Os obstáculos enfrentados por mulheres não se limitam ao crescimento na carreira. Segundo a pesquisa, 47% das entrevistadas que saíram de uma empresa apontaram o assédio moral ou sexual como um dos motivos (DNY59/Getty Images)
Repórter
Publicado em 8 de março de 2025 às 08h02.
O caminho para o topo das empresas ainda é mais desafiador para as mulheres. É o que diz o levantamento da Todas Group e da Nexus - Pesquisa e Inteligência de Dados: 83% das mulheres disseram ter enfrentado barreiras para crescer profissionalmente. Entre elas, 38% relataram muitos entraves, um número que salta para 48% entre CEOs, presidentes, vice-presidentes e sócias.
A pesquisa, realizada com mulheres em cargos de liderança, revela que 71% sentem que seu trabalho não é tão reconhecido quanto o dos homens. Dessas, 12% afirmam que precisam se esforçar muito mais para serem valorizadas, enquanto 24% percebem que homens são promovidos mais rapidamente e 35% relatam diferenças sutis no tratamento.
“O estudo mostra um retrato claro dos desafios que as mulheres ainda enfrentam no mercado de trabalho, especialmente na ascensão para cargos de maior poder. Há um esforço dobrado para alcançar o mesmo reconhecimento e oportunidades que os homens recebem”, diz Marcelo Tokarski, CEO da Nexus.
A pesquisa da Todas Group e da Nexus - Pesquisa e Inteligência de Dados foi realizada entre 24 e 26 de fevereiro, com 1.203 mulheres que trabalham em grandes empresas e multinacionais. O levantamento foi conduzido de forma online, com envios direcionados à base de 25 mil mulheres membras da Todas Group. A participação foi voluntária, e apenas as respostas de entrevistadas que autorizaram e deram consentimento foram consideradas na análise dos dados.
Os obstáculos enfrentados por mulheres não se limitam ao crescimento na carreira. Segundo a pesquisa, 47% das entrevistadas que saíram de uma empresa apontaram o assédio moral ou sexual como um dos motivos, seguido de um ambiente de trabalho ruim (39%) e falta de oportunidades de crescimento (26%).
Além disso, 20% mencionaram problemas com a chefia direta, e 19% citaram a falta de flexibilidade, com regras rígidas de horário e presença física. Esses fatores indicam que a retenção de mulheres no mercado passa por ambientes mais saudáveis e políticas que favoreçam a equidade.
Enquanto barreiras dificultam o avanço profissional, alguns fatores são essenciais para a permanência das mulheres no mercado. O levantamento aponta que 44% valorizam o reconhecimento do trabalho, com critérios claros para promoções e valorização profissional. Além disso, 43% destacaram a jornada flexível como um fator decisivo.
Outros aspectos mencionados foram oportunidade de crescimento e desafios profissionais (37%), bom relacionamento com colegas e liderança (20%) e confiança e admiração na chefia direta (18%).
Apesar do desejo de crescer profissionalmente, a pesquisa mostra que a maioria das mulheres não quer avançar na carreira à custa do bem-estar. Para 46% das entrevistadas, o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal é a prioridade no momento. Em seguida, aparecem saúde mental e bem-estar (40%) e estabilidade financeira (39%).
Essa tendência é ainda mais forte entre mães (52%) e mulheres de 35 a 50 anos (50%), que veem na flexibilidade um ponto-chave para continuar no mercado.
“A pesquisa revela diferentes necessidades das mulheres no ambiente corporativo, que variam conforme a fase da vida e o cargo ocupado. Compreender esses desafios e agir sobre eles é essencial para empresas que querem reter talentos femininos e construir uma liderança mais diversa”, afirma Tokarski.
No Dia Internacional das Mulheres, muitas empresas promovem ações para valorizar suas funcionárias. Mas, segundo a pesquisa, as profissionais querem mais do que homenagens: 31% defendem que a prioridade seja a conscientização sobre a sobrecarga mental das mulheres no mercado de trabalho. O mesmo percentual acredita que desenvolvimento e capacitação feminina são fundamentais.
Além disso, 29% pedem mais flexibilidade para equilibrar vida profissional e pessoal, e 22% querem mais mulheres em cargos de liderança. A equiparação salarial entre homens e mulheres também aparece como demanda importante para 20% das entrevistadas.
Quando questionadas sobre uma única mudança concreta que gostariam de ver no 8 de março, 20% apontaram programas de aceleração de carreira, enquanto 18% escolheram a flexibilização da jornada. Para mulheres de 36 a 50 anos, essa é a principal prioridade.
O estudo da Todas Group e da Nexus reforça que, apesar dos avanços, mulheres ainda enfrentam desafios estruturais no mercado de trabalho. Para mudar esse cenário, empresas precisam ir além da diversidade nos números e investir em políticas de inclusão, retenção de talentos e reconhecimento das lideranças femininas.
“A presença feminina no topo das empresas cresce, mas os obstáculos continuam. Se queremos um mercado mais equilibrado, é essencial garantir que mulheres tenham as mesmas oportunidades e reconhecimento que os homens”, diz Tokarski.