Fábrica da Votorantim Metais: 64% dos líderes vieram da própria companhia (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 8 de novembro de 2013 às 08h46.
São Paulo - No começo, era apenas uma reivindicação contra o aumento na tarifa de ônibus. Um grupo de pessoas, em sua maioria jovens, saiu pelas ruas de algumas capitais pedindo redução no preço da passagem de ônibus. Alguns dias depois, o punhado de gente se transformou numa multidão. E a revolta não era mais contra os "20 centavos", mas contra tudo, contra uma liderança flácida, contra um país apático.
Independentemente do perfil das pessoas que levantaram suas bandeiras — entre idealistas, utopistas e apenas baderneiros —, as manifestações que tomaram (e ainda tomam) conta das ruas brasileiras revelaram um Brasil que muitos desconheciam e um cidadão mais crítico.
Não se pode dizer ainda se o "gigante realmente acordou" e se nas próximas eleições o voto será mais consciente. Mas se pode dizer que temos dois cenários sociais entre o antes e o depois das manifestações. "Os protestos, basicamente, mostraram que o brasileiro tem espinha dorsal e que ela não é flexível. Não é uma maria-mole", disse o economista e cientista social Eduardo Gianetti da Fonseca em uma entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, em junho, logo após os primeiros movimentos.
E é esse cidadão com espinha dorsal rígida que representa hoje também o profissional que compõe a grande massa do mercado de trabalho brasileiro, tornando mais desafiadora a gestão de pessoas nas empresas do país. As pessoas estão mais exigentes, de forma geral.
Não é por acaso, portanto, que a cada ano o grupo que forma as 150 Melhores Empresas para trabalhar no país vem aperfeiçoando suas ferramentas de gestão e profissionalizando suas políticas de recursos humanos. Não importa o tamanho da companhia — se com 200 ou 50.000 funcionários —, as práticas oferecidas estão cada vez mais sofisticadas.
Prova disso é que o Índice de Qualidade na Gestão de Pessoas (IQGP), que avalia a modernidade, a abrangência e a sustentabilidade das práticas de RH, subiu de 66,41 para 70,93, de 2008 a 2013. "Isso mostra que as empresas brasileiras aprenderam a fazer gestão de pessoas", diz André Fischer, professor da Universidade de São Paulo, consultor da Fundação Instituto de Administração (FIA) e um dos coordenadores da pesquisa que dá origem ao Guia das Melhores Empresas.
Apesar de todo esse esforço, elas encontram um funcionário que cobra mais — aquele que vai para a rua pedir mudanças também tem coragem de exigir mais do chefe, do time, da companhia em que trabalha.
"Enquanto percebemos uma evolução nas práticas, notamos uma satisfação menor dos funcionários das 150", afirma André. O Índice de Qualidade no Ambiente de Trabalho (IQAT), que revela justamente a percepção do empregado em relação a seu trabalho, vem caindo a cada ano na pesquisa.
De 2008 para cá, o IQAT passou de 83,1 para 80,8. É uma queda sutil, mas capaz de revelar um profissional mais crítico. Que país é esse?
Num país sedento por mudanças, as empresas que são modelo em gestão de pessoas não podem cruzar os braços. São elas, afinal, o paradigma do que há de melhor no mercado de trabalho. Devem, portanto, dar o exemplo. E foi o que elas fizeram. Apesar da incerteza do mercado, essas companhias praticaram uma excelente gestão de pessoas no período analisado por este Guia — mais conservadora, é verdade, mas sempre inovadora.
"Não se pode falar de um momento de crise, mas também não foi um ano de euforia", diz Wilson Amorim, também professor da Universidade de São Paulo e coordenador da pesquisa. Mais contidas, as 150 se desdobraram em 2012 para entregar seus resultados sem deixar de investir no principal: as pessoas.
Mesmo com margens de lucro reduzidas, o que se vê no time das melhores é uma forte preocupação em atender às necessidades de seu funcionário. Prova disso é o valor do orçamento destinado à formação deles — 42% das empresas classificadas no Guia investiram de 1 milhão a 10 milhões de reais em educação corporativa, e 9% passaram dos 10 milhões de reais.
Com ferramentas mais sofisticadas de gestão, esse grupo também consegue exercer mais a meritocracia — e reconhecer os melhores desempenhos. Como consequência, os salários pagos nas 150 são bem superiores à média de mercado — uma diferença que chega a 1.200 reais.
O mesmo vale para os benefícios. Sempre muito elogiado pelos funcionários, o pacote de benefícios das melhores empresas costuma fazer os olhos de quem está dentro (e fora) de uma delas brilhar. Contra todas as previsões pessimistas de crescimento econômico — que foram surpreendidas pelo aumento de 1,5% do PIB brasileiro, anunciado no fim de agosto —, as 150 melhores empresas se mantiveram firmes no propósito de desenvolver pessoas e oferecer as melhores oportunidades de trabalho.
Elas sabem que investir em gente — não importa o cenário — traz retorno. A rentabilidade sobre o patrimônio líquido das melhores empresas para trabalhar deste ano é de 10 pontos percentuais acima da média das 500 empresas listadas no anuário Melhores e Maiores, publicado por EXAME (cálculo feito com base nas empresas que estão entre as 150 do Guia e também entre as 500 do anuário Melhores e Maiores).
Mais uma vez, o grupo de elite da gestão de pessoas no Brasil mostra que esse é o caminho para o lucro e o melhor jeito de transformar o grito das ruas e a força das pessoas em histórias de realizações.