São Paulo — Se a notícia de uma demissão já é dolorosa em tempos de prosperidade, que dirá em meio à forte crise que atinge a economia e o mercado de trabalho no Brasil.
Se aconteceu com você, lembre-se que não está sozinho. O problema avança a galope no país desde janeiro do ano passado — fechamos o primeiro trimestre de 2016 com 11,1 milhões de desempregados — e o pessimismo só cresce.
À onda de desligamentos se soma a dificuldade de se recolocar no mercado. Dados de maio deste ano revelam que 11 em cada 100 brasileiros em plenas condições de trabalho não conseguem encontrar um empregador.
Num contexto tão desanimador, ser dispensado de um emprego pode adquirir contornos ainda mais dramáticos do que o habitual. Mas como não deixar que o desespero tome conta da situação?
Com a ajuda de três especialistas, EXAME.com elaborou um passo a passo para transformar a demissão num acontecimento mais "digerível" na crise. Confira:
1º Permita-se ficar triste
O impacto emocional de um desligamento é inevitável. É natural que a primeira reação seja olhar para o ex-empregador com mágoa e raiva, diz Mônica Ramos, diretora da consultoria de recursos humanos LHH.
Essa resposta não deve ser reprimida. “Os sentimentos negativos precisam aparecer”, explica ela. “É preciso viver o luto, não suprimi-lo”. Só depois de sofrer o suficiente, você terá condições de olhar para a situação com serenidade e entender os motivos que levaram à sua demissão — um primeiro passo fundamental para conseguir se restabelecer.
2º Peça para a empresa explicar (de verdade) o motivo da dispensa
De acordo com Ricardo Karpat, diretor da consultoria Gábor RH, muitas empresas justificam demissões com a alegação de que “foi preciso cortar custos”. É importante não se contentar com essa explicação meramente protocolar, diz o especialista.
“Mesmo que a sua dispensa tenha sido realmente motivada por um enxugamento de despesas, há uma razão para você ter sido escolhido para sair, e outros não”, explica. Um feedback mais aprofundado ajudará você a descobrir suas lacunas técnicas e comportamentais, e assim se preparar melhor para as próximas oportunidades.
3º Ofereça-se para cumprir o aviso prévio
Para Karpat, é importante se disponibilizar a trabalhar durante o período do aviso prévio, previsto em lei. Isso permite que a “passagem do bastão”, se houver, seja feita de forma tranquila e adequada.
Cuidar da transição transmitirá seriedade, equilíbrio e profissionalismo. Quem mais ganha é a sua reputação: com uma impressão positiva do seu comportamento, a empresa poderá dar indicações e boas referências sobre você para o mercado.
4º Conheça e faça valer os seus direitos
Quais são os motivos para uma demissão por justa causa? Uma mulher pode ser dispensada logo após a licença-maternidade? Qual é o tempo máximo para buscar direitos trabalhistas após o término do contrato? Como calcular quanto você deve receber ao ser demitido?
É importante saber o que você pode (e deve) exigir de um empregador que decide desligá-lo. Além de dar dignidade à sua saída, acertar as contas com a empresa — sempre de forma firme, porém diplomática — dará algum fôlego financeiro para o seu período de transição.
5º Faça um bom planejamento financeiro
Diante da crise, pode demorar um tempo até você conseguir um novo emprego. “É importante saber quanto você vai receber de verbas rescisórias e avaliar as suas reservas para saber por quanto tempo você consegue sobreviver com o que tem”, diz Karpat.
Esse estudo financeiro ajudará a tomar decisões mais acertadas, inclusive do ponto de vista da carreira. A depender dos valores da sua conta bancária, você saberá quais propostas negar ou aceitar, e se precisa buscar fontes alternativas de renda enquanto não encontra algo mais estável, por exemplo.
6º Busque qualificação
Karpat aconselha destinar pelo menos uma parte das verbas rescisórias para o seu próprio aprimoramento profissional. Cursos de curta duração ou até aulas de idioma podem ajudá-lo a se preparar melhor para um mercado cada vez mais exigente.
