Marissa Mayer, presidente do Yahoo! (Noah Berger/Reuters)
Da Redação
Publicado em 13 de junho de 2013 às 07h48.
São Paulo - Desde que foi anunciada como a nova presidente do Yahoo!, em 17 de julho, a ex-googler Marissa Mayer viu sua vida virar motivo de um intenso julgamento virtual. Não bastasse uma jovem mulher assumir a presidência de uma grande empresa de tecnologia, ela também anunciou que está grávida de seu primeiro filho.
Em uma entrevista à revista americana Fortune, Marissa afirmou que pretende parar de ir ao escritório apenas por algumas semanas depois de dar à luz, e que mesmo nesse período não deixará de acompanhar as decisões e rumos do Yahoo!. As opiniões não tardaram a pipocar e variaram do deboche por ela ser mulher, jovem e linda a críticas ferrenhas por ela ter sido namorada de um dos fundadores do Google, Larry Page, e por suas declarações a respeito da gravidez.
“Independentemente da atitude que ela viesse a adotar, as críticas viriam”, diz a economista Regina Madalozzo, professora e pesquisadora do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), de São Paulo. Isso porque, segundo Regina, não há um modelo estabelecido que sirva de referência quando a líder é mulher. “As mais agressivas e menos femininas são criticadas por ser assim. Se forem vaidosas e antenadas em moda, como a Marissa, também são criticadas, pelo motivo oposto”, diz.
Regina acredita que isso só vai mudar quando o número de mulheres nos cargos de liderança aumentar. Hoje, apenas 4% das organizações que compõem o ranking Fortune 500, que mostra as maiores companhias americanas, têm uma mulher como presidente. Marissa é a mais jovem delas.
Já existem iniciativas para mudar esse quadro. No Brasil, a SAP Labs, braço de inovação da multinacional alemã de tecnologia SAP, criou uma série de ações para aumentar o número de mulheres nos cargos de liderança. Uma delas é o programa de preparação de líderes. Em 2007, quando ele foi criado, elas eram 5% do público — hoje, são 24%.
“O programa tem três anos, e o primeiro deles é focado em mentoring e na construção de um plano de carreira, levando em conta também as metas familiares e o que aquela funcionária deseja para seu futuro”, conta Adriana Kersting, gerente de recursos humanos da SAP Labs para a América Latina.
Com a criação do programa, a necessidade de conhecer melhor as dificuldades de carreira enfrentadas pelas mulheres aumentou, e desde 2010 a SAP realiza reuniões trimestrais com esse objetivo. “Identificamos três dificuldades para a ascensão feminina”, diz Adriana. “A primeira é o medo de sair de licença-maternidade e perder espaço”, afirma. “Elas também tendem a deixar a própria carreira em segundo plano diante da do marido e têm dificuldade em demonstrar que querem e merecem mais.”
Uma pesquisa conduzida pelo escritório brasileiro da consultoria e auditoria Ernst & Young Terco com suas funcionárias revelou que 100% das mulheres que ainda não eram mães disseram que era impossível conciliar maternidade e carreira. Para mudar isso, a empresa criou o Clube de Mães e Futuras Mães, com o objetivo de desmistificar o tema.
“É claro que é difícil conciliar as duas coisas”, diz Tatiana da Ponte, sócia-líder de capital humano para a América do Sul. “Mas não é impossível”, conclui ela, que quando ingressou na companhia, há dez anos, tinha um filho de 2 anos e um de 6 meses. Hoje, Tatiana é uma das duas mulheres que fazem parte do comitê executivo da Ernst & Young Terco, composto por 12 pessoas.
“Há pouco tempo, quando uma funcionária sugeriu que a empresa adotasse a licença-maternidade de seis meses, o comitê começou a analisar esse pedido pensando no custo que a mudança geraria”, conta Tatiana. “Nós conseguimos tirar o foco da discussão do custo e mostrar ao comitê que reter essa mulher era muito mais importante, e que esses dois meses a mais fariam uma diferença significativa na vida da mãe.” A extensão foi aprovada. Atualmente, 15% dos cargos de liderança em toda a América do Sul são ocupados por mulheres.
Arrumando a casa
Voltando o olhar para as mulheres que chegam à presidência, é normal notar que elas assumem esse cargo muitas vezes em momentos de crise. “Essa, inclusive, é uma dificuldade que temos, academicamente, para comparar o desempenho de presidentes homens e mulheres”, afirma Regina, do Insper. Isso porque as condições das companhias assumidas por uma mulher, em geral, são bem mais adversas.
É o caso, por exemplo, da americana Meg Whitmann, que foi nomeada presidente da HP em setembro de 2011 com o objetivo de revigorar os negócios da multinacional americana de tecnologia. No caso de Marissa, os desafios são ainda maiores. Enquanto o Google continua atraindo jovens talentos e é dono de uma política de inovação constante e eficiente, o Yahoo! viu suas ações despencarem nos últimos anos.
Sua fatia no mercado de buscas caiu de 20% para 7% — e as críticas ao seu visual poluído e à falta de inovação da empresa são comuns. Marissa é a quinta presidente em um ano — e a falta de rumo da organização preocupa o mercado. Uma das primeiras ações de Marissa no comando será contratar os melhores programadores e engenheiros, que debandaram do Yahoo! há alguns anos, para voltar a inovar na criação de produtos e serviços. É um belo desafio.