febre no mundo corporativo, houve uma explosão na oferta de cursos — inclusive de baixa qualidade. O mercado não demorou a perceber isso, e deixou de ver o título como um grande diferencial.
Isso significa que o MBA não é levado tão a sério quanto o mestrado? Não é bem assim. “Se o diploma vier de uma instituição respeitada, não de uma ‘caça-níquel’, e se fizer sentido no momento da carreira do profissional, os empregadores veem muito valor sim”, diz Souto.
O diploma é a opção mais tradicional para quem quer ser pesquisador, dar aulas e construir sua carreira no mundo das faculdades e universidades. Mas, ao contrário do que muita gente pensa, não é uma opção inadequada para quem trabalha em empresas.
Assim como o doutorado, o mestrado acadêmico costuma ser bastante valorizado no mundo corporativo em função da banalização de outros diplomas de pós-graduação — tidos, em alguns casos, como do gênero “pagou, passou”. Empresas da área de tecnologia, pesquisa e desenvolvimento, por exemplo, têm grande interesse em contratar mestres e doutores para desenvolver soluções de ponta.
No entanto, a opção acadêmica não é para qualquer um. “Você precisa ter apetite por pesquisa, além de se sentir à vontade com a linguagem desse mundo, que é muito específica”, afirma Souto.
Esteja preparado para muita leitura, discussões profundas e por vezes altamente abstratas. Até o modo de raciocinar é diferente: dependendo da área, não haverá aplicação prática das descobertas. O que guia o trabalho é a busca pura pelo conhecimento.
Também vale a pena considerar o impacto desse tipo de mestrado sobre a sua agenda. “Há menos flexibilidade, com aulas durante a tarde, o que pode virar um tormento para quem trabalha numa empresa”, diz Souto. Assim, a opção funciona melhor para quem não tem outro vínculo no momento, ou consegue negociar uma redução de carga horária no emprego.
Essa modalidade de pós-graduação stricto sensu também é recomendável para quem quer vivenciar diálogos e reflexões com um grau de aprofundamento que raramente se encontra no cotidiano. “Pode apresentar você para uma nova possibilidade de carreira”, afirma o sócio do Group4. “Muitos executivos acabam despertando para a academia, e não querem mais sair”.
Segundo definição do CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), esta é “uma modalidade de pós-graduação stricto sensu voltada para a capacitação de profissionais, nas diversas áreas do conhecimento, mediante o estudo de técnicas, processos, ou temáticas que atendam a alguma demanda do mercado de trabalho”.
O mestrado profissional é uma boa escolha para quem quer mais flexibilidade de horários do que a permitida pelo mestrado acadêmico — mas deseja mais profundidade e diversidade de temas de estudo do que os possíveis num MBA.
“Ele traz o melhor dos dois mundos”, diz Souto. “É exigente, pesado, profundo e conta com uma excelente percepção do mercado, mas se adapta melhor à rotina”.
O ideal é já estar em alguma posição de liderança e não descartar o universo acadêmico como uma alternativa interessante de carreira.
Segundo o CEO da Produtive, as universidades não costumam fazer distinção entre o mestrado acadêmico e o profissional: as portas da academia estão abertas para quem busca qualquer uma das opções que concedem o título de mestre.
Felicíssimo pondera que cursos do tipo podem ser caros e costumam ter processos seletivos rigorosos. “Como qualquer pós-graduação stricto sensu, é bem mais difícil de entrar”, explica. “Também é mais difícil concluir o curso, porque você precisa se dedicar, ler muito e fazer provas com alto grau de complexidade”.
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