Segundo Karina Freitas, diretora da consultoria STATO, investir em desenvolvimento após uma demissão é uma medida duplamente estratégica: além de adquirir novas competências, o profissional mostra ao mercado que está interessado em melhorar. “É uma forma de dizer que você está reagindo, que não é uma vítima e sim um protagonista”, explica.
7º Crie uma estratégia para vender os seus talentos
O passo seguinte é montar uma estratégia de “vendas”, em que o “produto” é a sua força de trabalho. Segundo Freitas, é preciso mapear os seus diferenciais competitivos, a faixa de remuneração desejada e os valores que você busca em um potencial empregador.
Também é fundamental fazer perguntas críticas sobre o mercado. Quais são as necessidades mais urgentes das empresas? Qual é o perfil de profissional mais buscado na sua área? Que competências estão em alta? As respostas serão fundamentais para atualizar o seu currículo e montar um plano de recolocação.
8º Calibre seu discurso e mergulhe de cabeça no networking
O último passo é se preparar para possíveis entrevistas. “Monte um discurso interessante e coerente, que consiga se sustentar mesmo diante de perguntas difíceis”, orienta Freitas. Ser sucinto é obrigatório: um profissional em início de carreira deve conseguir contar sua história em até 5 minutos, enquanto 10 minutos devem ser suficientes para um executivo mais maduro.
Outra prática fundamental é investir na sua rede de contatos. “Vá atrás de pessoas que você também pode beneficiar de alguma forma, já que o networking é uma via de mão dupla”, diz Ramos. Também é importante não ter medo de se expor: quanto mais pessoas souberem que você está buscando uma oportunidade, mais chances você terá de encontrá-la.
-
1. Mudança de rota
zoom_out_map
1/11 (Thinkstock/chochowy/Thinkstock)
São Paulo - Mudar de carreira é tarefa para os fortes. São muitas as dúvidas, incertezas e dificuldades do processo - para não falar na falta de compreensão ou mesmo de apoio de familiares e amigos.
A decisão, contudo, pode marcar o início de uma vida muito mais feliz, leve e realizada: sem o peso de uma profissão que já não faz sentido, há todo um novo mundo a ser explorado e, com sorte, conquistado.
Nesta galeria, você conhecerá as histórias de 10 pessoas que escolheram alterar sua rota profissional e não se arrependem do movimento. Os profissionais retratados são oriundos de áreas tão diversas quanto medicina, direito, comunicação, gestão, TI e artes, e decidiram apostar em carreiras por vezes radicalmente opostas à sua formação original.
Pensa em fazer o mesmo? Clique nas imagens a seguir e inspire-se nestas 10 histórias relatadas com exclusividade a EXAME.com.
-
2. Marcos Amaro
zoom_out_map
2/11 (Divulgação/Divulgação)
Filho do comandante Rolim Amaro, fundador da TAM, Marcos começou sua carreira na empresa do pai, como trainee. Algum tempo depois se tornou sócio das Óticas Carol, que sob sua batuta se firmou como uma das maiores redes de óticas do Brasil. Em 2013, decidiu vender tudo para fazer uma mudança radical: tornar-se artista plástico. Desde então, tem feito exposições de seus trabalhos em cidades como São Paulo, Zurique e Miami. Paralelamente é sócio minoritário de duas empresas ligadas ao mercado imobiliário e a serviços de wealth management, que, segundo ele, ocupam cerca de 10% do seu tempo.
Quando percebeu que queria mudar de carreira?
Marcos diz que sempre gostou de desenhar e não se lembra de um momento da sua vida em que não se sentisse envolvido pela arte. A venda das Óticas Carol teve algo de estopim e de pretexto para mudar de profissão. “Foi um processo longo, de amadurecimento, até eu me permitir expressar um lado que sempre me acompanhou”, explica ele.
Quais foram as maiores dificuldades do processo?
O artista plástico acredita que o principal obstáculo para a transição foi vencer resistências próprias e alheias - ainda mais diante de uma mudança tão radical. “No fundo, a dificuldade é lutar para respeitar a sua própria natureza e ser genuíno consigo mesmo”, diz.
Qual é o segredo para uma boa transição de carreira?
