EXAME.com (EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 7 de agosto de 2014 às 15h34.
São Paulo - Em meados da década de 90, as empresas no Brasil começaram a substituir as salas fechadas e mesas de trabalho por baias. A derrubada das paredes foi justificada com o argumento de que os espaços abertos propiciam maior integração entre as pessoas e aumento significativo dos fluxos de informação, da participação, da autonomia e da liberdade dos empregados.
As baias também permitem colocar mais pessoas em um mesmo lugar a custos menores, uma grande vantagem em cidades caras. Rapidamente, as baias viraram moda.
Em parceria com a executiva de recursos humanos Aline Oliveira Almeida, analisei a transformação dos escritórios no final da década de 90. Em nosso estudo, publicado na revista científica Organizações & Sociedade, constatamos que, quando os funcionários podem ver uns aos outros no ambiente de trabalho, ocorre um fenômeno do tipo Big Brother.
Sem a proteção de salas fechadas e portas, os profissionais começam a vigiar os colegas. Existe um temor do que dizer ao telefone e do que escrever no computador. Muitos começam a “enrolar” no trabalho para sair somente após o chefe. Por sua vez, para dar o exemplo, os chefes começaram a sair mais tarde, o que produz um círculo vicioso, que aumenta as horas na empresa.
Em um espaço sem paredes, as pessoas têm muito mais dificuldade para se concentrar, pois amplia o nível de ruído. Além disso, as interrupções são muito mais frequentes e constantes. Os escritórios “Big Brother” terminam por estender a quantidade de horas trabalhadas e também diminuem expressivamente o poder de concentração.
Trata-se de um dos principais problemas da vida corporativa: não existe paz suficiente para pensar, refletir e desempenhar as funções sem ser incomodado. Os e-mails, que pingam a toda hora na caixa de mensagem, o Facebook, que fica aberto enquanto se trabalha, o WhatsApp, que não para de apitar, são elementos que perturbam a atenção o tempo todo.
O espaço aberto nas empresas apenas reforça um ambiente cheio de ruídos, em que todos controlam todos e onde as interrupções são constantes. Os escritórios abertos são a realidade. Mas a conta da qualidade de vida no trabalho e do custo para obter resultados foi paga pelo profissional. Talvez seja o caso de as empresas pensarem que nem toda moda deve ser seguida.