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Da Redação
Publicado em 10 de junho de 2013 às 17h24.
São Paulo - Neste mês, Luiz Ernesto Gemignani deixa a presidência executiva da Promon, empresa de projetos de engenharia com sede em São Paulo, após nove anos no cargo. Assume seu posto Luiz Fernando Rudge, que atuava como diretor executivo da companhia.
Durante a gestão de Luiz Ernesto, a Promon manteve-se apresentando excelentes notas no Guia VOCÊ S/A-EXAME – As Melhores Empresas para Você Trabalhar e é uma das poucas a aparecer em todas as 13 edições do anuário.
Nesse período, porém, a Promon viveu a experiência mais difícil de sua existência e viu o faturamento cair de 1 bilhão de dólares para 100 milhões de dólares, em 2003. O resultado foi um doloroso corte de funcionários, que reduziu a organização a um terço do seu tamanho anterior.
Hoje, a Promon tem uma receita de 600 milhões de dólares. Agora, à frente do conselho de administração, Luiz Ernesto terá um desafio tão complexo quanto superar uma crise: ajudar a empresa a inovar e a reinventar seu futuro. Sua fórmula ele detalha na entrevista a seguir.
VOCÊ S/A - O que o senhor aprendeu nos momentos difíceis que passou na presidência?
Luiz Ernesto Gemignani - Sem dúvida, aprendi a valorizar mais as pessoas, a respeitar, a confiar nelas. Esse é um traço natural da Promon, mas nos períodos difíceis se tornou mais intenso. A Promon superou a crise dessa década e não foi por mim. Acho que fui relevante, mas foram as pessoas que, comprometidas, fizeram o que a gente esperava.
VOCÊ S/A - Numa hora de crise, que atitudes são importantes?
Luiz Ernesto Gemignani - Transparência é fundamental. O que eu mais fiz naquele período, e ainda faço, foi conversar com os funcionários para colocá-los a par do que estava acontecendo, por mais dura que fosse a realidade. Convidei todos a participar. Cheguei a ser censurado por esse comportamento.
Alguns me diziam que eu estava assustando as pessoas, que tinha gente saindo com medo do que poderia ocorrer. Eu respondia que, se alguém estava indo embora com medo do que estava por vir, que saísse. Porque eu precisava ficar com quem não tinha medo.
A franqueza e a honestidade têm uma importância fundamental. Porque as soluções nascem dessas conversas. Talvez o meu mérito tenha sido reconhecê-las.
VOCÊ S/A - Um dos desafios atuais da Promon é estimular a buscar da inovação. Como se faz isso?
Luiz Ernesto Gemignani - É uma coisa complicada. Uma empresa pode ter elementos objetivos de busca pela inovação, como processos, dinâmicas que incentivem. Mas, fundamentalmente, inovação, para mim, precisa de duas coisas. Um ambiente que valorize a inovação, em que as ideias possam circular com liberdade, que dê espaço para o erro.
Outra coisa essencial é que esteja instalada uma inquietação na pessoa. Inovar é quase comparável a um processo de criação artística. O artista pode ser dotado da melhor técnica, mas só vai criar se tiver uma musa, algo que o inspire ou o perturbe. Só a técnica não cria.
Acho que o processo pelo qual se instala essa inquietação, que pode vir de uma ameaça ou de uma oportunidade, é fazer com que o funcionário se sinta parte da companhia, que enxergue aquele desafio como sendo dele.
VOCÊ S/A - De onde vem essa inquietação do profissional?
Luiz Ernesto Gemignani - Essa inquietação pode vir, como ocorreu no início da minha gestão, de uma crise. Quando eu mostrava a dura realidade a todos, estava instalando a inquietação. Os que não se sentiam comprometidos iam embora. Os que estavam comprometidos ficavam e ajudavam a buscar a solução.
E a Promon inovou naquela época. Agora as coisas são mais difíceis, de certa maneira, porque não existe um fantasma como era a crise. A angústia atual é o que fazer diante de um campo de possibilidades. O país está crescendo, há diversas oportunidades no setor de infraestrutura, a empresa está evoluindo de maneira saudável.
Ou seja, tudo pode levar à acomodação. O risco é achar que a vida está fácil. A gente pode ter pela frente um período de prosperidade que nos realize como pessoas e como profissionais. O que eu coloco é um jogo de transparência, novamente, tentando despertar para tudo que a gente pode fazer. É uma tarefa mais difícil do que a anterior, porque na crise você tem o inimigo na frente.
VOCÊ S/A - E como as pessoas reagem? Adianta falar “você é livre para pensar o que quiser”?
Luiz Ernesto Gemignani - Quando agimos dessa maneira não acontece nada. É preciso certa dinâmica. Não existe uma técnica exata para fazer isso. É necessário conversar com os profissionais, tentar motivá-los, tentar despertá-los para essa necessidade. Por exemplo, as questões da sustentabilidade e do aquecimento global são fontes de inspiração.
Estamos desenvolvendo um projeto chamado Promon 2020, que envolve cerca de 100 pessoas e, em determinado momento, englobará todo mundo. Nós estamos contratando consultores, trazendo especialistas para vir aqui na empresa e discutir questões geopolíticas, ambientais, tecnológicas, demográficas, regulatórias, econômicas etc.
Queremos fazer com que todos construam cenários de ameaças e também de possibilidades. Ou seja, estamos dando subsídios para buscarem a inovação com informação.
VOCÊ S/A - Dê um exemplo.
Luiz Ernesto Gemignani - Fala-se no fenômeno das megacidades, causado por uma aceleração da migração da população rural para as zonas urbanas, que está criando metrópoles de milhões de habitantes. O que isso significa para a Promon? É uma oportunidade.
Durante anos, fomos um grande projetista de cidades: pontes, metrôs, túneis. Esse mercado se tornou complicado e nós saímos. Mas, se as cidades reemergem fortemente, temos de avaliar se devemos voltar a fazer projetos de infraestrutura urbana.
VOCÊ S/A - O senhor tem o hábito de conversar periodicamente com funcionários de todos os níveis. Qual a importância desse costume?
Luiz Ernesto Gemignani - É extremamente importante. A gente declara o tempo todo que as portas estão abertas, mas os funcionários têm inibições, imaginam que vão incomodar o presidente com o problema deles. Há o convite para virem, mas, como nem sempre eles vêm, eu vou até eles. Em grandes grupos, não funciona.
É preciso criar dinâmicas para dar espaço para que as pessoas falem. Isso é importante para elas e para mim. Acho que o principal sentido de um líder é o ouvido. Eu fico aqui no 14o andar. A companhia está acontecendo por aí, eu não estou vendo. Para ter sensibilidade, percepção, capacidade de julgamento, eu preciso ver o pessoal.
VOCÊ S/A - Como o senhor acha que será sua carreira daqui pra frente?
Luiz Ernesto Gemignani - Minha atuação deve se dar em um plano institucional. Continuarei a vir todos os dias, mas com um sentimento de compromisso diferente. Espero atuar de forma mais tranquila. Quero trabalhar 70% do tempo que trabalho hoje.