De acordo com Marcos, persistência, disciplina e organização são ingredientes fundamentais para o processo. “O segredo é combinar vontade e oportunidade, disposição e disponibilidade para a transição”, afirma o artista. Também é necessário resistir ao julgamento alheio: você precisará defender a sua autenticidade, diz ele, mesmo que isso não agrade a todo mundo.
-
3. Manuela Villela
zoom_out_map
3/11 (Divulgação/Divulgação)
Aos 18 anos, Manuela via a odontologia como a profissão perfeita para ela. Filha de dentista, ela se graduou na UFRJ, dando início a uma carreira bem-sucedida na área. Com apenas quatro anos de formada, ela já trabalhava mais de 10 horas por dia e atuava como dentista da Marinha. “Não tinha do que reclamar, ganhava bem, viajava”, conta. “Mas não me identificava verdadeiramente com a profissão, não era feliz”. Na busca por uma alternativa à odontologia, ela acabou sendo contratada por uma agência de publicidade e branding e, dois anos mais tarde, entrou para a equipe do Google. Atualmente é gerente de parcerias no YouTube.
Quando percebeu que queria mudar de carreira?
Manuela se lembra bem de uma conversa com sua mãe, em que ela disse que a filha havia vencido, chegado ao topo, mas parecia infeliz. “Isso me petrificou, porque percebi que aquilo estava estampado na minha cara”, conta ela. Em seguida, ela se casou e se mudou para São Paulo. Recomeçar a vida do zero numa cidade nova foi a oportunidade perfeita para migrar de área profissional. O processo durou cerca de 9 meses. “Durante uma viagem com amigos, comentei que estava mudando de carreira e uma amiga me perguntou se não poderia ser para vendas”, diz Manuela. “Eu ri e disse que não, pois era dentista, mas ela me respondeu: ‘E daí? Eu te contrataria…’”. A partir desse momento, ela passaria a enxergar novas possibilidades.
Quais foram as maiores dificuldades do processo?
Manuela confessa que não foi fácil abandonar uma carreira promissora, com bom salário, para fazer uma aposta incerta. “Minha familia ficou arrasada, meu pai mal falava comigo”, conta ela. “Eu tinha a sensação de estar jogando fora uma vida de estudos e dedicação”. Na época em que era trainee de uma agência de branding, seu salário era muito inferior ao que ela tinha antes. Outro desafio: a sensação de estar sempre atrás dos demais. “Eu estudava muito e me esforçava ao máximo, pois não queria perder tempo”, diz a gerente do YouTube.
Qual é o segredo para uma boa transição de carreira?
Foco, determinação e maturidade foram o segredo para que sua história profissional tivesse um desfecho feliz, diz Manuela. Para outras pessoas que querem mudar de carreira, seu conselho é ter um ótimo planejamento financeiro, além de muita resiliência. Ela também diz que é preciso colocar o foco nas suas próprias qualidades. “Você se comunica bem? É bom em planejamento? Quais são os seus destaques? Ensaie o discurso e escolha as empresas que podem estar procurando o seu perfil”, recomenda.
-
4. Thais Perez
zoom_out_map
4/11 (Divulgação/Divulgação)
Publicitária formada na Faap e com MBA em marketing pela ESPM, Thaís trabalhou em empresas como Reebok, Microsoft, Fox e Yahoo!. Após dez anos dedicados ao mundo corporativo, ela decidiu mudar tudo e abrir um centro de equoterapia: a Estância Tordilha. Sediado em Indaiatuba (SP), o centro aplica métodos terapêuticos e educacionais centrados em cavalos, com foco em crianças especiais. “Todo dia tenho metido minhas mãos e meus pés em serragem, feno e estribos”, conta ela. “Desde que foi criada, a Estância tem possibilitado a transformação de muitas vidas, a começar pela minha”.
Quando percebeu que queria mudar de carreira?
