Carlos Ghosn, ex-CEO da Nissan (Misha Friedman/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 26 de fevereiro de 2019 às 12h24.
Última atualização em 26 de fevereiro de 2019 às 12h25.
A detenção, os indiciamentos e o longo encarceramento do ex-CEO da Nissan Motor, Carlos Ghosn, levaram executivos estrangeiros que consideravam assumir cargos seniores em empresas japonesas a fazer uma pausa.
Enquanto Ghosn entra em seu quarto mês de prisão e aguarda um julgamento que ainda está a vários meses de distância, a prisão do estrangeiro mais conhecido do mundo dos negócios japonês pode frustrar os esforços do país para diversificar suas corporações com profissionais do exterior, segundo especialistas.
Os executivos estrangeiros podem pensar duas vezes antes de aceitar cargos até verem o desenrolar desse caso e se isso levará a regras de compliance mais rigorosas.
"Está causando um efeito inibidor", disse Yumiko Ohta, sócia em Tóquio do escritório de advocacia Orrick Herrington & Sutcliffe, que assessora clientes sobre governança corporativa. "Vai ser muito mais difícil recrutar executivos estrangeiros para o Japão."
A incapacidade de um líder empresarial tão proeminente de conseguir aguardar julgamento em liberdade poderia assustar alguns estrangeiros - independentemente do quanto sejam cumpridores da lei -, o que os impediria de aceitar cargos no Japão e também poderia deixar as empresas internacionais mais relutantes em mandá-los para o país, disse Johan Uittenbogaard, sócio administrativo da empresa de recrutamento Odgers Berndtson em Tóquio.
"É mais uma camada de risco", disse ele. "Você começa a pensar sobre isso: mesmo que você não tenha feito nada de errado, você pode ser preso por três meses."
Até mesmo o advogado de defesa de Ghosn, Junichiro Hironaka, levantou a questão durante uma entrevista coletiva na semana passada, quando disse que seu cliente é vítima de uma conspiração arquitetada por seus subordinados da Nissan. Ghosn contratou Hironaka neste mês, depois que sua equipe anterior não conseguiu obter fiança duas vezes.
"É bizarro para mim como isso se tornou um incidente assim", disse Hironaka.
Ghosn, de 64 anos, permanece em uma prisão de Tóquio, acusado de violação de confiança agravada e apresentação de declarações falsas aos órgãos reguladores sobre US$ 80 milhões em receita diferida. Ele foi preso em 19 de novembro e pode pegar 10 anos de prisão se for condenado. Ele nega todas as acusações e afirmou que elas "não têm mérito nem fundamento" durante uma audiência no tribunal no mês passado.
"Isso vai se tornar um grande problema para o Japão e suas empresas", disse Hironaka. "A Nissan deveria ter resolvido este problema internamente."
O Japão tem uma história limitada com CEOs estrangeiros. Entre os mais notáveis nos últimos anos estão Ghosn, Howard Stringer, da Sony, Christophe Weber, da Takeda Pharmaceutical, e Sarah Casanova, da McDonald’s Holdings Co. Japan.
Um estudo publicado em 2015 encontrou apenas cerca de uma dúzia de exemplos de CEOs estrangeiros no Japão, disse a coautora Sheela Pandey, professora assistente de Administração na Universidade Estadual da Pensilvânia em Harrisburg.
Esses executivos "extremamente raros" costumam enfrentar conflitos culturais e oposição de subordinados japoneses, e o modo como o caso de Ghosn está sendo tratado representa mais um sinal de alerta, disse ela.
"Os CEOs estrangeiros vão ficar relutantes em trabalhar no Japão", disse Pandey, por e-mail. "Isso não ajuda o país a se tornar mais internacional."