EXAME.com (EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 7 de junho de 2013 às 15h12.
São Paulo - No dia 12 de janeiro deste ano, um terremoto de sete graus na escala Richter, no Haiti, causou a morte de 200 000 pessoas, deixou outras 300.000 feridas e fez mais de 1 milhão de desabrigados.</p>
Dois dias depois da tragédia, uma dupla de médicos do Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo, chegava a Porto Príncipe, capital do país, com a missão de encontrar um local que servisse de enfermaria improvisada e de preparar a chegada de três equipes do hospital, mais toneladas de equipamentos, remédios e materiais.
No dia 4 de fevereiro, 49 profissionais — médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e engenheiros —, que se voluntariaram a cuidar das vítimas, começaram a chegar ao país. Entre os que passaram pelo Haiti estão a enfermeira Débora Puntel, de 40 anos, e o infectologista Alexandre Marra, de 36 anos.
No acampamento montado em Porto Príncipe, o grupo paulista realizou um trabalho bastante diferente do que costuma desenvolver diariamente na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Einstein, um dos mais ricos e equipados hospitais do país. Na tenda onde os brasileiros trabalhavam, a temperatura chegava a 50 graus durante o dia.
À noite, quando a energia elétrica acabava, o banho era de balde num banheiro aberto. “Você precisa estar preparado para tudo”, diz Alexandre. O mais importante da experiência, diz ele, é perceber o quanto ela modifica sua visão do mundo. “Você começa a dar mais valor à sua vida e passa a considerar pequenos seus problemas de trabalho”, conta o médico.
Como experiência pessoal, poucas atividades são tão enriquecedora como o trabalho voluntário — mesmo que você não receba dinheiro nenhum para fazê-lo. E não é preciso viajar ao Haiti para se engajar numa missão desse tipo. O número de empresas brasileiras, de todos os tamanhos, que apoia comunidades e instituições é grande e crescente.
O envolvimento de uma corporação numa ação de cidadania tem, evidentemente, um componente marqueteiro. Mas, em muitos casos, existe um interesse legítimo em ajudar e retribuir à sociedade da qual a empresa tira seu sustento. Mais importante, quem faz as empresas se mexerem são os funcionários.
“Os profissionais estão mais engajados e querem conhecer as ações de cidadania que a companhia pratica para decidir se querem trabalhar nela”, comenta Enrique Soto, líder de sustentabilidade da consultoria Accenture. “Hoje, a responsabilidade social virou uma ferramenta de atração e retenção de talentos.”
O desejo de contribuir com a sociedade é ainda maior nos profissionais mais jovens, segundo Ruth Harada, diretora de cidadania corporativa da IBM. “O trabalho voluntário funciona como fator de motivação, especialmente para a geração de funcionários abaixo de 30 anos.”
A ação social é uma oportunidade de desenvolver novas competências para sua carreira profissional — ou ao menos aprimorar habilidades que você já possui. Para o capixaba Welton Duque, de 33 anos, coordenador de operações da Vivo, empresa de telefonia celular, a atividade humanitária foi uma chance de aprimorar as técnicas de liderança.
Em março deste ano, Welton viajou ao Chile com uma equipe de nove profissionais da operadora para refazer a infraestrutura de telecomunicações da região de Concepción, a mais afetada pelo terremoto de 8 graus ocorrido em 27 de fevereiro. “Em campo, com poucos recursos, aprendi a dividir responsabilidades e compartilhar a liderança”, diz Welton. “Foi um aprendizado sobre trabalho em equipe.”
A IBM tem um programa internacional, chamado Corporate Service Corps (algo como “tropa de serviços corporativos”), cuja finalidade é enviar funcionários voluntários para passar um mês num projeto social de uma comunidade pobre de um país em desenvolvimento. No local, usando seu conhecimento profissional, o funcionário ajuda a promover melhorias no projeto.
Embora a IBM seja uma empresa de tecnologia, há funcionários realizando ações em áreas como vendas, administração e alianças, entre outras. “Esse tipo de trabalho ajuda o profissional a melhorar a capacidade de execução, a trabalhar com escassez de recursos e a eleger prioridades”, afirma Ruth.
Detalhe: os critérios de escolha para participar do programa envolvem análises de potencial de crescimento do candidato e de sua capacidade de se tornar um líder global da empresa.
“Trabalhei na Romênia, com colegas americanos, indianos, finlandeses e suecos”, diz Welinton Chalabi, de 35 anos, que hoje mora na Malásia e é gerente de operações de serviços da IBM para sete países asiáticos. “O programa voluntário foi uma oportunidade de aprender a trabalhar com equipes multiculturais.”
As ações de cidadania podem ajudar um profissional a bater suas metas e trazer resultados. Na Accenture, os profissionais da área comercial são estimulados a convidar seus clientes para participar das atividades de cidadania empresarial. Além de ajudar com uma boa causa, a ação se transforma numa oportunidade de desenvolver um relacionamento com o cliente fora da mesa de negociações. “Isso fortalece o vínculo e vai facilitar o trabalho do executivo comercial numa venda futura”, explica Enrique.
Participar de trabalho voluntário também ajuda o profissional a ganhar destaque internamente e ficar em vantagem na hora da promoção. Em muitas empresas, essas participações são computadas na avaliação periódica de desempenho. Às vezes de maneira objetiva, quando o item trabalho voluntário aparece explicitamente.
Em outros casos, aparece de maneira menos clara, mas pode ser levada em conta quando a companhia quer saber se o profissional realiza tarefas que vão além das atribuições de seu cargo. Mas, mesmo fora da avaliação de desempenho, o trabalho voluntário conta pontos. “Valoriza o profissional”, diz Ruth.
Obviamente, o trabalho voluntário toma um bom tempo e energia. Por isso, a recomendação é só assumir um compromisso desse tipo se você realmente pretende cumpri-lo. Interessado em ser voluntário? Então, tome a iniciativa, que é a competência fundamental de quem pretende ajudar. Verifique quais são as ações de sua empresa na área ou apresente novos projetos. Pode ser bom para todos.