Bandeiras do Brasil e da Argentina (sezer ozger/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 13 de agosto de 2021 às 11h27.
Por Estudar Fora
Ingressar em um curso de medicina na Argentina é uma ótima opção para estudantes brasileiros que não têm recursos financeiros para custear a formação médica no Brasil – extremamente cara e inacessível para a maioria.
Nossa vizinha latina oferece cursos de alta qualidade, mais baratos e até gratuitos em algumas das melhores universidades do mundo.
Se tornar médica sempre foi um desejo de Ana Paula Braga. Por conta do medo de não ser aprovada no concorrido vestibular brasileiro, porém, ela decidiu seguir por outro caminho. A jovem se formou em pedagogia, fez pós-graduação na área e chegou a trabalhar por 3 anos até perceber que precisava ir atrás do seu sonho.
Foi assim que ela descobriu a possibilidade de estudar medicina na Argentina – país que também possui universidades públicas e gratuitas, como o Brasil, mas com uma forma de acesso diferente e sem vestibular.
“Pesquisamos tudo pela internet, estudamos espanhol por nossa conta e viemos para tentar nos inscrever na faculdade e arrumar moradia”.
Na busca por instituições, Ana Paula encontrou a Universidade de Buenos Aires (UBA), considerada a melhor universidade da América Latina, ocupando 69ª entre as melhores do mundo, de acordo com o ranking QS.
A instituição não só a atraiu pela qualidade de ensino como também por seu processo seletivo. Para ingressar na universidade, ela explica, primeiramente é necessário fazer o Ciclo Básico Comum (CBC), constituído por 6 matérias relacionadas ao curso desejado.
Não há um vestibular específico, pois quem é aprovado em todas as disciplinas iniciais está dentro da faculdade.
Foi assim que ela teve que desbravar muito para chegar lá – após decidir que iria cursar medicina na Argentina, Ana e seu namorado decidiram juntar todas as economias que tinham, pegaram o carro em Minas Gerais e desceram até o país vizinho.
“Não fizemos nenhum pacote com empresas, nem nada. Pesquisamos tudo pela internet, estudamos espanhol por nossa conta e viemos para tentar nos inscrever na faculdade e arrumar moradia”.
Logo que chegaram, os dois se depararam com uma dificuldade: faltava um documento para a matrícula. Por sorte, descobriram uma modalidade em que é possível cursar o CBC online, o que garantiu que eles conseguissem estudar. “Voltamos para o Brasil para arrumar a mudança de verdade, vendemos nosso carro e estávamos, enfim, morando na Argentina”, conta.
Ana Paula explica que o curso online oferece tutoriais para que os alunos tirem dúvidas toda semana como os professores da universidade e que as avaliações são presenciais.
Embora todos os alunos aprovados nas 6 matérias possam ingressar em medicina na Argentina, ela dá um alerta: “Isso não quer dizer que seja fácil. Já conheci muito brasileiro desiludido por aqui. Não só o CBC exige dedicação, como o curso de medicina também, o que leva muitos alunos a desistirem”.
“Você precisa chegar na aula com o conteúdo já estudado, porque o tutor faz perguntas, pede para os alunos falarem sobre o assunto e depois apresentarem suas dúvidas”.
A rotina de estudos de Ana Paula é diferente da dos universitários brasileiros. Ela não tem aula todos os dias e sua carga horária varia de acordo com o que está fazendo. “Normalmente, são 4 horas por matéria, mas você precisa chegar na aula com o conteúdo já estudado, porque o tutor faz perguntas, pede para os alunos falarem sobre o assunto e depois apresentarem suas dúvidas”.
Nos primeiros anos, as provas de medicina são divididas em 3 partes: oral, escrita e múltipla escolha. O curso tem uma duração total de 7 anos. Após isso, o estudante ainda precisa trabalhar por 6 meses como interno em um hospital — equivalente à “residência” que os médicos fazem por aqui.
Sobre as vantagens em se estudar na UBA, Ana Paula destaca a qualidade do ensino e as possibilidades que ela vê para seu futuro. “É muito motivador aprender outro idioma, estar longe de casa e conhecer outra cultura”.
