Jefferson Mariano, do IBGE: os setores que têm por tradição contratar pessoas com carteira assinada são majoritários no Sul e Sudeste, com grandes complexos industriais. Já no Norte e Nordeste você tem uma predominância de empreendedores e trabalhadores de conta própria (Divulgação: RafaPress/Getty Images)
Repórter
Publicado em 6 de dezembro de 2023 às 12h47.
Última atualização em 6 de dezembro de 2023 às 14h33.
O nível de ocupação no Brasil em 2022 chegou próximo da taxa registrada no período pré-pandemia. No último ano o nível de ocupação ficou em 56% frente a 56,4% em 2019, mostrando que o mercado de trabalho está se recuperando dos impactos causados pela covid-19. Esses dados foram divulgados nesta quarta-feira, 6, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O nível de ocupação considera o número de pessoas ocupadas (sejam elas CLT ou informais) dividido pelo número total de pessoas no Brasil a partir de 14 anos.
O estudo também traz dados sobre a taxa de desocupação, que mostra que o número de pessoas desempregadas foi maior entre 2020 e 2021, como um dos reflexos dos impactos da pandemia.
“A grande avalanche de desemprego aconteceu em abril de 2020 com uma grande massa de desempregados, chegando no ápice em 2021. Agora em 2022 vimos um cenário de quebra, com a taxa de desemprego entrando em retração," afirma Jefferson Mariano, analista socioeconômico do IBGE.
"Este estudo não traz os dados de 2023, mas os dados que já temos vão mostrar um cenário de recuperação econômica, ou seja, de que já passamos pelos impactos da pandemia,” afirma Jefferson Mariano, analista socioeconômico do IBGE.
O número de pessoas ocupadas no Brasil em 2022 chegou em 96.982 milhões. Apesar de representar um aumento frente a 2021, que registrou mais de 89 milhões, o estudo do IBGE mostra que a diferença entre o número de pessoas empregadas informalmente chegou muito próximo ao número de pessoas contratadas com carteira assinada no Brasil em 2022.
Em 2014 a distância maior entre pessoas ocupadas CLT e a pessoa empregada sem carteira assinada era de 10 pontos percentuais.
Em 2022, o Brasil chega a 1.2 p.p. Para o analista do IBGE, esse é um indicador de que o emprego informal vem crescendo de forma constante no país nos últimos dez anos e chega agora em 2022 no maior nível.
“Esse dado é preocupante, porque mostra a dificuldade da economia de oferecer emprego de qualidade, além de ter impacto em outras áreas, como na questão previdenciária,” diz Mariano.
Quando falamos sobre o aumento de trabalho no Brasil, estamos falando normalmente de trabalhadores domésticos sem carteira assinada, trabalhadores por conta própria e empregadores que não contribuem para a Previdência Social.
“O que vale chamar a atenção neste ponto é que homens e mulheres pretos e pardos são os que representam a maior taxa de pessoas em ocupação informal,” afirma Mariano, que reforça que esse grupo também representa a maior porcentagem de pessoas em situação de subocupação, que são pessoas que gostariam de trabalhar mais horas por dia, mas só trabalham 3 ou 4 horas, por exemplo.
A informalidade tem sido preponderante nas regiões Norte e Nordeste. Em 2022, a proporção alcançou 60,1% (Norte) e 56,9% (Nordeste), segundo dados do IBGE.
Maranhão, Pará e Amazonas foram os estados que apresentaram os maiores percentuais de ocupações informais em 2022, sendo que os três estados da Região Sul registraram as menores proporções.
“Esse dado tem relação com o maior dinamismo da estrutura econômica nessas regiões. Os setores que têm por tradição contratar pessoas com carteira assinada são majoritários no Sul e Sudeste, com grandes complexos industriais. Já no Norte e Nordeste você tem uma predominância de empreendedores, trabalhadores de conta própria e pequenos negócios que tem por característica a informalidade mais elevada,” diz Mariano.
O nível de ocupação tende a ser menor para os mais jovens entre 14 e 17 anos e para as pessoas com mais idade (60+), seja por causa da dedicação aos estudos ou pela saída da força de trabalho (aposentadoria), segundo dados do estudo.
Para profissionais entre 18 e 29 anos é possível ver uma melhora em comparação aos percentuais de 2019. Já em relação aos profissionais entre 30 e 59 anos é possível ver uma tímida queda no nível de ocupação, em comparação ao cenário antes da pandemia.
Na pandemia o número de jovens entre 15 e 29 anos que não estudava nem trabalhava chegou no ápice representando 28% do total.
“O estudo mostra que houve uma queda desse número e isso é um resultado positivo, porque representa uma recuperação dos jovens no mercado de trabalho, mas há também um novo alerta. Boa parte dos jovens só trabalha, ou seja, não está se qualificando”, afirma Mariano, que diz entre alguns problemas que justificam essa falta de investimento em educação, é a taxa baixa de ingressos desses jovens em universidades, ou seja, a falta de acesso.
O percentual de jovens que não estudam e não trabalham entre as mulheres (28,9%) é quase o dobro do que entre os homens (15,9%).
“Homens conseguem fazer uma melhor transição escola-trabalho do que mulheres, que são as principais responsáveis pelo trabalho doméstico e cuidado de parentes,” diz Mariano.
O estudo mostra que com o motivo de cuidar dos afazeres domésticos, dos filhos ou outros parentes, mulheres deixam de atuar no mercado de trabalho, e esses problemas sociais reforçam a importância de medidas para estimular a presença feminina no mercado de trabalho, afirma Mariano.
“Esse resultado justifica a importância de pensar em políticas públicas para cuidar das crianças, idosos e pessoas com deficiência no país, para permitir uma participação das mulheres no mercado de trabalho e no combate à desigualdade social, uma vez que muitas mulheres são chefes de família no Brasil,” afirma Mariano.