Carreira

Hora de mudar

Em meio ao bom momento da economia, alguns setores da indústria brasileira enfrentam dificuldades. Saiba como agir quando a sua área está em crise

Nilton Silva, diretor comercial da Bronze Arte Iluminação: "Um mês antes do fechamento da fábrica, eu já estava com emprego novo" (Raul Junior/EXAME.com)

Nilton Silva, diretor comercial da Bronze Arte Iluminação: "Um mês antes do fechamento da fábrica, eu já estava com emprego novo" (Raul Junior/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 5 de abril de 2013 às 13h48.

São Paulo - A economia brasileira teve um desempenho em 2010 que há tempos não se via. Estima-se que o Produto Interno Bruto (PIB), soma de todas as riquezas produzidas pelo país, chegue a 7% no ano, o que é um número histórico. O cenário positivo deve estimular as empresas a abrir novos postos de trabalho. Uma pesquisa da Manpower com 800 companhias no Brasil mostra que 40% delas pretendem contratar ainda no primeiro trimestre de 2001. 

Mas, em meio ao otimismo geral, há setores da indústria que vêm passando por uma fase de retração e os profissionais vivem um momento complicado na carreira enquanto a maioria do mercado comemora. "Há uma preocupação, principalmente entre as multinacionais, sobre os custos da mão de obra brasileira", diz Axel Werner, diretor da consultoria Kienbaum, que presta serviços na área de recursos humanos para muitas indústrias europeias instaladas no país. "A vida não está fácil para profissionais dessas indústrias", afirma. 

Durante o semestre passado, discutiu-se no Brasil a hipótese de o país viver um processo de desindustrialização, no qual a economia brasileira se voltaria para a produção de bens primários, deixando de lado as indústrias de alta tecnologia. A questão está associada à valorização do real, que torna pouco atraente no exterior o preço dos produtos fabricados no Brasil.

Para piorar, existe a forte infl uência mundial dos países asiáticos, principalmente a China, em franca evolução de qualidade e produtividade de seus produtos manufaturados. Um caso exemplar foi o fechamento da fábrica de lâmpadas automotivas da Philips, localizada em Recife, que ocorreu no mês passado e terminou com o corte de 400 funcionários. 

A companhia optou por fabricar as peças na China, onde os custos são menores. A questão de carreira, para quem trabalha em um mercado que vive essa crise, é: insistir numa empresa que vive dificuldades ou tentar uma vaga num outro setor, já que o cenário é propício para trocar de emprego.

Para Irene Azevedo, da DBM, consultoria de recursos humanos com escritório em São Paulo, os primeiros sinais de que o negócio não anda bem são as reduções de custo, com a diminuição de algumas despesas e, posteriormente, alguns cortes. "Hoje em dia todo mundo deve estar antenado com rumo da economia para, se for o caso, traçar uma estratégia para mudar de área", diz Irene. 

Em meio a um setor em crise, muitos profissionais podem ficar estagnados ou, até mesmo, perder o emprego. Para que isso não aconteça, o primeiro passo deve ser montar um plano de transição. Rafael Souto, diretor executivo da Produtive, consultoria especializada em transição de carreira, afirma que existem ao menos três opções para trabalhadores de qualquer ramo de atuação.


A primeira é, obviamente, dentro do próprio setor. A segunda, em mercados análogos, em que o trabalho é parecido. "A terceira é a construção de fontes alternativas de renda, como dar aula, ser consultor ou montar um negócio próprio", diz Rafael.

Novos conhecimentos

Conhecendo as possibilidades, o profi ssional deve fazer, então, uma refl exão, avaliando, primeiramente, em quais cenários ele pode ser competitivo, depois qual é o seu mercado alvo e, por fi m, como desenvolver um relacionamento para acessar esse mercado. 

O engenheiro elétrico Nilton Silva, de 45 anos, era gerente de unidade de negócio de lâmpadas especiais da Philips quando a companhia começou a dar indícios de que fecharia suas operações, no fi nal do ano passado. Ao perceber o movimento, ele agiu rapidamente para não fi car desempregado.

"Um mês antes do fechamento da fábrica, eu já estava com emprego novo", diz Nilton, que hoje é diretor comercial da Bronze Arte Iluminação, empresa do mesmo setor, mas com uma importante diferença: não é uma fábrica. "Importamos produtos e montamos aqui", diz. Outra medida importante para não ser pego por uma crise setorial é a reciclagem contínua dos conhecimentos e competências. É a melhor maneira de prevenção. Para planejar uma atualização, é preciso realizar uma autoanálise de quais são as habilidades e características adquiridas ao longo da carreira e quais estão faltando. 

"Se o profi ssional já tem uma formação forte no seu ramo de atuação, ele deve fazer cursos que dão mais visão de negócio. Se a formação é mais generalista, os cursos devem ser ligados a sua atividade principal", afi rma Rafael, da Produtive. O administrador Leonardo Silva, de 36 anos, gerente executivo de marketing da Icec, empresa de construção civil com escritório em São Paulo, é um exemplo de profi ssional que já fez transições entre setores diferentes. 

Depois de muitos anos em uma montadora de carros, migrou para um banco e agora está no ramo de construção civil. Para ele, tão importante quanto adquirir diferentes habilidades, é se tornar referência em sua atividade, independentemente do ramo em que atua. Para isso, investe permanentemente em aquisição de conhecimento em sua área de trabalho. "Quando você faz transição, mudam os setores, mas a forma de fazer é praticamente a mesma", diz Leonardo. 

Marcelo Mariaca, headhunter e especialista em transição de carreira, adverte, no entanto, que as pessoas não devem alimentar a ilusão de que podem trabalhar em qualquer lugar. Mesmo com a economia aquecida, as organizações seguem muito seletivas na hora de contratar. "É importante criar um plano de ação considerando os segmentos em que você tem maior competitividade", diz. 

O profi ssional também não deve aceitar qualquer trabalho. Ao receber uma oferta de emprego, é preciso analisar três fatores: remuneração, projeto e empresa. Ou seja, quanto vai ganhar, se o projeto é desafi ador e se a companhia tem visibilidade. "É importante que haja vantagem clara em pelo menos dois aspectos", diz Rafael Souto.

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