Futuro do trabalho: o impacto da automação nos empregos varia de acordo com o país e a região (foto/Thinkstock)
Luísa Granato
Publicado em 25 de outubro de 2018 às 15h00.
Última atualização em 25 de outubro de 2018 às 15h10.
Até 2025, as máquinas desempenharão mais funções do que os seres humanos no mundo do trabalho. Porém, não há motivo para alarmismos: a mesma revolução tecnológica que colocará os robôs em tarefas que antes pertenciam às pessoas criará 58 milhões de novos empregos nos próximos cinco anos. Essas são as principais previsões da nova versão do relatório The Future of Jobs, divulgada pelo Fórum Econômico Mundial em setembro.
A pesquisa se baseou nas opiniões de executivos de negócios, diretores de estratégia e de recursos humanos e também em dados oferecidos pelo LinkedIn, que mostram quais papéis estiveram em alta ou em baixa no mercado nos últimos anos. Vinte economias desenvolvidas e emergentes e mais de 300 empresas de diversos setores, representando cerca de 15 milhões de funcionários e 70% do PIB mundial, foram analisadas para as projeções.
Para tentar entender como a tecnologia pode extinguir ou criar empregos, o relatório debate novos modelos de negócios, funções emergentes e habilidades que os trabalhadores precisarão desenvolver, além de demonstrar o impacto do aumento da automação em diferentes áreas da indústria e do globo. A seguir, resumimos algumas das conclusões:
Hoje, 71% das horas de trabalho são realizadas por pessoas e 29% pelas máquinas. O relatório do Fórum Econômico Mundial aponta para uma tendência de inversão dessa proporção. Até 2025, mais da metade das funções será automatizada. De acordo com a pesquisa, isso trará diversas transformações nas relações entre seres humanos, robôs e algoritmos no mundo do trabalho — que se traduzem, sobretudo, em mudanças nos tipos de funções desempenhadas e de habilidades desejadas.
Ao contrário do que se teme, o aumento da automação não necessariamente significa menos espaço para os seres humanos no mercado. A perspectiva do relatório é bem otimista nesse sentido: embora se estime que 75 milhões de empregos sejam extintos, a evolução da tecnologia pode criar 133 milhões de novos postos de trabalho adaptados a essas mudanças, deixando um saldo de 58 milhões de vagas.
Nesse cenário, 40% das empresas esperam estender sua força de trabalho de um modo geral e mais de 25% acreditam que a tecnologia criará novas funções para os seres humanos. “Em comparação a um estudo semelhante realizado em 2016, as perspectivas para a criação de empregos hoje são mais positivas, pois as empresas têm uma compreensão muito maior das possibilidades oferecidas pela tecnologia”, diz o relatório.
Cientistas de dados, desenvolvedores de software e aplicativos e especialistas em e-commerce e social media — ou seja, papéis diretamente relacionados à tecnologia — estão entre as profissões cuja demanda tende a crescer. O mesmo é esperado para funções que necessitam de habilidades interpessoais, como os cargos de vendas, marketing e atendimento ao cliente. Já tarefas mais burocráticas, como as de contabilidade, tendem a se tornar obsoletas.
A análise dos dados fornecidos pelo LinkedIn mostra o histórico de contratações para diversas profissões entre 2013 e 2017 e revela como essas tendências já vêm se desenhando no mercado. Os resultados detalhados, divididos por setor da indústria e região, podem ser conferidos neste link.
Top 10 profissões emergentes em 2022, segundo o Fórum Econômico Mundial
Conviver com as máquinas, no entanto, exige esforço e dedicação. Mais da metade dos funcionários de grandes empresas precisarão aprimorar ou atualizar suas habilidades para aproveitar as oportunidades de crescimento profissional na Quarta Revolução Industrial, ou Indústria 4.0 – e pouco mais da metade das empresas planeja ajudar funcionários que desempenham papéis-chave nesse processo de reskilling ou upskilling. Outra estratégia mencionada é a contratação de novas pessoas, já qualificadas.
Todas as indústrias esperam ter lacunas em termos de habilidades, por isso o fundador e presidente do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab, alerta para a importância dessa reinvenção. “É fundamental que as empresas assumam um papel ativo no apoio às suas forças de trabalho, que os indivíduos adotem uma abordagem proativa para seu aprendizado ao longo da vida e que os governos criem um ambiente propício para facilitar essa transformação”, avalia.
O grande objetivo será, claro, a proficiência em tecnologia, principalmente em relação a design e programação, mas habilidades humanas como criatividade, pensamento crítico e capacidade de persuasão também serão valorizadas. Para investir nessa requalificação, 85% das empresas preferem depender de seus próprios departamentos especializados, em vez de fazer parcerias com instituições de ensino.
Essa tendência destaca ainda mais o papel das empresas no aperfeiçoamento profissional. “Para que elas permaneçam dinâmicas, diferenciadas e competitivas em uma era de máquinas, devem investir em seu capital humano. Sem abordagens proativas, empresas e trabalhadores podem perder o potencial econômico da Quarta Revolução Industrial ”, diz Saadia Zahidi, chefe do Centre for the New Economy and Society no Fórum Econômico Mundial.
Top 10 habilidades para 2022, segundo o Fórum Econômico Mundial
Segundo o relatório, setores de aviação, viagem e turismo, tecnologia da informação, comunicação, investimentos e mineração são os que mais devem se preocupar com a requalificação de seus funcionários até 2022. As áreas da saúde, da química e da biotecnologia também apresentam grande probabilidade de reciclar os quadros de trabalhadores.
A pesquisa também mostra que o impacto da automação nos empregos varia de acordo com o país e a região, já que empresas globais levam em conta fatores estratégicos na hora de escolher onde implementar suas atividades. A disponibilidade de pessoal qualificado é a principal consideração de 74% das empresas para determinar os locais de operação, o que aponta para o impacto do gerenciamento da força de trabalho na geografia de empregos em escala mundial.
Além disso, cada região apresenta diferentes funções em crescente demanda: consultores financeiros e de investimento no Leste Asiático, no Pacífico e na Europa Ocidental; trabalhadores de montagem e fábrica na América Latina, Caribe, Oriente Médio, Norte da África, Sul da Ásia e África Subsaariana; e engenheiros de eletrotecnologia na América do Norte.
Governos, empresas e trabalhadores devem planejar e implementar uma nova visão sobre o mercado de trabalho no contexto da Quarta Revolução Industrial — essa é a maior conclusão do relatório do Fórum Econômico Mundial. Às empresas, cabe o apoio à requalificação da mão de obra, que se tornará cada vez mais cara e especializada. Enquanto isso, os trabalhadores precisarão apostar em bastante aprendizado para passar por essa transição.
Já a agenda das políticas públicas deve se voltar para o aprimoramento do sistema educacional, com o incentivo a um ecossistema de aprendizagem constante. É importante estimular a criação de novos postos de trabalho e gerenciar o impacto social de todas as transformações.
Acima de tudo, qualquer um se beneficia através do conhecimento e da informação de qualidade, que permitem vislumbrar tendências e entender cenários. “Saber quais ocupações estão crescendo e quais estão declinando é um ponto de partida para conversas sobre como fazer a transição para os empregos e as habilidades de amanhã”, conclui o co-fundador do LinkedIn Allen Blue.
Este artigo foi originalmente publicado pelo blog da Udacity, a Universidade do Vale do Silício.