A frieza dos escritórios corporativos, as longas jornadas e as incontáveis demandas do dia a dia, lembra Thaís, começaram a minar sua motivação para o trabalho. “Entendi que a raiz da minha frustração estava no desequilíbrio entre o que eu fazia e o que eu realmente gostaria de fazer”, diz ela. “Queria trabalhar com um propósito, com algo que pudesse transformar vidas para melhor”. Foi então que, por meio de uma amiga, Thaís descobriu a equoterapia. “Quando vi pela primeira vez uma criança especial em cima do cavalo, feliz, viva, sendo criança, em um ambiente ao ar livre, vi que tudo fazia sentido, vidas eram transformadas, os resultados eram incríveis”, diz ela.
Quais foram as maiores dificuldades do processo?
Thaís fez uma transição organizada: depois de muito conversar com pessoas envolvidas no mundo da equoterapia e experimentar a área de forma voluntária, ela desenhou um modelo de negócios. Apesar de estar fazendo tudo “com o pé no chão”, ela estava se aventurando em águas inéditas para ela até então. Para facilitar seu ingresso na nova área, fez pós-graduação e diversos cursos sobre o tema. “O aprendizado não foi fácil, porque não venho da área da saúde e o cavalo era um hobby de fim de semana, não um companheiro de trabalho”, conta. Para completar, também foi necessário lidar com uma infinidade de assuntos burocráticos, do contato com órgãos públicos às dificuldades para abrir uma associação.
Qual é o segredo para uma boa transição de carreira?
Além do apoio do marido, Thaís atribui seu sucesso à sua disposição para conhecer pessoas, ir atrás de contatos, pesquisar e planejar a transição. “É importante ter foco, fazer algo alinhado aos seus valores, ter apoio de pessoas boas e competentes, saber muito bem o que você quer”, resume ela.
-
5. Bruno Minervino
zoom_out_map
5/11 (Divulgação/Divulgação)
Bruno começou a trabalhar cedo, aos 15 anos, numa loja de computadores perto de sua casa. Pela proximidade com o mundo da informática, acabou ingressando na área de publicidade digital. Após anos de experiência como analista e gerente de operações online em diversas empresas, decidiu largar tudo para abraçar seu trabalho dos sonhos: ser piloto de avião. Hoje, ele faz parte da tripulação de um dos Falcons 2000 LXS da Global Aviation
Quando percebeu que queria mudar de carreira?
“Desde que me conheço por gente tenho o desejo de ser piloto”, conta Bruno. A estabilidade e o bom salário na área de operações online adiaram o sonho - até uma memorável semana em junho de 2011. Na época, aos 24 anos, ele trabalhava para uma empresa inglesa quando recebeu duas ligações importantes. Uma o convidava para participar do processo seletivo do Facebook, que estava abrindo sua sede no Brasil. O outro telefonema era da Líder Aviação, que o chamava para ser copiloto. O “clique” já tinha acontecido muito tempo antes, mas essa foi a deixa para ele largar tudo e finalmente entrar para o mundo dos aviões.
Quais foram as maiores dificuldades do processo?
O maior desafio foi cair de paraquedas numa realidade inteiramente nova: não havia uma rotina definida, nem o conforto de horários flexíveis, ele ganhava 20% do seu salário anterior e desconhecia completamente o novo mercado. “Demorou um tempo para eu me adaptar e descobrir as nuances desse novo setor, em especial a aviação executiva”, explica ele.
Qual é o segredo para uma boa transição de carreira?
Para Bruno, a clareza sobre sua própria vocação e o apoio de outras pessoas foram fundamentais para o sucesso de sua transição. Segundo ele, há dois elementos essenciais para fazer esse movimento: saber para onde você quer ir e não ter medo da mudança. “Será muito difícil no começo, mas com certeza vai valer a pena depois”, diz.
-
6. Livia Marquez
zoom_out_map
6/11 (Divulgação/Divulgação)
Aos 13 anos de idade, Lívia decidiu que queria ser bailarina. Após anos de estudo, foi estudar dança em Nova York com uma bolsa de estudos. De volta ao Brasil, entrou para o Theatro Municipal, onde se apresentou por cinco anos como solista. Às vésperas de completar 24 anos, ela decidiu largar o emprego no Municipal e procurar uma oportunidade na área de publicidade, na qual acabou se graduando. Após diversas passagens por empresas de telecomunicações, hoje é diretora de publicidade e gestão de marca da TIM.
