Escritórios de Natura e Nubank: companhias que trazem seus funcionários para o centro da tomada de decisão conseguem ter culturas organizacionais e resultados melhores (Germano Lüders/Exame e Divulgação/Exame)
Da Redação
Publicado em 25 de maio de 2021 às 10h00.
Última atualização em 1 de junho de 2021 às 07h00.
Em um ambiente em que a disputa pelos melhores talentos é tão acirrada (startups e grandes empresas), oferecer o melhor salário ou um pacote atrativo de benefícios já não é mais o que faz diferença. Exemplo disso é o que acontece na Natura&Co, maior conglomerado de beleza da América Latina, que reúne marcas como Natura, Avon, The Body Shop e Aesop, o cuidado com a cultura organizacional - e a forma como ela é transmitida aos times - se tornou um dos principais elementos da estratégia.
Dessa forma, a companhia procura trazer seus colaboradores para o centro da decisão e, assim, garantir que suas jornadas estejam asseguradas por propósito, sentimento de pertencimento e prosperidade - valores ainda difíceis de mensurar com exatidão e que contrariam a velha percepção de que as gigantes só se guiam por indicadores claros e tangíveis.“Evoluímos a forma como trabalhamos, inovamos formatos e nos livramos de estereótipos”, explica Mariana Talarico, diretora de Cultura e Desenvolvimento para Natura&Co.
A mudança pôde ser sentida na prática em 2020. Segundo a executiva, no ano passado a companhia realizou pela primeira vez um estudo de engajamento com os colaboradores. A empresa obteve nota 88, em uma escala de 0 a 100, a partir da leitura de mais de 13 mil funcionários na América Latina. Para 2021, a meta é aumentar este índice e ter um maior nível de participação entre os colaboradores.
Com este projeto, o objetivo da empresa é criar condições para a viabilidade da transformação organizacional. Para isso, foram estabelecidos quatro comportamentos esperados na jornada dos colaboradores: o empoderamento do profissional; a busca por um resultado em sua totalidade; atuação cooperativa, complementar e coordenada; e a valorização das diferenças.
Para demonstrar alinhamento com esses valores - e garantir que eles não fossem apenas um conjunto de frases espalhadas nas paredes do escritório - a empresa implementou medidas para disseminar um ecossistema mais inclusivo, com políticas de conscientização e sensibilização sobre a importância da equidade de direitos e o combate a comportamentos discriminatórios.
Outra empresa que sente no dia a dia o impacto dos investimentos na cultura organizacional é o Nubank, maior fintech da América Latina. Com quase oito anos de mercado, a startup brasileira de serviços financeiros foi capaz de reproduzir um modelo de aculturamento híbrido, ágil e assertivo. A clareza da cultura, que zela pela saúde e bem-estar dos colaboradores, fez com que a empresa figurasse entre as primeiras no Brasil a se tornar 100% remota quando a pandemia foi decretada.
A exemplo de ações realizadas em prol das equipes, desde o ano passado, os nubankers, como são autodenominados os colaboradores, passaram a contar com aulas virtuais de ioga e sessões de mildfullness. Contudo, mesmo promovendo iniciativas internas recorrentes, ainda assim é um desafio manter o time engajado. “Nesses casos, sempre procuramos nos lembrar da missão da empresa e do papel fundamental que desempenhamos para uma mudança social significativa”, conta Renee Mauldin, Chief People Officer do Nubank.
Mauldin ainda reforça que a cultura é um elemento-chave para o crescimento da empresa e, por isso, a arquitetura de times diversos é um valor fundamental para a empresa. Este ano, após críticas quanto a forma como olhava para a diversidade, a startup reforçou este aspecto em seu dia a dia e contratou quase 500 profissionais autodeclarados negros ou pardos em todas as áreas e níveis de senioridade, além de contar com mais de 35 nacionalidades em sua força de trabalho.
É nesta mesma direção que a venture builder Sevensete mira o desenvolvimento de sua cultura. Especializada em colocar ideias e negócios em prática, a empresa vive a fase de estruturação de um modelo baseado na tríade colaborador, cliente e fornecedor. “Sabemos que, implementando e difundindo uma uma cultura de acolhimento e de real entendimento das motivações pessoais, atingiremos nossos objetivos profissionais”, reflete Rochane Soubhie, CMO da empresa.
Assim, a cultura transpõe a relação exclusiva de consumo com a empresa. Para Soubhie, fica difícil entender em que momento termina o negócio e começa o cliente, e este, por sua vez, se parece em quase tudo com o colaborador e vice-versa.
Professores do curso Decodificando a Cultura, recém-lançado pela Future Dojo, joint venture de educação entre Exame e ACE, reforçam a ideia de que ter uma cultura bem definida é uma vantagem competitiva dentro de um mercado de trabalho cada vez mais acirrado. Para eles, é comum uma maior rotatividade de colaboradores no primeiro ano de empresa em razão da falta de alinhamento cultural. Por isso, a visão é: o aculturamento se faz cada vez mais importante para as novas gerações, que estão mais críticas e escolhendo trabalhos não pelo salário ou status, mas, sim, por valores, ideais e propósitos compartilhados.
Como resultado da convivência de um grupo de pessoas que trabalham juntas no dia a dia, a cultura não é estática. Ela é moldada e influenciada por fatores externos, e a boa leitura do meio as torna mais atrativas e lucrativas.
Prova disso são os temas que ganharam espaço nos últimos tempos, com o advento da pandemia. Além das discussões acerca da saúde mental, assuntos como futuro do trabalho, anywhere office, home office e jornadas flexíveis também conquistaram espaço dentro das empresas, antecipando tendências. E os ganhos são incontáveis. Aumento de receita, engajamento e reputação, e diminuição de turnover são alguns dos exemplos palpáveis e esperados na estratégia de cultura. “Quanto mais ouvimos as pessoas de maneira inteligente e constante, mais estamos pensando no nosso negócio de maneira sustentável e a longo prazo”.
É verdade que as empresas se tornaram um canal para as pessoas se realizarem profissionalmente, exercitando os seus valores e colocando as suas competências e talentos a serviço do desafio diário que as move.
Com isso, quanto mais definida e estabelecida for a cultura de uma organização, melhor ela poderá expressá-la para os ambientes interno e externo, trazendo para o negócio perfis em linha com sua estratégia macro. Segundo Stephanie Crispino, CEO da Tribo Global, “não porque existe alguém ideal ou não para uma determinada vaga, mas porque só chamará atenção e causará interesse daqueles que, de fato, querem ser agentes da mudança seguindo uma cultura organizacional sólida”.
Este é um movimento que potencializa tanto os resultados da empresa, quanto a realização e o bem-estar das pessoas, reforçando a perspectiva de ganha-ganha. “É o cenário improvável, quando duas palavras raramente vistas como complementares estão unidas: amor e performance”, diz.
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