Mark Zuckerberg: segundo Martínez, trabalhar na empresa é como estar em um culto onde Zuckerberg é o líder (David Paul Morris/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 5 de julho de 2016 às 09h54.
Vale do Silício, 2011, corredores do Facebook. O Google estava prestes a lançar o Google Plus - uma rede social concorrente -, mas Mark Zuckerberg não ia deixar barato.
Adotando uma postura de general de guerra, ele proibiu que seus funcionários saíssem do prédio até que o Facebook fosse melhorado para fazer frente ao novo rival.
Durante esse período, os empregados ficaram na empresa 24h por dia, 7 dias por semana - e as famílias só podiam visitá-los nos finais de semana.
O mais assustador: o que mantinha as pessoas trabalhando não eram as portas trancadas, mas a sensação de que estavam fazendo um sacrifício pela equipe. Uma verdadeira lavagem cerebral.
Pelo menos é esse o relato de Antonio García Martínez, um ex-funcionário da empresa que, depois de ser demitido em 2013, foi trabalhar no Twitter.
Ele está lançando o livro Chaos Monkeys: Obscene Fortune and Random Failure in Silicon Valley (algo como Macacos do Caos: Fortunas Obscenas e Falhas Aleatórias no Vale do Silício), em que relata situações terríveis.
Antes de entrar nelas, vale ressaltar: Martínez não apresenta provas de nada, a não ser seu próprio depoimento. E, como ex-funcionário demitido, tem uma inclinação natural a carregar nas tintas contra a empresa.
Procurado pela CNN, pelo Business Insider e pelo Telegraph, o Facebook não quis comentar o livro.
Segundo Martínez, trabalhar na empresa é como estar em um culto onde Zuckerberg é o líder. "Ele é seguido por 'crentes fieis' que têm como único motivo de vida trazer todas as pessoas do mundo para a rede social", diz o ex funcionário em uma passagem do livro.
Para manter a disciplina, existe uma polícia interna chamada The Sec, que monitora tudo que os funcionários fazem - a sensação de estar sendo vigiado é constante.
Mas isso é só um detalhe. Assim que começam a trabalhar na empresa, as pessoas passam por uma série de palestras do RH que explicam o objetivo de quem trabalha por lá.
Martínez transcreve uma dessas 'palestras educativas': "Não estamos aqui para f****. Vocês estão no Facebook agora e temos muita coisa pra fazer. Então só façam, p****".
Nas paredes, supostamente há cartazes com mensagens agressivas e incitadoras como essas. "Nosso trabalho nunca está pronto", "Abraçar a mudança nunca é o suficiente", "Faça mais rápido", "A jornada está 1% terminada" e "O que você faria se não tivesse medo?".
Segundo Martinez, há pessoas que chegam a trabalhar 20h por dia, fazendo todas as suas refeições na cafeteria da empresa.
Martínez conta que o dia em que uma pessoa começa a trabalhar por lá se torna seu "Faceversary" (algo como "Faceversário"), uma data marcada por celebrações, bolo e balões - a cada ano passado na empresa, o empregado ganha balões com um número: 1, 2, 3, 4.
A partir dos 4 anos, começa uma discreta pressão para a pessoa ir embora - ela está velha e acomodada demais para trabalhar ali.
E quando o funcionário sai da empresa, ele é tido como morto: é removido de todos os grupos de chat da empresa e abandonado por muitos dos antigos colegas.
Segundo Martínez, alguns demitidos do Facebook chegam a postar uma foto de seu crachá com uma espécie de epitáfio.
No meio disso, a figura do "general" Zuckerberg é marcante, e provoca a sensação de que o Facebook está sempre em guerra. Martínez conta que, quando alguém vaza informações confidenciais da empresa, Zuckerberg manda um e-mail para todos os funcionários, com o assunto "Por favor, se demita" - e acusa o suposto culpado na mensagem de um jeito agressivo e direto.
A ideia é aterrorizar todo mundo e, ao mesmo tempo, fazer a pessoa que vazou informações servir de exemplo.
Martínez levanta outro problema: a esmagadora maioria dos funcionários é homem, e as mulheres sofrem algumas discriminações.
Segundo ele, as funcionárias são proibidas de usar roupas curtas ou decotadas demais - e a justificativa é que esse tipo de vestimenta pode "distrair" os colegas homens.
Quando novos funcionários chegam, o RH dá uma palestra sobre isso, e se alguma mulher desrespeita esse código de conduta, leva uma bronca.
Mas, nota Martínez, os homens não recebem qualquer orientação do tipo. O livro Chaos Monkeys: Obscene Fortune and Random Failure in Silicon Valley ainda não tem tradução para o português.
Ele já está à venda nos EUA, e seu autor liberou na internet um trecho sobre a guerra do Facebook contra o Google (em inglês).