Quando percebeu que queria mudar de carreira?
Lívia conta que a vida de bailarina não era fácil: no Brasil, o investimento em dança é baixo, e havia poucas temporadas por ano. Desmotivada, ela voltou sua atenção para a carreira executiva. “O mundo do balé ficou pequeno, e eu queria descobrir coisas novas”, lembra ela. “A publicidade tinha um lado lúdico que me interessava, e então me lancei à descoberta desse outro universo”.
Quais foram as maiores dificuldades do processo?
Em função de uma forte autocrítica, Lívia diz que se sentia sempre atrás dos colegas da sua nova profissão. “Precisei estudar muito para tirar o prejuízo”, conta ela. A isso se somou a dificuldade técnica, sobretudo com o mundo da informática. No fundo, a determinação e até a pressa em atingir o mesmo patamar dos seus pares acabaram se traduzindo em vantagem competitiva.
Qual é o segredo para uma boa transição de carreira?
A garra e a obstinação são poderosos aliados de qualquer mudança, diz Lívia. Também é importante ter consciência de que toda experiência - mesmo a acumulada com uma profissão que você deseja abandonar - poderá ser útil no futuro. Segundo a diretora da TIM, a disciplina e o comprometimento trazidos por anos de balé contribuíram muito para que ela pudesse se apropriar das competências necessárias ao seu novo ofício.
-
7. Priscila Fett
zoom_out_map
7/11 (Divulgação/Divulgação)
Formada em Direito, Priscila se mudou do Rio de Janeiro para São Paulo em 2008, logo que saiu da faculdade. Ao longo dos sete anos seguintes, ela advogou, deu aulas, fez cursos no exterior, apresentou trabalhos em congressos e defendeu sua dissertação de mestrado na área de direitos humanos, que chegou a ser publicada pelo selo do Ministério das Relações Exteriores. Tudo mudou quando ela decidiu dar adeus ao Direito e criar o blog Trailer 55, dedicado a temas como música, arte, viagens e comida. A marca cresceu e hoje já inclui uma linha e camisetas e bonés que materializam o estilo de vida pregado pela blogueira.
Quando percebeu que queria mudar de carreira?
Apesar do sucesso, Priscila conta que a sensação de estar trilhando uma carreira que não trazia realização pessoal foi se tornando cada vez mais clara para ela. “Eu sentia que a vida profissional não podia ser preto e branca, precisava ter cor, alma, paixão”, explica. “Eu sentia uma necessidade muito grande de me expressar de forma mais artística e com menos amarras”. Em seu tempo livre, ela buscou cursos de fotografia, caligrafia e design gráfico. Aos poucos, o quebra-cabeças foi se montando e ela percebeu que buscava a carreira acadêmica porque gostava de se comunicar, expor ideias e trocar experiências. O estalo veio assim: um blog seria o meio de mostrar o seu mundo para as outras pessoas.
Quais foram as maiores dificuldades do processo?
Priscila diz que, dos seus 7 anos como advogada, os dois últimos foram os de maior inquietação. Uma grande dificuldade foi saber que durante algum tempo ela teria que contar com suas economias até o negócio girar - e poderia não dar certo. Também pesou a decisão de deixar para trás anos de formação e prática numa área para se dedicar a algo que ela mal conhecia. “Meu conhecimento sobre internet nunca foi além do botão de curtir e de compartilhar”, conta. “De uma hora para outra, tive que criar um site, gerar conteúdo, dominar softwares de tratamento de fotos, entre outras atividades completamente novas”.
Qual é o segredo para uma boa transição de carreira?
Para a blogueira um fator essencial para que sua transformação desse certo foi o apoio incondicional do marido. Também contou muito o desejo de respeitar sua própria natureza. “Cheguei à conclusão de que o meu talento, o que faço de forma natural, é escrever”, diz ela. “Muitas vezes queremos inventar a roda, desenvolver habilidades que não são inatas, e acabamos subestimando aquilo que fazemos com maior facilidade”. Para dar certo, diz ela, o profissional que quer mudar de carreira precisa de uma dose cavalar de perseverança, mesmo - e sobretudo - diante de dúvidas, adversidades e críticas de familiares e amigos.
