Quatro crianças no jardim: (Monkey Business Images/Thinkstock)
Da Redação
Publicado em 16 de setembro de 2019 às 12h01.
Última atualização em 16 de setembro de 2019 às 14h33.
“Eram criaturas de um planeta imaginário.
Herméticos neste mundo, todos se chamavam Speed Racer,
E falavam uma língua estranha, que os adultos não entendiam.
Vorazes, alimentavam-se de sonho,
Liberdade, vento, de K-suco e pão com mortadela.
Esses monstrinhos queriam dominar a terra.
Chegavam aos montes descendo ladeiras,
Pilotando naves exóticas feitas de tábua de compensado
e rodinhas de rolimã.
Não fosse o tempo, teriam dominado o universo. ”
Brasinhas do Espaço - Sergio Vaz
O sonho de abrir um orfanato me fez estudar Psicologia, o que me levou ao mercado de Recursos Humanos. Foi por meio das crianças que eu encontrei um sentido para a minha carreira.
Mundo adulto, burocracias e leis impediram que o orfanato fosse criado, então tudo mudou. Quase tudo, na verdade. Com a criatividade de uma criança, uma especialista da Vara da Infância me mostrou que eu tinha como adotar outro tipo de necessidade, os órfãos do mercado de trabalho.
Dessa forma nasceu o Instituto Ser+ que capacita milhares de jovens em situação de vulnerabilidade social em parceria com empresas, possibilitando a inclusão e o protagonismo jovem nas organizações brasileiras.
O adulto acredita demais no não. As crianças acreditam em soluções. A criança é uma constante imprevisão, talvez por isso a sociedade tenha se dedicado tanto em conter à infância, em busca de controle. Pois bem, não funcionou.
Estamos em setembro, onde foi necessário nascer a campanha ‘Setembro Amarelo’ para prestarmos atenção em como está a nossa saúde mental e daqueles que nos cercam. A Organização Mundial de Saúde (OMS) revelou que em 2020 a depressão será a maior causa de afastamento do trabalho por doença. O que aconteceu?
Como psicóloga eu poderia trazer inúmeros aspectos sobre os motivos dos crescentes diagnósticos de psicopatologias mentais que estão afetando a qualidade de vida, não só dos brasileiros - considerado o país mais ansioso da América Latina - mas do mundo todo.
Mas hoje trago um dos pontos que considero mais importantes. Esquecemos da nossa criança. Esquecemos de trazer suas qualidades ao mundo adulto. E, se esquecemos da nossa própria, como olhar com respeito e cuidado para o futuro das que hoje nos cercam? A sua carreira promove impactos positivos à sustentabilidade ambiental e social? Que tipo de futuro você está ajudando a construir para as crianças de hoje?
Então, que tal começar a resgatar as lições da infância que podem transformar a sua vida profissional?
Curiosidade: porque sim não é resposta! Elas querem saber o motivo das coisas, para que servem, como funcionam. A curiosidade é uma qualidade essencial para a evolução de qualquer profissional. Tenha fome de aprender, não se contente com respostas prontas e divirta-se descobrindo novos caminhos.
Imaginação: pedras se transformavam em castelos, plantas em comidinhas e os bichos de pelúcia em alunos na sua escolinha imaginária. As crianças têm o poder de ver potencial em tudo e dar novos significados a objetos comuns. Ou seja, são especialistas em criar soluções e em se adaptarem ao que tem. Essas qualidades são a base dos talentos ágeis, como são chamados os profissionais do futuro.
Simplicidade: As crianças se importam com as amizades, a diversão e com as experiências. Nós nos preocupamos com rótulos, conceitos, aparências. Quem está vivendo melhor a vida?
Inclusão: ano passado um experimento colocou duas crianças juntas onde uma ganhava um lanche e a outra não. O vídeo viralizou ao mostrar que todas elas escolhiam dividir o seu lanche com o colega. Preconceito e exclusão não são originais às crianças. São conceitos ensinados e está mais que na hora de desaprender e retomar nosso poder de nos relacionarmos genuinamente. Não tenha dúvidas de que, se pudermos cultivar a pureza de uma criança, vamos criar relações mais felizes.
Foco: o momento presente é único para as crianças. Elas não estão preocupadas com o passado e nem com o que serão no futuro. Elas se dedicam totalmente em como fazer do presente o melhor que ele pode ser.
Expressão: se estão tristes, falam. Se estão felizes, deixam claro. Elas não se escondem por medo de julgamento. Pesquisas recentes mostraram que o mercado está exigindo transparência e vulnerabilidade nas empresas. Porém, o que são as empresas senão pessoas e que você faz parte disso?
Diversão: diversão virou sinônimo de improdutividade. Veja só onde fomos parar. As crianças brincam porque essa é a sua natureza. Fazem do mundo um universo de descobertas e se divertem com isso. Que tal resgatar essa capacidade? Como você pode, a partir de agora, transformar o seu ambiente de trabalho e as suas tarefas em processos mais divertidos, dinâmicos e criativos?
Afinal, a sua criança teria orgulho do adulto que você se tornou? Nunca é tarde demais para se reinventar e construir novas realidades. Confie em você e quando não souber os caminhos, pergunte para a sua criança e surpreenda-se com as respostas simples e eficientes que ela tem a dizer.
Boa diversão!