Googlers no escritório da empresa em São Paulo: diversão e responsabilidade num mesmo lugar (Raul Junior/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 21 de março de 2013 às 19h24.
São Paulo - Imagine uma organização democrática, onde as decisões são tomadas em conjunto, onde a pessoa no cargo mais baixo tem o mesmo plano de saúde do presidente, onde há chocolates à disposição nas mesas e o pessoal toca jazz e faz happy hour ao fim do expediente — ali mesmo, no escritório.
Assim é o Google. Mas esta empresa dos sonhos dos jovens não é para qualquer um. De acordo com a diretora de recursos humanos para a América Latina, Mônica Santos, a companhia só quer lá dentro gente com o perfil googlers, ou seja, que conheça bem sobre a atividade profissional, com princípios de liderança intrínsecos (que tenha formado uma banda, por exemplo), pense rápido e sugira soluções, e tenha afazeres interessantes além do ambiente de trabalho — como é o caso do contador que nas horas vagas trabalha como palhaço. Por causa disso, um processo seletivo chega a demorar seis meses.
Toda essa exigência tem um motivo. Segundo reconhecem os jovens, o Google é formado por pessoas inteligentes, interessantes e empreendedoras. “Você pode estar na mesa do café e puxar uma conversa com qualquer um e falar sobre música, política, economia, filosofia”, diz um empregado. E, em um desses bate-papos, quem está ao lado, de jeans e camiseta, conversando informalmente, pode ser um importante diretor internacional de negócios.
A relação entre chefe e equipe é assim também — informal. “Eu jogo Rock Band com meu chefe”, diz um jovem. Até o próprio presidente do Google no Brasil, Fábio Coelho, senta para conversar com o time todo, uma vez por semana, por uma hora, sobre os mais diversos assuntos da empresa.
Tanta proximidade faz a moçada idolatrar seus líderes. “O meu é o melhor gestor do mundo”, diz uma colaboradora. Um funcionário conta que, quando era estagiário e, portanto, sem direito legal a férias, pediu para o chefe uma semana de descanso, para viajar com os amigos. “Ele deixou. Achou ótimo eu aproveitar a vida.”
Outro avisou à gestora que pretende se tornar diretor em cinco anos. Como reagiu a líder, uma estrangeira baseada num escritório fora do Brasil? “Ela vibrou e disse para traçarmos meu plano de desenvolvimento.” Alguns gestores seniores do mundo todo se candidataram para ser gurus de carreira dos profissionais.
Numa página internacional, os empregados acessam o perfil dos gurus, conhecem sua trajetória e bloqueiam sua agenda para um bate-papo. “Geralmente, são duas ou três conversas, por telefone ou computador se o mentor for estrangeiro, para tirar dúvida e ouvir conselhos de carreira”, diz um jovem.
Os googlers também têm oportunidade de se candidatar a vagas internacionais. Mas, caso alguém não queria trocar de país, pode optar por um intercâmbio de um mês, um trimestre ou um ano em qualquer operação global. A única exigência é ter no mínimo 12 meses de empresa para quem quer passar um ano fora. “O aprendizado é constante, on the job”, diz um jovem. “Aqui, você é o seu gestor, você coordena o seu trabalho.”
E como está a quantidade de serviço? Tem profissional há quatro anos na companhia que poucas vezes precisou sair depois das 18h30 (entrando às 8h30). Alguns levam o trabalho para casa, mas não enxergam isso como algo negativo. “A gente se conecta, vê e-mail, vê quem está conectado, e acaba fazendo algumas coisas”, diz uma moça.
Eles também têm liberdade para trabalhar de casa — o Google reembolsa a banda larga do computador e do celular. Mas, segundo a executiva de recursos humanos, “eles vêm para o escritório porque curtem o ambiente”.
Na sede de São Paulo, são oferecidos café da manhã, almoço, jantar e lanchinhos preparados pela própria chef de cozinha da empresa; há videogames, mesas de jogos e até verba para personalizar as mesas. Entre os benefícios diferenciais da organização estão licença-paternidade de um mês, aumento todo ano (além do dissídio e independente de promoções), estacionamento de graça e direito a ações da companhia.
Os googlers têm uma verba de 16 000 reais por ano para gastar com estudos (75% da mensalidade é bancada pela empresa), sendo que 20% desse valor pode ser gasto com cursos “inspiradores”, como culinária, fotografia, canto. Curso de inglês e espanhol sai de graça. Por tudo isso, quando um novato chega à organização, os outros já reconhecem aquele olhar deslumbrado.
“A pessoa quer comer todos os chocolates espalhados pelas mesas ou ficar na sala de jogos”, dizem os jovens. “Mas logo ela percebe que aqui é uma empresa normal. Por mais que tenha um ambiente informal, temos de ter cabeça e cumprir nossas metas."