-
8. Juliane Marinho
zoom_out_map
8/11 (Divulgação/Divulgação)
Juliane atuou por 18 anos como advogada, ocupando os cargos de diretora jurídica e diretora de investimentos na Odebrecht. Embora tenha recebido diversas promoções e oportunidades na empresa, ela acabou pedindo demissão e tirou um ano sabático. Foi então que ela decidiu criar a Petalusa, um espaço colaborativo que abriga workshops, cursos e outros eventos ligados à arte e à qualidade de vida. Além de organizar a agenda da casa, ela também ajuda pessoas que buscam operar processos de transição profissional e pessoal.
Quando percebeu que queria mudar de carreira?
Juliane conta que, enquanto advogada, não sentia que seu potencial criativo era verdadeiramente aproveitado. “Tinha um trabalho dinâmico, convivia com pessoas maravilhosas, mas nada daquilo fazia muito sentido”, explica. Não que houvesse um outro objetivo claro: ela diz que não sabia exatamente o que desejava. Após se envolver em projetos ambientais e sociais, ela entendeu que sua verdadeira vocação passava longe dos escritórios corporativos, e se encontrava necessariamente no universo das artes. “As vivências que tive ao longo do meu ano sabático me trouxeram a resposta que eu tanto buscava”, conta ela.
Quais foram as maiores dificuldades do processo?
Descobrir o que de fato gostaria de fazer profissionalmente foi a grande prova de Juliane. O processo exigiu uma grande desconstrução de conceitos sobre si mesma. Ela também diz que a necessidade de criar algo completamente novo, que não cabe numa “caixinha”, também não foi fácil. Uma terceira dificuldade foi explicar sua proposta pouco convencional para as outras pessoas.
Qual é o segredo para uma boa transição de carreira?
Juliane acredita que desapego, planejamento financeiro e coragem para se lançar ao desconhecido foram os principais pontos de apoio do seu movimento de carreira. “Às vezes, você só põe uma maquiagem no que te incomoda na sua profissão, mas tudo continua igual”, explica. “É importante não ter medo de pular”. Apesar disso, ela afirma que a transformação nem sempre precisa ser tão radical quanto a que ela empreendeu. “Mudar de chefe, empresa ou especialidade pode ser o suficiente para tornar a sua vida profissional mais feliz”, diz ela.
-
9. Roberto Aylmer
zoom_out_map
9/11 (Divulgação/Divulgação)
Formado em medicina, Aylmer se preparava para ser cirurgião no início de sua vida profissional. O contato com os pacientes, no entanto, trouxe uma revelação: ele se interessava muito mais por psicologia do que pelos bisturis. Quando descobriu o mundo da psicoterapia, ele decidiu abandonar o mundo da cirurgia médica. Ao longo dos anos, ele direcionou sua carreira para a área de psicoterapia com foco no mundo corporativo. Hoje, é consultor, coach, pesquisador e professor na Fundação Dom Cabral.
Quando percebeu que queria mudar de carreira?
Aylmer conta que descobriu sua verdadeira vocação logo depois da formatura. Sua experiência como médico durou pouco: apesar do questionamento incisivo de familiares e amigos sobre a decisão, ele abandonou a área rapidamente. Em seguida, decidiu abrir um consultório na área de psiquiatria para se dedicar, em suas próprias palavras, “à cura, e não à doença”.
Quais foram as maiores dificuldades do processo?
No início, abandonar o status da carreira em medicina foi um grande obstáculo para Aylmer. “Tive medo do que isso representaria, mas no final descobri que não precisava deixar de ser médico, que poderia simplesmente conciliar essa função a uma outra, alinhada à minha missão de vida”, explica.
Qual é o segredo para uma boa transição de carreira?
De acordo com o psicoterapeuta, a melhor forma de lidar com as adversidades da mudança profissional é ter clareza quanto ao seu objetivo final. Se você sabe bem qual é o seu propósito de vida e de carreira, diz Aylmer, nenhuma dúvida se sustentará por muito tempo e as escolhas mais acertadas virão naturalmente.
