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Mesmo pagando bem e sem demissão, este setor atrai pouco

Número de formados em química é baixo e profissionais qualificados acabam sendo disputados


	Química: falta de apelo das aulas na escola ajuda no desinteresse pela área
 (Thinkstock)

Química: falta de apelo das aulas na escola ajuda no desinteresse pela área (Thinkstock)

Camila Pati

Camila Pati

Publicado em 11 de fevereiro de 2016 às 05h00.

São Paulo – Menos de 1% dos graduados em cursos superiores anualmente no Brasil forma-se em química. O baixo contingente não é novidade e, há alguns anos, representantes do setor notam estagnação na oferta qualificada de profissionais.

“De maneira geral, o Brasil tem poucos cientistas, não só na área de química, como também em física e matemática”, diz Ivano Gutz, professor do Instituto de Química da USP e coordenador das Olímpiadas de Química do Estado de São Paulo.

De acordo com ele, basta uma pessoa se perguntar quantos profissionais já se apresentaram a ela como cientistas por profissão. Segundo dados da Fapesp, são cerca de 700 cientistas/pesquisadores por cada milhão de habitantes no Brasil.

“A gente leva desvantagem na Ciência de maneira geral. A palavra cientista quase nem existe no Brasil. Nosso índice é muito baixo em comparação a países como Israel, Singapura, Japão, Alemanha”, diz Gutz.

No entanto na indústria química, esta realidade a princípio negativa, na crise, traz até certo alívio para quem já está trabalhando. Funcionários do setor passam ao largo dos recentes cortes.

“A indústria química não dispensou, não existe demissão em massa. Manteve os seus profissionais porque eles são treinados para longo prazo”, diz Martim Afonso Penna, diretor- executivo da Associação Brasileira da Indústria de Cloro, Álcalis e Derivados (Abiclor).

De acordo com ele, profissionais qualificados para o trabalho na indústria química raramente ficam sem trabalho tendo em vista o conhecimento especializado demandado sobretudo pela complexidade da atividade. “É um pessoal disputado, por ser uma indústria de processo que exige preparação e envolve uma série de requisitos ligados a questões de saúde, ambientais e de segurança”, diz Penna.

Esta é também uma das razões pelas quais o salário na indústria química é mais alto do que a média, de acordo com o diretor-executivo da Abiclor. Na área de cloro-álcalis, empregados da indústria receberam, em 2015, valor médio de R$ 5.876,05 por mês, equivalente a três vezes o salário médio pago por outros setores.

Desinteresse começa na escola

A falta de apelo das aulas de química na escola contribui para o desinteresse pela área. “A química é uma ciência experimental, mas isso não acontece nas escolas”, diz o diretor executivo da Abiclor. São raros colégios com laboratórios bem equipados e a disciplina é em sua grande maioria exposta de forma teórica e abstrata. “O aluno vê aquelas fórmulas e letras e acha que nunca vai usar aquilo na sua vida”, diz Gutz.

Além disso, se informações a respeito do campo de trabalho fossem mais acessíveis, o interesse na carreira na área química poderia ser maior. O professor Ivano Gutz fez um estudo da origem dos ingressantes no curso de Química da USP e notou que há mais alunos vindos de áreas industriais, como São Bernardo do Campo, Diadema, Osasco e Taboão da Serra do que das áreas centrais de São Paulo. “Existe um efeito da proximidade, de conhecer, muitas vezes de ter parentes empregados na indústria química”, diz.

As boas oportunidades de trabalho na indústria muitas vezes só chegam ao conhecimento dos alunos que já estão na graduação de química. “Muitos entram com o ideal de serem professores, mas ao longo do curso, acabam deixando de lado a licenciatura para optar pelo bacharelado, mais alinhado às necessidades da indústria”, diz Gutz. 

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