Antes da Flórida, no ano passado o governador do Tennessee, Bill Lee, chegou a adotar a lei (HB 1312) para combater a falta de profissionais da saúde (Dana Neely/Getty Images)
Repórter
Publicado em 4 de julho de 2024 às 08h06.
Os Estados Unidos preveem um déficit de 5.989 médicos até 2030, e para enfrentar a escassez de médicos, leis estão sendo criadas em alguns estados.
Neste mês, o governador da Flórida, Ronald Dion De Santis, aprovou um novo pacote de lei conhecido por "Live Healthy" que promete atrair médicos estrangeiros para o estado americano. Com investimento de mais de 1,2 bilhão de dólares para o ano fiscal 2024-25, este pacote promete fortalecer o sistema de saúde do estado tirando algumas exigências.
“As principais medidas incluem o aumento das taxas de reembolso do Medicaid para hospitais, apoio a programas educacionais na área de saúde e a criação de novos hospitais-escola especializados em saúde comportamental”, afirma João Mateus Loyola, advogado de imigração da Gondim Law Corp.
“Essas ações visam melhorar o acesso e a qualidade dos serviços de saúde na Flórida, enfrentando desafios como a escassez de profissionais e a necessidade de cuidados mais especializados.”
Antes da Flórida, no ano passado o governador do Tennessee, Bill Lee, chegou a adotar a lei (HB 1312) para combater a falta de profissionais da saúde, especialmente em áreas rurais e de cuidados primários, afirma Dr. Vinicius Bicalho, CEO e fundador da Bicalho Consultoria Legal.
"O Tennessee foi pioneiro em reconhecer a importância de integrar rapidamente médicos estrangeiros ao sistema de saúde para combater a falta de profissionais. Agora, a Flórida está seguindo esse exemplo e, com a nova legislação, beneficia especialmente os brasileiros, eliminando a necessidade de repetir a residência médica nos EUA. Esta é uma oportunidade incrível para médicos formados no exterior que querem trabalhar na Flórida."
O tempo de revalidação do diploma de um médico varia de pessoa para pessoa, afirma Marina Ferreira, brasileira que se formou em medicina no Brasil e revalidou o diploma nos EUA por meio do exame USMLE (United States Medical Licensing Examination).
"No meu caso, a revalidação durou 3 anos. Comecei o processo em janeiro de 2017 e recebi o meu certificado de revalidação em junho de 2019. Consegui o tão desejado “match”, que é o programa de residência médica, em março de 2020 aqui na Flórida", diz a médica que irá começar o trabalho como hospitalista na Carolina do Norte a partir de agosto.
Ferreira explica que o processo de revalidação do diploma de médico nos EUA pode ser divido ele em 3 etapas:
"O tempo de residência depende da especialidade escolhida. Eu fiz um programa chamado 'internal medicine', como clínica médica no Brasil, que tem duração de 3 anos. Depois você tem a opção de começar a atuar ou fazer uma sub especialização, que aqui chamamos de 'fellowship', a qual também varia o tempo de acordo com a sub especialidade", afirma a médica.
A carência de médico primário, segundo Ferreira, é no país inteiro, principalmente em áreas remotas, estados onde pouca gente tem interesse em atuar. Não é o caso da Flórida, que a médica afirma que é um estado concorrido. "Muita gente quer morar e atuar aqui, inclusive brasileiros."
Para a brasileira, que fez sub especialização em geriatria nos EUA, essa nova lei do estado da Flórida é uma oportunidade para quem está tentando o processo há um tempo, tem o seu diploma revalidado, porém não consegue uma vaga em programa de residência.
"Apesar da lei ajudar muitos profissionais a imigrarem e atuarem como médico mais rápido, acredito que fazer um programa de residência aqui ainda seja a melhor opção, porque dessa forma você terá liberdade de atuação em qualquer lugar do país e na especialidade que você deseja."Além das barreiras para médicos estrangeiros, os Estados Unidos enfrentam uma escassez desses profissionais da saúde devido a outros fatores, afirma Talitha Krenk, advogada brasileira que reside e trabalha nos EUA.
Além dos médicos, os EUA têm escassez de outros profissionais de saúde, como por exemplo, os enfermeiros e fisioterapeutas, afirma a advogada nos EUA.
“Muitas empresas de recrutamento americana já estão inclusive com filiais no Brasil em busca de profissionais competentes que se licenciaram nos EUA e queiram trabalhar aqui. O departamento de trabalho inclusive classificou essas profissões em algo que chamamos de ‘schedule A’. Isso significa que o departamento de trabalho americano já pré-determinou que essas áreas têm falta de profissionais americanos. Isso facilita o processo de imigração de profissionais estrangeiros e muitas empresas estão dispostas a trazerem profissionais para os EUA.”