-
10. Jorge Bassalo
zoom_out_map
10/11 (Divulgação/Divulgação)
Jorge começou sua carreira na área de TI, como programador, analista de sistemas e, finalmente, diretor de tecnologia. Por mais de 25 anos, a tecnologia era o tema dominante do seu currículo. Tudo mudou quando ele fez uma pós-graduação em comportamento organizacional e decidiu abandonar por completo o mundo das ciências exatas. Há sete anos, atua como consultor em mudanças organizacionais, com foco em recursos humanos.
Quando percebeu que queria mudar de carreira?
Enquanto trabalhava com TI, Jorge tinha muito mais interesse pelas pessoas do que pelo aspecto técnico do trabalho. Em uma das suas passagens profissionais, ele teve a oportunidade de experimentar a gestão de equipes, uma vivência muito gratificante para ele. O “clique” final veio com o mestrado em comportamento organizacional. “Foi quando eu tive certeza do que gostava, e percebi que não fazia mais sentido trabalhar com TI”, conta ele.
Quais foram as maiores dificuldades do processo?
A decisão de abandonar a área de tecnologia, em 2007, desencadeou uma negociação complexa com seu empregador na época. “Foi uma transição longa, de dois anos, porque eu tinha muitas responsabilidades e não podia largar tudo de uma vez”, diz Jorge. Outro desafio foi lidar com o impacto financeiro da mudança e “apertar o cinto” até que a nova carreira se estabilizasse.
Qual é o segredo para uma boa transição de carreira?
“O mais importante é ter o domínio da situação”, afirma Jorge. “Visualize com clareza quais são os seus objetivos, faça um bom planejamento, e tudo correrá bem”. O consultor também recomenda a busca por alianças. Fazer uma transição sozinho é muito difícil: para se orientar e ter acesso a boas oportunidades, é fundamental compartilhar suas necessidades e dúvidas com familiares, amigos, colegas e pares, diz ele.
-
11. Eduardo Silva
zoom_out_map
11/11 (Divulgação/Divulgação)
Eduardo é formado em publicidade e propaganda e trabalhou por mais de 20 anos em empresas como Microsoft, G2, Aurora Importadora e sadia na área de marketing nacional e internacional. Cansado do mundo corporativo, ele e uma sócia abriram uma empresa de marketing de experiência, a Living Brands, com foco em eventos.
Quando percebeu que queria mudar de carreira?
Quando saiu da Microsoft, Eduardo já sabia que seu tempo em grandes corporações já havia se esgotado. “Existe um lado corporativo que me encanta e que nunca vou abandonar, o fato de as empresas terem objetivos claros, processos, organização, mas também há processos demais, relatórios demais, tempo demais roubado do que realmente me dá prazer, que é a execução”, explica ele. Foi então que ele encontrou sua sócia, que dividia com ele a mesma cultura - e o mesmo cansaço - das grandes corporações. O encontro com ela permitiu que a mudança se concretizasse.
Quais foram as maiores dificuldades do processo?
Eduardo conta que o principal desafio da transição foi “superar o branco” e descobrir qual seria o melhor caminho a seguir. Também houve diversos "choques" ao longo do processo. Ele e sua sócia estavam acostumados à estrutura que uma grande multinacional oferece. Hoje em dia, os dois precisam ir a bancos e fazer o seu próprio café. “Lidar com questões burocráticas e tributárias, por exemplo, faz com que nós demos umas ‘cabeçadas’ de vez em quando”, diz ele.
Qual é o segredo para uma boa transição de carreira?
O otimismo e a vontade de conquistar oportunidades a despeito da crise econômica favoreceram o processo, diz Eduardo. Seu conselho para outros profissionais que planejam uma mudança é ter coragem e desprendimento. “Quando você muda de carreira, especialmente se sai de uma grande corporação e abre uma empresa, você tem que estar disposto a perder muitas coisas”, diz ele. “Ainda assim, poder trabalhar com paixão é algo que compensa bastante”.