A geração Z não quer uma análise comportamental que seja entregue de maneira rápida, colaborativa, empática e equilibrada (South_agency/Getty Images)
Repórter
Publicado em 20 de abril de 2024 às 14h56.
Última atualização em 20 de abril de 2024 às 15h43.
Uma das ações que podem espantar a Geração Z da sua empresa é o feedback à moda antiga – ele não pode ser demorado para eles, muito menos desrespeitoso.
O que esses jovens esperam é uma análise comportamental que seja entregue de maneira rápida, colaborativa, empática e equilibrada, segundo uma matéria do The Washington Post, que reforça que os conflitos culturais surgem quando gerações mais velhas, que podem ter começado suas carreiras sem muitas explicações ou cuidados, criticam os jovens trabalhadores de maneiras que podem aliená-los ou desencorajá-los, como esperar semanas ou meses para abordar um problema, corrigir erros sem uma conversa ou focar apenas no que deu errado – essas ações podem fazer com que eles procurem um outro ambiente de trabalho.
“A geração Z cresce em um ambiente digital, onde a reposta é imediata”, afirma a coach executiva Milena Brentan que lembra que esses jovens não esperam passar o programa na TV, eles escolhem no streaming. “Existe também um grande nível de ansiedade na geração Z quando o WhatsApp não é respondido na hora. É uma geração que precisa de um retorno rápido e valoriza ambientes de trabalho saudáveis, ou seja, mais humanos.”
A busca pela humanização do trabalho tem sido uma jornada contínua ao longo da história, com diferentes gerações e movimentos contribuindo para esse objetivo. Para Joaquim Santini, pesquisador internacional de comportamento, com passagem por universidades como Harvard, nos EUA, e INSEAD, na França, o trabalho humanizado existiu em diferentes momentos da história, em certos aspectos e em graus variados.
“Antes da Revolução Industrial, muitos trabalhadores tinham uma conexão mais direta e pessoal com seu ofício, seja na agricultura, no artesanato ou no trabalho doméstico. Embora as condições pudessem ser árduas, havia frequentemente um senso de propósito e identidade ligado ao trabalho.”No entanto, com a industrialização, Santini lembra que houve uma mudança para condições de trabalho mais mecanizadas e desumanas, o que se fez necessário pensar em direitos aos empregados. “Ao longo do século XX, várias iniciativas buscaram melhorar a situação dos trabalhadores, como o movimento das Relações Humanas na década de 1930, que enfatizou a importância dos fatores sociais e psicológicos no local de trabalho”, diz o pesquisador que reforça que na época leis trabalhistas foram introduzidas para garantir direitos básicos dos trabalhadores, e algumas empresas começaram a adotar programas de bem-estar, que seguem em evolução até hoje.
Embora a jornada para um local de trabalho totalmente humanizado ainda esteja em andamento, as contribuições da Geração Z estão acelerando o progresso e definindo a direção para o futuro do trabalho. O jeito de dar o feedback é um deles e Santini traz algumas frases que podem ser evitadas ou repensadas hoje no ambiente de trabalho para atrair e manter esses jovens profissionais:
O maior desafio do líder atual, segundo a coach Brentan, é ser mais empático e saber como passar o conhecimento para essa nova geração que tem informação rápida, seja nas redes sociais ou no ChatGPT.
“Essa análise de desempenho no trabalho será para ajudar esses jovens profissionais a refletir, a entender como estão se recolocando no mercado. A liderança agora mais do que ensinar a técnica, vai ajudar essa geração a ter sabedoria nessa forma de pensar, de lidar com as próprias emoções”, diz a coach. “Será um feedback carregada de perguntas, a ideia é fazer esse jovem pensar sobre quais caminhos diferentes é possível tomar agora, ao invés de julgar a qualidade da decisão passada”.
Muitos profissionais já passaram pelo famoso feedback, que consiste em uma avaliação do desempenho passado, envolvendo a análise de ações, comportamentos e resultados já ocorridos. “O propósito do feedback é identificar pontos fortes e áreas de melhoria com base em evidências concretas”, diz Santini.
Para atender as demandas atuais, uma nova forma de analisar e potencializar o desenvolvimento de um funcionário está sendo adotada por algumas companhias. Conhecido como feedforward, esse método é voltado para o futuro, em que ao invés de se concentrar no que já aconteceu, o feedforward oferece sugestões e orientações sobre como alguém pode melhorar em situações futuras, focando em ações e comportamentos que podem levar a resultados positivos.
“A diferença fundamental é que o feedback olha para o passado, enquanto o feedforward olha para o futuro. Embora o feedback seja útil para identificar e corrigir problemas, ele pode, às vezes, levar a uma postura defensiva ou sentimentos de julgamento”, afirma Santini. “Já o feedforward tende a ser mais bem recebido por ser orientado para soluções e se concentrar no potencial de crescimento e melhoria.”
Outra distinção importante, segundo Santini, é que o feedback geralmente vem de uma posição de autoridade ou experiência, como um gerente ou supervisor. “O feedforward, no entanto, pode vir de qualquer pessoa, independentemente de sua posição, democratizando o processo de desenvolvimento e reconhecendo de insights valiosos que podem surgir de colegas, subordinados e até mesmo de fora da organização.”
Algumas empresas já estão apostando nesse tipo de retorno futurístico. Segundo o pesquisador internacional, a Microsoft implementou um programa de "feedforward" chamado "Perspectives", no qual os funcionários compartilham suas aspirações futuras e recebem conselhos e orientações de seus colegas e gerentes para ajudá-los a alcançar seus objetivos.
A Deloitte também substituiu seu sistema tradicional de avaliação de desempenho por "check-ins" frequentes, afirma o pesquisador, que explica que neste caso os líderes têm conversas voltadas para o futuro com os membros da equipe, concentrando-se em seus pontos fortes e oportunidades de crescimento.
Outro exemplo é a Natura, que implementou o programa "Eu Reconheço", que incentiva os funcionários a fornecer feedforward uns aos outros. “Por meio de uma plataforma online, os colaboradores podem compartilhar elogios, sugestões e orientações voltadas para o futuro, promovendo uma cultura de reconhecimento e crescimento contínuo”, diz Santini.
“A Geração Z sem dúvida irá preferir o feedforward ao feedback tradicional por várias razões”, afirma Santini.
Apesar da nova geração trazer tendências sobre como conquistar sucesso no ambiente de trabalho, as empresas não são obrigadas a se adaptar a essa questão geracional, afirma Brentan.
“Cada empresa tem uma cultura e cabe a ela ver como esse choque geracional fará sentido para o seu negócio. O que precisamos levar em conta é que as novas gerações são carregadas de tendências e a Geração Z traz um aviso, de que o trabalho é importante sim, mas cada vez mais será valorizado em alinhamento com a saúde mental e a qualidade de vida”, afirma.
“E para as empresas que querem se adaptar é uma oportunidade para criar um ambiente mais inclusivo não só para a geração Z, mas para profissionais de outras gerações também. Afinal, esse movimento é um convite para repensar e redefinir um novo estilo de liderança e cultura que pode levar ao sucesso operacional.”