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“Espírito de startup”: Como Luiza Trajano enxerga a força do empreendedorismo no Brasil

Defensora de iniciativas de diversidade, como o "Grupo Mulheres do Brasil" e o primeiro programa de trainee focado em profissionais negros, a empresária e conselheira do Magazine Luiza explica por que acredita que o empreendedor pode ser a solução para a desigualdade social no Brasil

Luiza Helena Trajano, conselheira da Magazine Luiza: “Hoje, a B3 pergunta se temos mulheres, negros e se cuidamos dos funcionários. Quem não incorporar diversidade e cuidar das pessoas ficará fora do mercado” (Leandro Fonseca/Exame)

Luiza Helena Trajano, conselheira da Magazine Luiza: “Hoje, a B3 pergunta se temos mulheres, negros e se cuidamos dos funcionários. Quem não incorporar diversidade e cuidar das pessoas ficará fora do mercado” (Leandro Fonseca/Exame)

Publicado em 9 de dezembro de 2024 às 18h52.

Última atualização em 10 de dezembro de 2024 às 13h37.

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“Empreender é quando você busca solução, mesmo diante das adversidades”, afirma Luiza Helena Trajano, empresária e conselheira da Magazine Luiza.

Para ela, o empreendedor é aquele que tem coragem, o que não significa ausência de medo, mas a escolha de enfrentá-lo. E uma das pessoas que teve essa coragem foi a tia de Trajano, Luiza Trajano Donato, que trabalhou muito tempo como vendedora em uma loja em frente do local onde fundou mais tarde a Magazine Luiza.

“O pensamento da minha tia, que foi a fundadora do Magazine Luiza, era criar uma empresa para gerar empregos para as famílias brasileiras”, afirma a conselheira que lembra com orgulho de que veio de uma família de mulheres empreendedoras. "Tive essa vantagem há 70 anos."

Essa coragem também esteve presente em momentos críticos da trajetória da então conselheira Trajano, como quando chegou no Nordeste, em 2010, e comprou as Lojas Maia. “Na época, mesmo sem lucro, conseguimos triplicar a empresa que hoje tem tanto sucesso no Nordeste. Antes dávamos 350 empregos e hoje já damos mais de 4 mil empregos só na região”, diz.

“Muita gente me pergunta se eu pensava em chegar aonde cheguei. E não, não pensei. Mas também nunca perdi uma oportunidade de melhorar o cenário ao meu redor”, afirma Trajano.

O espírito de startup

O Brasil tem o que Trajano chama de "espírito de startup", uma capacidade única de adaptação e inovação quando o assunto é empreendedorismo. "A cada três empregos criados, estamos tirando pessoas da rua e oferecendo novas oportunidades. O pequeno empreendedor é quem gera a maior parte dos empregos no país, e precisamos incentivá-lo para fomentar a economia”, afirma Trajano que desde 1986 atua voluntariamente no Sebrae, incentivando o desenvolvimento de pequenas e médias empresas.

Para a empresária, a redução da desigualdade social é essencial para o progresso do Brasil, e o empreendedor, que hoje está muito voltado para startups, pode ajudar a melhorar o cenário.

“A desigualdade social é uma faca nas costas de todos nós. Uma pessoa com fome não consegue fazer nada. Ela vai buscar alternativas perigosas para sobreviver e isso afeta a todos”, diz. “Enquanto eu, com uma grande empresa, posso gerar 40 mil empregos diretos, o pequeno empreendedor pode gerar muito mais localmente. A saída da miséria é a geração de empregos, aliada às políticas públicas”, afirma Trajano.

ESG e a nova realidade empresarial

Quando o assunto é desigualdade social, Trajano traz à tona não apenas a importância da geração de emprego, mas também a diversidade nas companhias. “Não dá para falar sobre desigualdade sem lembrar dos 389 anos de escravidão. As pessoas foram jogadas na rua sem casa, sem emprego, sem educação, e a maioria, inclusive, eram negros", diz a empresária.

A pandemia e o ESG (Environmental, Social and Governance), segundo Trajano, redefiniram as expectativas do consumidor e das empresas. “Pós-ESG, as empresas não são as mesmas. A bolsa hoje pergunta por meio de um formulário se temos mulheres, negros e se cuidamos dos funcionários.”, diz Trajano. “Quem não incorporar diversidade e cuidar das pessoas ficará fora do mercado.”

Como parte deste movimento, Trajano relembra a polêmica que foi gerada sobre a criação do Programa de Trainee para Negros do Magalu, em 2019, que hoje se tornou um exemplo de ações concretas para promover inclusão racial nas companhias.

“Identificamos que 53% dos funcionários eram negros, mas apenas 16% ocupavam cargos de liderança. Criar um programa de trainee exclusivo para negros foi um passo natural. Hoje, vemos resultados transformadores”, afirma.

Outra pauta que Trajano defende é a igualdade de gênero, tanto que em 2013 ela ajudou a criar o “Grupo Mulheres do Brasil”, que atua com políticas públicas para promover igualdade de gênero e justiça social. “Temos um projeto chamado ‘Donas de Mim’, onde já investimos mais de R$ 10 milhões que ajudaram mais de três milhões de mulheres a começarem seus negócios,” afirma Trajano.

O trabalho com propósito

Ao longo de sua jornada, Trajano relembra que todas as iniciativas foram norteadas por causa daquele propósito antigo: gerar emprego para as famílias brasileiras.

Atualmente, a Magazine Luiza não é apenas uma empresa do varejo que nasceu no interior, mas também uma companhia digital que fatura 62 bilhões de reais e tem mais de 1.500 unidades. “O mais importante é que o tempo passou, crescemos, mas continuamos entre as melhores empresas para trabalhar e com o propósito claro de investir no empreendedorismo e em pautas de diversidade para diminuir a desigualdade social no Brasil”, afirma Trajano.

A conselheira do Magazine Luiza compartilhou essas lições em um painel realizado durante o fórum “O Otimista Brasil”, nesta segunda-feira, 9, na FAAP, em São Paulo. A empresária participou do painel “Inovação, sustentabilidade e empreendedorismo” e compartilhou reflexões sobre desafios sociais e a força do empreendedorismo e da diversidade em um Brasil em transformação – e em evolução.

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