A funcionária pública Ana Luzia Machado: ela trocou de banco e vai pagar juro mais baixo no financiamento (Claudio Rossi/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 19 de março de 2013 às 14h30.
São Paulo - Ao chegar à agência da Caixa Econômica Federal (CEF)para assinar o contrato de financiamento de seu imóvel, no dia 9 de abril, Ana Luzia da Silva Machado, de 37 anos, funcionária da prefeitura de São Bernardo do Campo, em São Paulo, saiu duplamente satisfeita.
Além de ver o sonho da casa própria mais próximo, soube pela gerente que a Caixa havia reduzido drasticamente os juros do crédito ao consumidor a partir daquele dia.
Convidada pela gerente a migrar a sua conta salário para o banco, ela aceitou na hora. “Resolvi aproveitar os benefícios”, diz a funcionária pública, referindo-se às vantagens que conquistou com a troca de banco: isenção de taxa para a manutenção da conta, cartão de crédito sem anuidade e redução dos juros de várias operações de crédito.
“O melhor é que não precisei contratar nenhum produto para obter melhores preços”, afirma. A partir de agora, se ela precisar utilizar o cheque especial, vai pagar uma taxa máxima de 3,5%, ante os 8% cobrados pelo banco anterior. Na ponta do lápis, ela terá de desembolsar quase metade do valor se precisar contar com reforço financeiro no orçamento.
O caso de Ana Luzia reflete o que está acontecendo no setor bancário desde que o governo deflagrou, no mês passado, a operação de “guerra dos juros”. O movimento de redução das taxas para o crédito ao consumidor iniciada pelos bancos públicos espalhou-se como fogo em palheiro e chegou à porta das instituições privadas.
Receosas com a ameaça de uma debandada de clientes em busca de menores taxas nas linhas de crédito, os bancos particulares tiveram de ceder e seguir o movimento de baixa. Financeiras, concessionárias de veículos e varejo também entraram na ciranda e já estão mexendo nos juros de suas operações.
Vale trocar de banco?
Quando começou a ser bombar-deado com notícias e anúncios de redução das taxas de juros, o consumidor passou a se questionar se deveria ou não mudar de banco. O consultor de finanças pessoais André Mafaro tem uma resposta direta para a questão: “Quem está endividado não tem o que pensar. É a oportunidade de renegociar as dívidas”, diz. O processo é fácil? “Não, mas não é tão complicado”, afirma André.
Ele explica que o novo banco certamente será criterioso na condução da renegociação. Além disso, pedirá em troca que o interessado migre sua conta. O primeiro passo é achar o banco para o qual pretende migrar, ir até uma agência e conversar com o gerente para ver o que ele tem a oferecer.
As instituições financeiras já deixaram claro que as melhores condições irão para os correntistas que decidirem receber seu salário no banco. A conta salário é a garantia de um depósito mensal no caixa da instituição financeira. Para o cliente, esse movimento pode facilitar a aquisição de linhas de crédito mais alongadas e baratas. É a hora de colocar as contas em ordem.
O consultor também recomenda cuidado na renegociação, lembrando que o cheque especial e a rolagem da dívida no cartão de crédito são operações caras e devem ser evitadas. Em uma simulação, ele mostra que uma dívida de 1 000 reais no cartão de crédito pode se transformar em 1 milhão de reais em cinco anos. O empréstimo consignado e o crédito pessoal são opções melhores e menos arriscadas para a rolagem do débito.
Para quem não tem dívidas, sugere André Mafaro, é melhor aguardar para ver onde vai dar essa guerra dos juros. Quando sentir que os cortes estão próximos da estabilização, o consumidor deve começar a comparar os custos de administração de suas finanças nas demais instituições, levando em conta, por exemplo, os preços cobrados nas taxas de administração dos fundos de investimentos, nos pacotes de serviços e na contratação de crédito.
Com os valores nas mãos, ele deve procurar seu atual gerente e negociar melhores condições de crédito. Se não conseguir, aí sim a saída é procurar outra instituição para cuidar do dinheiro.
O diretor-presidente do Instituto de Pesquisa Fractal, Celso Grisi, alerta o consumidor a não caiar na tentação e sair comprando só porque os juros caíram. De acordo com André, as taxas mais baixas não devem ser encaradas como um convite para contrair novas dívidas. “O momento é para resolver, não para se endividar mais.”
Efeito imediato
Uma coisa é certa: a pressão do governo federal para que os bancos reduzam o preço do crédito ao consumidor, como forma de aquecer a economia em tempos de turbulência financeira mundial, está surtindo efeito. O governo está fazendo a sua parte ao reduzir pela sexta vez consecutiva, em abril, a taxa Selic, o juro básico da economia, levando-a ao menor patamar dos últimos dois anos.
