Carreira

Equipes mais protegidas

Ao criar uma cultura de segurança e envolver os funcionários no tema, a Endesa Brasil reduziu o número de acidentes com afastamento, aumentou a satisfação interna e virou referência no grupo

Carlos Ewandro Moreira, diretor de recursos humanos da Endesa: reuniu 10.000 eletricistas para elaborar os princípios de segurança da companhia (André Valentim / VOCÊ RH)

Carlos Ewandro Moreira, diretor de recursos humanos da Endesa: reuniu 10.000 eletricistas para elaborar os princípios de segurança da companhia (André Valentim / VOCÊ RH)

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Da Redação

Publicado em 24 de junho de 2014 às 10h34.

São Paulo - Segurança é prioridade na Endesa Brasil. Mas nem sempre foi assim. Em 2007, quando a holding contava com 17.000 pessoas, que cobriam um território de 200.000 quilômetros quadrados, foram registrados cinco acidentes fatais e três acidentes graves com funcionários. “Mantínhamos a política de fiscalização, punição e demissão, sem, no entanto, conscientizar e envolver os funcionários no tema segurança; e ainda queríamos resultados”, diz Carlos Ewandro Moreira, diretor de recursos humanos.

Controlada pelo grupo italiano Enel e uma das cinco maiores empresas privadas do setor elétrico no país, a Endesa atua em quatro estados brasileiros (Rio de Janeiro, Goiás, Ceará e Rio Grande do Sul), fornece energia a aproximadamente 15 milhões de pessoas e tem cerca de 5,8 milhões de clientes. No entanto, para se manter no topo, precisava mudar.

O Desafio

Já havia ficado claro para o diretor de RH da Endesa Brasil que não seria possível melhorar os índices de segurança insistindo na política vigente. “Fazíamos sempre a mesma coisa e queríamos resultados diferentes, até que tivemos um ano terrível em 2007”, afirma Moreira. Nessa época, segurança era vista como um problema exclusivamente da empresa, e não do funcionário.

A Endesa obrigava o empregado a seguir uma série de regras, sob pena de demissão, mas não se preocupava em conscientizá-lo da importância do tema. Um comportamento um tanto quanto arriscado em se tratando de uma holding que controla duas geradoras de energia, duas distribuidoras e o sistema de interconexão entre Brasil e Argentina, com 4.000 viaturas e 1.000 motos operadas por funcionários trabalhando diretamente com eletricidade.

A Solução

Lançado em 2008, o Saber Viver pretendia criar uma cultura de segurança. Para isso, nos primeiros dez meses do programa, Moreira reuniu 10.000 eletricistas dos quatro estados de atuação da Endesa em oficinas e grupos focais sobre o tema. Ao final, pediu para eles elaborarem os princípios do Saber Viver.

Na lista de 12 princípios, os funcionários incluíram itens como “Tenha em mente o tempo todo que você é o maior responsável pela integridade das pessoas a seu redor”, “Exerça e respeite o direito de recusa sempre que necessário” e “Lembre-se que o fator humano está sempre presente em qualquer trabalho, por mais técnico que seja”.

Os princípios passaram a decorar as paredes de todas as empresas da holding, mesmo nos setores administrativos, embora o foco do programa estivesse no operacional. “Mobilizamos os gestores enviando mensagens diretas do CEO da Endesa sobre segurança e fixando metas sobre o tema”, diz Moreira. Uma delas obriga cada executivo da empresa a acompanhar, por ano, cinco trabalhos de campo, vistorias e consertos feitos pelas equipes técnicas e mandar relatórios do que viram para a área de segurança.

Essa medida recebeu o nome de Safety Walk. Além disso, toda reunião, de qualquer área, incluindo os encontros do comitê executivo, passou a ser aberta pelo pessoal de segurança. O passo seguinte foi voltar aos eletricistas e promover novos grupos focais para conferir se a Endesa estava praticando, de fato, os 12 princípios que pregava.

“Se o funcionário tivesse passado a noite em claro com o filho com febre e se sentisse desconcentrado, ele teria de exercer seu direito de recusa em realizar determinada atividade. E, com os novos grupos focais, checávamos a atuação dos gestores em situações como essa”, afirma o diretor de RH. Outra ação importante do Saber Viver foi o programa apelidado Big Brother, que dotou os veículos da holding de câmeras para que os eletricistas filmassem o próprio trabalho.

Quando o serviço acontece dentro do quadro de luz de um edifício, por exemplo, o funcionário tem uma câmera portátil para prender no cinto e filmar a tarefa. “Tivemos de defender essa medida até no Ministério Público, pois, no começo, os funcionários achavam que era uma invasão de privacidade, mas hoje eles usam as câmeras como suas aliadas”, diz Moreira.

O Resultado

De 2008 a 2013, o número de acidentes com afastamento registrado pela Endesa caiu de 222 para 45. No número total de acidentes (com e sem afastamento), a redução foi de 58% de 2010 a 2013. “No ano passado, a Ampla, empresa da holding que atua no estado do Rio de Janeiro, passou quatro meses sem registrar acidentes”, diz Moreira.

Na pesquisa de clima realizada em 2013, 95% dos respondentes disseram acreditar que segurança é uma prioridade para a Endesa, ante 82% em 2010. Dentro do grupo Enel, as câmeras do Big Brother viraram benchmark, sendo adotadas pelas subsidiárias na Colômbia e no Peru. “Hoje, a área de segurança tem autonomia e seu executivo responde diretamente ao CEO da Endesa Brasil”, afirma o diretor de RH.

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