Técnico Rogério Ceni (Bruno Haddad/Cruzeiro/Divulgação)
Luísa Granato
Publicado em 10 de novembro de 2020 às 11h32.
Última atualização em 10 de novembro de 2020 às 12h08.
O Flamengo anunciou nesta terça-feira, 10, que Rogério Ceni será o novo técnico do time. O ex-jogador deixa o comando do Fortaleza e substitui o espanhol Domènec Torrent no time carioca.
A troca já é emocionante para os torcedores pela ironia do destino: Ceni entra e terá como primeiro desafio uma disputa contra o São Paulo, seu time de origem. No entanto, o episódio também rende uma interessante (e dupla) lição de carreira.
Para José Augusto Figueiredo, presidente no Brasil da Consultoria LHH, a primeira lição não tem relação diretamente com Ceni. Não, o primeiro ponto a se observar é a saída de Dome em apenas 3 meses.
“Quando o Flamengo vai atrás de um técnico com grande nome internacional e não acha o que queria, o time trouxe Dome. Ele foi assistente do Guardiola, o maior técnico do mundo, por 10 anos. Nas empresas, muitas contratam executivos procurando dentro de empresas vencedoras, mas não checam se a pessoa tem condições para ter a liderança e a entrega necessárias”, comenta Figueiredo.
E, muitas vezes, os profissionais e as empresas erram juntos. Do lado de Dome, ele deveria ter negado uma oportunidade para a qual não estava qualificado. Do lado do time, há um erro na contratação sem verificar se o técnico cumpria os requisitos para o cargo.
“É o maior time do Brasil, a maior torcida e a maior pressão. É necessário saber quando você não está preparado para o desafio. Ele veio, ficou 3 meses e não implementou nenhum plano”, diz o especialista.
Uma das coisas mais difíceis na carreira de qualquer profissional é a escolha de novos desafios. Um passo errado pode atrasar seu progresso. E assumir uma grande responsabilidade pode significar um salto inimaginável.
E é aí que a lição com Ceni se encaixa: “No ano passado, Rogério Ceni estava no Fortaleza. Foi chamado para o Cruzeiro e não deu certo lá. Agora volta para o Fortaleza e faz um movimento parecido, abandona de novo para aceitar a proposta do Flamengo. Muitos executivos abandonam empresas sem fechar ciclos, mas acho que o caso dele é diferente: ele teve título e ciclos fechados com o time, melhorou as condições ali, mas o Fortaleza não tem mais a oferecer para ele”, conta Figueiredo.
Esse é o momento que os profissionais devem pensar em dar novos passos. Quando você deixa de aprender no trabalho atual, há um risco de estagnação do seu desenvolvimento. Se você deseja crescer, é preciso buscar algo novo.
“Na vida corporativa, você precisa avaliar quais ideias e contribuições teria para dar no novo emprego. Se você não sabe o que tem a oferecer, é melhor dizer não”, comenta.
Quanto à disputa contra o time que o formou, o especialista lembra que a vida profissional também é cheia de coincidências e reencontros com ex-empregadores.
“Acho que o perfil dele tem mais sinergia com o estilo do Flamengo, com o grau de competitividade que ele demonstra”, fala o executivo. “Na Copa do Brasil, ele perdeu contra o São Paulo nos pênaltis quando estava no Fortaleza. Agora, vai ter outra chance. Se ganhar agora, vai ser uma grande ironia”.