Com isso, os bancos gastam menos para captar dinheiro no mercado e podem repassar a vantagem ao consumidor, oferecendo taxas melhores. Isso levou o Banco do Brasil (BB), o primeiro a responder aos apelos do governo, a anunciar mais cortes nas taxas num mesmo mês e inaugurar uma nova etapa de reduções de juros, que já recebeu a adesão da Caixa.
Em meio a tudo isso, o consumidor aparece como protagonista do processo, disputado acirradamente entre as instituições financeiras. Mas essa história só está começando.
Ainda há muitos ajustes a serem feitos. De acordo com Miguel de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), as novas taxas não contemplam todos os consumidores.
Isso porque a maioria dos bancos anunciou cortes apenas nas taxas mínimas de produtos, como cheque especial, cartão de crédito, crédito pessoal e financiamento de veículos, sem definir o juro máximo cobrado nas operações, o que deixa um intervalo enorme entre o piso e o teto, sem ficar claro qual o preço médio que o consumidor vai pagar.
Critérios confusos
Um exemplo que mostra essa distorção são as novas taxas anunciadas pelo HSBC para o cheque especial. A instituição derrubou o piso para 1,39% ao mês, um dos mais baixos do mercado — só perde para a Caixa e para o BB.
No entanto, a taxa máxima, de 9,74%, é uma das mais altas. A diferença entre uma e outra é gritante. Com isso, a variação de custo para a utilização de um montante de 2 500 reais durante 30 dias no banco inglês pode variar de 34,75 reais (na taxa mínima) a 243,50 reais (na máxima).
O mesmo acontece para o financiamento de um carro. Dependendo da taxa cobrada pelo banco, o valor do veículo pode mais que dobrar. O especialista em finanças pessoais André Mafaro chama a atenção para a diferença que faz no final das contas uma pequena queda da taxa.
Em uma simulação, ele mostra que a redução de 0,5 ponto percentual no juro contratado de um crédito de 10 000 reais com prazo de um ano pode significar uma economia de 600 reais no período. Se o prazo for estendido para três anos, o tomador do empréstimo poderá desembolsar 2 000 reais a menos. “O consumidor precisa começar a olhar o custo total do crédito, e não o valor da prestação. Essa é uma boa hora para isso”, afirma André.
Outro ponto obscuro da nova política de juros são os critérios adotados pelos bancos para oferecer uma taxa mais atrativa ao cliente. Além de levar em conta o relacionamento com a instituição, que em outras palavras significa a quantidade de produtos financeiros adquiridos, como seguros e investimentos — uma política sem novidades —, a taxa mais barata está mais perto de quem fizer a migração da conta salário para uma nova instituição, como fez a funcionária pública Ana Luzia.
No Banco do Brasil, os clientes que levarem sua conta salário para o banco terão, por exemplo, seu custo do crédito rotativo do cartão reduzido de 13% para 3% ao mês, e pagarão o mesmo preço para refinanciar a dívida do cheque especial, após 60 dias de uso, em um prazo de 24 meses.
De olho nos benefícios
A Caixa Econômica Federal criou o programa Caixa Melhor Crédito com a intenção de aumentar sua clientela, oferecendo atrações especiais para quem optar por receber o salário pelo banco estatal. Entre os benefícios estão isenção de tarifas, refinanciamento de dívidas, prazos alongados e melhores taxas.
Para ter uma ideia do incentivo aos novos correntistas assalariados, no corte de juros para o financiamento de geladeira, computador e máquina de lavar, por exemplo, a Caixa derrubou a taxa de 5,40% para 3,38% ao mês, mas quem recebe o salário pela instituição pagará juro mensal de 1,80%, custo que só perde para o do BB (1,60%).
Com as medidas, a Caixa pretende aumentar o número de correntistas. “Nossa meta é fechar o ano com 2 milhões de clientes a mais”, diz Fábio Lenza, vice-presidente de pessoa física da Caixa.
Para atender à demanda, a Caixa disponibilizará 300 bilhões de reais em crédito ao consumidor neste ano, incluindo o financiamento habitacional — neste caso, os cortes às operações de financiamento imobiliário foram de até 21% —, um acréscimo de 24% sobre 2011. E os números mostram que o assédio dos bancos sobre os consumidores está dando resultado.
Nos cinco primeiros dias de vigência das novas taxas na Caixa, os financiamentos para a pessoa física cresceram 17% sobre a semana anterior e a base de clientes avançou 11%. No Banco do Brasil, o volume de operações de crédito para pessoas físicas aumentou 45% até o dia 20 de abril.
Há muito dinheiro disponível no mercado para emprestar ao consumidor. Portanto, fique atento a quem oferece as melhores condições de empréstimo. Com disciplina, é possível contrair dívida para realizar sonhos de curto, médio e longo prazos. Mas veja se o valor da parcela cabe no bolso.