Executivo olha para desenho de labirinto: pensamento crítico está relacionado à capacidade de resolver problemas (Thinkstock)
Da Redação
Publicado em 20 de agosto de 2015 às 16h44.
São Paulo – Problema para uns, oportunidade para outros. A diferença entre estar no grupo destes “uns” ou no destes “outros” reside em uma capacidade crucial aos profissionais: pensamento crítico.
Esta, ao lado da comunicação e da criatividade, faz parte do hall das chamadas habilidades do século 21, segundo explica a professora Giedre Vasiliauskaite, da pós-graduação da Universidade de Rotterdam, na Holanda e do master em negócios da Rotterdam Business School - em parceria com o INEPAD - em entrevista a EXAME.com
Fulcral para o sucesso no mundo corporativo, o pensamento crítico, explica a especialista, se faz tão necessário por estar diretamente relacionado à capacidade de resolver problemas, inegável requisito de destaque no currículo executivo.
A seguir, confira trechos da conversa com a professora, em que ela explica o que é pensamento crítico, como se desenvolve e dá exemplos práticos do seu uso ambiente profissional:
EXAME.com: O que significa ter pensamento crítico no mundo corporativo?
Giedre Vasiliauskaite: Um executivo que pensa criticamente tem uma maneira de pensar clara e bem estruturada e é capaz de se comunicar claramente, fazer as perguntas certas, de reconhecer o problema atrás do problema e olhar para uma questão sob diferentes perspectivas.
O pensamento crítico nos ajuda a identificar soluções possíveis e, claro, identificar oportunidades, incluindo o potencial das soluções identificadas. A partir do pensamento crítico, é possível encontrar formas de gerar negócios, conexões e perspectivas, simplesmente porque o problema foi correta e criticamente analisado.
EXAME.com: Como os profissionais podem desenvolver esta habilidade?
Giedre Vasiliauskaite: Você desenvolve esta habilidade por meio do estudo da teoria do pensamento crítico e também praticando muito em situações reais. As pessoas se questionam se é possível ensinar a habilidade de pensamento crítico. Minha resposta é que, geralmente, sim, é possível.
Todos nós somos, na verdade, pessoas com experiência de 20 a 30 anos em argumentar (dependendo da idade dos estudantes). Quando eu argumento sobre a possibilidade de melhorar dons de pensamento crítico eu me apoio em estudos psicológicos sobre o cérebro: os humanos tem a habilidade de mudar padrões de pensamento e seus comportamentos.
EXAME.com: Mas o que as aulas de pensamento crítico fazem efetivamente pelos profissionais?
Giedre Vasiliauskaite: As aulas de pensamento crítico fazem elevam nossos padrões de racionalização cotidianos para o nível da percepção. Quando você entende como o processo de racionalização funciona e quais são os erros comuns em que as pessoas incorrem, é mais fácil controlar o seu processo e, eventualmente, melhorar a sua racionalização. O pensamento crítico também ajuda a entender os elos, as carências e os defeitos na racionalização das outras pessoas.
EXAME.com: Qual a principal barreira que bloqueia o pensamento crítico?
Giedre Vasiliauskaite: A automatização do pensamento é uma barreira para estas habilidades que não funcionam de maneira automática: boa comunicação, criatividade e pensamento crítico.
EXAME.com: A senhora pode dar um exemplo concreto da vantagem de pensar criticamente?
Giedre Vasiliauskaite: O escritor da Harvard Business Review, John Baldoni, dá um bom exemplo nesse sentido: um executivo comum pode identificar o superávit da produção como um problema que o pensador crítico deveria ver como uma oportunidade para renovar o processo de produzir algo novo e, podemos acrescentar, explorar novos mercados, testar outras aplicações e apresentações do mesmo produto.
EXAME.com: Pensamento crítico é só necessário para profissionais experientes?
Giedre Vasiliauskaite: Não é só para os seniores. A nova geração que está chegando ao mercado agora é muito mais focada em colaboração e diversidade e é por isso que o pensamento crítico junto com a comunicação e a criatividade são chamados de talentos do século 21.
EXAME.com: Por que é um talento do século 21?
Giedre Vasiliauskaite: Um estudo conduzido pela Accenture em 2013, chamado "The Accenture 2013 Skills and Employment Trends Survey: Perspectives on Training" e realizado com mais de 400 empregadores executivos, mostrou que a necessidade crescente vista por empregadores quanto aos dons dos executivos é a habilidade de resolver problemas, e é aqui que age o pensamento crítico.
Quando nós revelamos a estrutura essencial de um argumento se torna mais fácil enxergar como as ideias são interconectadas. Portanto, podemos nos livrar de informações redundantes que embaralham a comunicação e desperdiçam tempo valioso.
Roger Martin, reitor da Rotman School of Management (da Universidade de Toronto, no Canadá), está reinventando sua universidade baseado na importância que ele atribui ao pensamento crítico, e é isso que estamos fazendo na Universidade de Rotterdam também.
EXAME.com: Em tempos de crise como o pensamento crítico pode ajudar?
Giedre Vasiliauskaite: Um executivo com boas habilidades de pensamento crítico, ao invés de imediatamente procurar por uma solução, vai à busca do que e por que o problema aconteceu. Isso não é fácil de fazer. Esse executivo consegue simular possibilidades de intervenção projetando consequências possíveis e então selecionando as alternativas que dão os melhores resultados.
Veja, por exemplo, a questão da crise econômica que se desenvolveu desde 2009: com menos dinheiro no mercado, existe menos estabilidade e menor previsibilidade quanto ao que está por vir, desafiando indivíduos a se tornarem mais empreendedores e visualizar novas oportunidades para geração de negócios.
A mudança necessária tem duas dimensões pois requer não apenas rever as políticas nas organizações, mas também reforçar o padrão de pensamento empreendedor nas pessoas. Isso significa conquistar maior autonomia, mais capacidade para pensamento independente, identificação e aprender por meio dos erros, assim como realização na habilidade de sugerir soluções inovadoras em situações ambíguas.