(Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Bloomberg
Publicado em 2 de junho de 2021 às 10h40.
Última atualização em 2 de junho de 2021 às 10h54.
Uma reunião de seis minutos levou Portia Twidt a pedir demissão.
Ela assumiu o cargo de pesquisadora especialista em compliance em fevereiro, atraída por promessas de trabalho remoto. Então, veio o incentivo para retornar ao escritório.
A gota d’água veio há algumas semanas: o pedido para um encontro presencial, programado para durar 360 segundos. Twidt se vestiu, deixou os dois filhos na creche, dirigiu até o escritório, teve uma breve conversa e decidiu que bastava.
Com a pandemia retrogredindo à medida que a vacinação avança, a pressão de alguns empregadores para que funcionários retornem ao escritório está se chocando com aqueles que consideram o trabalho remoto o novo padrão.
Enquanto empresas de Google até Ford Motor e Citigroup prometem maior flexibilidade, muitos diretores executivos exaltaram publicamente a importância de retornar aos escritórios. Alguns lamentaram os perigos do trabalho remoto, dizendo que diminui a colaboração e a cultura da empresa. Jamie Dimon, do JPMorgan, disse em uma conferência que o modelo não funciona “para aqueles que querem se esforçar”.
Mas muitos funcionários não têm tanta certeza. O ano passado provou que muito trabalho pode ser feito de qualquer lugar, sem longas viagens em trens lotados ou rodovias. Algumas pessoas voltaram ao escritório. Outras têm preocupações persistentes sobre o vírus e colegas que hesitam em tomar a vacina.
Para Twidt, há também a noção de que alguns chefes, especialmente aqueles de uma geração menos familiarizada com o trabalho remoto, estão ansiosos para recuperar o controle rígido perante seus subordinados. “Eles acham que não estamos trabalhando se não puderem nos ver”, disse.
Ainda é cedo para dizer como será o ambiente de trabalho pós-pandemia. Apenas cerca de 28% dos trabalhadores nos EUA retornaram aos escritórios, segundo um índice da empresa de segurança Kastle Systems com dados de 10 áreas metropolitanas. Muitos empregadores ainda estão sendo tolerantes, pois o vírus perdura, as vacinações continuam a ser implementadas e as condições nas creches permanecem irregulares.
Mas, à medida que retornos aos escritórios aumentam, alguns funcionários podem querer opções diferentes. Uma pesquisa com 1.000 americanos mostrou que 39% considerariam se demitir caso seus empregadores não fossem flexíveis sobre o trabalho remoto. A diferença geracional é clara: entre a geração Y e a geração Z, esse número era de 49%, de acordo com pesquisa da Morning Consult para a Bloomberg News.
Falta de deslocamento e economia de custos são os principais benefícios do trabalho remoto, segundo pesquisa da FlexJobs com 2.100 pessoas. Mais de um terço dos entrevistados disseram que economizam pelo menos US$ 5.000 por ano ao trabalhar em casa.
Claro, nem todos têm flexibilidade para escolher. Para os milhões de trabalhadores da linha de frente que enchem as prateleiras dos supermercados, cuidam de pacientes em hospitais e asilos ou deixam entregas na porta de casas, há poucas opções alternativas a não ser comparecer pessoalmente.
Mas entre os que podem, muitos estão avaliando alternativas, disse Anthony Klotz, professor associado de administração da Texas A&M University, que pesquisou por que as pessoas pedem demissão. Os chefes que assumem uma postura rígida devem tomar cuidado, principalmente devido à escassez de mão de obra na economia, afirmou.
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