A estudante ainda não sabe o que fazer sobre quando se formar. “Tudo vai depender da condição politica e econômica do Brasil e da Argentina para que eu me decida”. Como a UBA possui convênios com o governo da Espanha, ela diz que não descarta se mudar novamente quando formar.
Ana Paula conta que quando chegou, percebeu que o espanhol que sabia era bem diferente do falado, então foi um desafio inicial, superado aos poucos devido ao seu esforço de integração à cultura argentina.
Sobre isso, ela diz estar feliz por aprender tanto e aconselha a experiência para todos que possuem esse objetivo e querem levar seus estudos a sério.
Brasileiros que queiram se matricular no Ciclo Básico Comum da Universidade de Buenos Aires vão precisar de dois documentos. Primeiro, um documento de identidade brasileiro (pode ser RG ou CPF). Segundo, o diploma do ensino médio.
Esse diploma precisa ser validado pelo governo argentino, e você pode ver mais informações sobre esse procedimento neste link. A documentação referente à convalidação do diploma também será exigida, então tenha-a em mãos.
A inscrição de estrangeiros para o Ciclo Básico Comum (CBC) da UBA deve ser feita presencialmente. Ou seja, você precisará estar em Buenos Aires durante o período de inscrições. Via de regra, esses períodos acontecem entre fevereiro e março, entre junho e julho, e entre outubro e novembro. Você pode acompanhar as inscrições para o ciclo básico da UBA neste link.
Também é preciso comprovar que você sabe falar espanhol. Mais especificamente, você precisa comprovar ter um nível equivalente pelo menos ao B2 no Quadro Comum de Referência Europeu. Isso pode ser feito por meio das provas SIELE (nível S5 ou Global B2), CELU (intermediário ou avançado) ou CEI.
As inscrições de estrangeiros são feitas na Sede Central do CBC, na rua Ramos Mejía, 841, no quarto andar, de segunda a sexta, das 10h às 16h. Cerca de 15 a 20 dias depois da inscrição, o aluno deverá entrar na página do CBC e completar um “formulário de registro estatístico para inscritos”.
Feito isso, receberá um talão de controle com o qual poderá se matricular nas disciplinas e acompanhar o processo até o início das aulas. Confira a página de inscrições do CBC da UBA caso ainda tenha alguma dúvida.
Se você optar por estudar em uma faculdade pública, ela vai ser totalmente gratuita, tanto a matrícula, quanto as mensalidades. Nas faculdades particulares, as mensalidades e taxa de matrícula variam de R$900 a R$2000,00.
Há, é claro, as despesas com materiais e apostilas (xerox) – que, segundo algumas consultorias, variam entre R$ 60,00 e R$ 130,00. Isso sem considerar os livros que podem ser emprestados das bibliotecas públicas.
Na ponta do lápis, o custo de se estudar medicina na Argentina é menor do que estudar em uma universidade particular no Brasil.
Agora, avaliar se vale a pena estudar medicina na Argentina depende muito mais das expectativas profissionais do estudante após se formar. Aqueles que desejam estudar na Argentina para então atuar como médico aqui no Brasil precisam passar por um custoso processo de revalidação do Diploma.
A revalidação do diploma pode ser feita através do Revalida (O Exame Nacional de Revalidação dos Diplomas Médicos) ou por editais independentes de revalidação feitos por universidades que não aderiram ao Revalida.
Depois de ficar dois anos sem ser aplicado, em 2019 o MEC anunciado que o Revalida seria aplicado novamente em 2020 e, a partir de então, semestralmente. Porém, a primeira etapa – que antes custava R$ 150 – passa a custar R$ 330 e a segunda etapa, R$ 3.300.
Neste e-book do Estudar Fora reunimos os detalhes para que você entenda se estudar medicina na Argentina (ou em outros países) é a melhor opção para você!
"Como é estudar medicina na Argentina? Confira a experiência desta brasileira" foi originalmente publicado pelo portal Estudar Fora da Fundação Estudar.