Dr. Thakur S. Powdyel, ex-ministro da Educação do Butão: “Se cuidarmos das pessoas, as pessoas cuidarão da organização" (Fair Job )
Repórter
Publicado em 20 de março de 2025 às 14h59.
Última atualização em 20 de março de 2025 às 16h05.
Em um mundo onde produtividade e lucro são frequentemente priorizados, um pequeno país no Himalaia oferece uma abordagem diferente: o Butão desenvolveu o conceito de Felicidade Interna Bruta (FIB), que mede o desenvolvimento com base no bem-estar da população, em vez de apenas indicadores econômicos.
Enquanto a Finlândia lidera pelo oitavo ano consecutivo o ranking dos países mais felizes, segundo o relatório da ONU, o Brasil ocupa a 36ª posição, superando países como Espanha (38º) e Itália (40º). Diante desse cenário, empresas e líderes começam a perceber que a felicidade organizacional não é apenas um conceito abstrato, mas sim um fator essencial para melhorar produtividade, engajamento e retenção de talentos.
Mas como aplicar os princípios da Felicidade Interna Bruta dentro das organizações? Como a busca pelo equilíbrio entre vida profissional e bem-estar pode impulsionar os resultados?
Para Dr. Thakur S. Powdyel, ex-ministro da Educação do Butão, que veio ao Brasil nesta semana para participar de um evento realizado pela Fair Job, em São Paulo, a vida humana vai além de aspectos materiais e econômicos, abrangendo bem-estar psicológico, valores culturais e qualidade de vida.
“A FIB é um conceito mais amplo que o Produto Interno Bruto (PIB), porque considera não apenas produção e consumo, mas também fatores que impactam a felicidade coletiva e o bem-estar das futuras gerações”, afirma Dr. Powdyel.
A Felicidade Interna Bruta (FIB), ou Gross National Happiness (GNH), foi criada pelo Butão nos anos 1970 como uma alternativa ao Produto Interno Bruto (PIB). Enquanto o PIB mede o crescimento de um país por fatores econômicos, a FIB leva em conta qualidade de vida, bem-estar psicológico, valores culturais e preservação ambiental.
O conceito foi introduzido pelo então rei do Butão, Jigme Singye Wangchuck, que desenvolveu um modelo econômico baseado em 4 princípios:
✔ Igualdade social
✔ Conservação ambiental
✔ Valorização cultural
✔ Boa governança
No mundo corporativo, esses pilares podem ser traduzidos em ações como equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, investimentos em saúde mental, diversidade e uma liderança humanizada.
O relatório global de felicidade da ONU, divulgado anualmente, aponta que os países mais felizes do mundo continuam sendo os nórdicos. No ranking de 2024, os 4 primeiros colocados são:
Já o Brasil ocupa a 36ª posição, à frente da Espanha (38º) e da Argentina (42º). A estabilidade econômica, políticas de bem-estar e forte senso de comunidade são fatores que colocam os países nórdicos no topo da lista.
“Empresas brasileiras podem aprender com essas nações ao investir no bem-estar dos funcionários e na cultura organizacional”, afirma Fernando Brancaccio, especialista em neurociências.
No Brasil, algumas empresas já reconhecem a importância da felicidade no trabalho. Um dos exemplos mais recentes é o de Gustavo Werneck, CEO da Gerdau, que foi ao Butão para aprender mais sobre a Felicidade Interna Bruta e aplicar esses princípios na companhia.
“Se eu falo de saúde mental, preciso cuidar da minha primeiro”, afirma Werneck em entrevista à EXAME. O executivo conta que também é faixa preta em karatê e busca equilibrar sua rotina com exercícios físicos e tempo de qualidade com a família.
Além da Gerdau, outras empresas no mundo já seguem essa filosofia. Dr. Thakur S. Powdyel cita no evento a Bitis, no Vietnã, que adotou princípios da FIB e viu um aumento na produtividade e satisfação dos funcionários.
O número de trabalhadores afastados por burnout, estresse e ansiedade cresce a cada ano. Segundo Dra. Ângela Shimuta, especialista em medicina preventiva, o segredo para reduzir esses problemas está em práticas que promovem o bem-estar dentro das empresas.
✔ Incentivo a pausas e flexibilidade de horários
✔ Atividades físicas e suporte à saúde mental
✔ Programas de alimentação saudável e ergonomia
A médica traz como exemplo o caso de uma gerente de projetos chamada Ana, que estava sobrecarregada e sem equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Após pequenas mudanças, como pausas ativas e incentivo à atividade física, sua energia e produtividade melhoraram significativamente.
“Esse tipo de abordagem, conhecido como Medicina do Estilo de Vida, foca na prevenção e no tratamento de doenças crônicas por meio de mudanças comportamentais”, afirma Shimuta.
Para Brancaccio, especialista em neurociências, a felicidade corporativa está diretamente ligada à liderança e cultura organizacional. Ele compara os gestores ao papel do rei do Butão:
"Os RHs são os reis e rainhas de uma empresa. Eles têm a responsabilidade de cuidar das pessoas, afinal, são elas que geram os resultados."
Empresas que investem em líderes que promovem equilíbrio entre trabalho e vida, inclusão e propósito, segundo ele, tendem a ter equipes mais engajadas, motivadas e produtivas.
À medida que mais empresas percebem que felicidade e produtividade andam juntas, conceitos como a Felicidade Interna Bruta ganham força no mundo corporativo.
Para Dr. Thakur S. Powdyel, ex-ministro da Educação do Butão, é necessário que hoje as empresas e até os governos busquem por uma "estrela guia", ou seja, um propósito claro que equilibre crescimento econômico e bem-estar.
“Empresas que apostam na felicidade e no bem-estar dos funcionários estão se tornando mais competitivas no mercado e irão prosperar no futuro”, afirma. “Afinal, se cuidarmos das pessoas, as pessoas cuidarão da organização."