A geração Z é a que mais tem apatia, segundo estudo (Getty Images/Reprodução)
Publicado em 9 de setembro de 2024 às 16h26.
Última atualização em 9 de setembro de 2024 às 16h51.
Por Paula Esteves
Apatia é uma condição que se caracteriza pela indiferença, insensibilidade e falta de atividade. Não é um sentimento bom, mas é um dos mais frequentes entre jovens.
Segundo a 23ª edição da Carreira dos Sonhos 2024, a Geração Z se destaca quanto a esse sentimento:
Confesso que fiquei preocupada com esse dado da pesquisa Carreira dos Sonhos, que ouviu 93.550 respondentes, sendo 70.162 jovens. Isso porque estamos falando de um público que, supostamente, é mais sonhador. Afinal, a juventude é aquela fase na vida em que fazemos grandes planos, temos desejos, vontades, garra, enfim, vislumbramos um futuro incrível.
A realidade, no entanto, apresenta outro cenário. Diferentemente do estereótipo ligado à juventude, o que percebemos no nosso estudo é que há uma grande desesperança entre as pessoas mais novas — e, claro, isso tem um porquê. Parte da explicação está no contexto vivido.
De acordo com o filósofo italiano Franco Berardi, o futuro era imaginado de maneira eufórica até pelo menos 1968. Apesar das guerras, e todos os seus desdobramentos econômicos, sociais e políticos, o horizonte ainda parecia brilhante. De acordo com o intelectual, conquistas no campo tecnológico e na saúde, como o aumento da expectativa média de vida, ajudavam a dar cores mais vibrantes para a realidade e seu amanhã.
Essa realidade, porém, começa a mudar no fim do século 20, quando a euforia deu lugar à falta de perspectiva de futuro. Depois da crise financeira de 2008, a realidade que a juventude passa a conhecer é de sucessivos problemas econômicos, conflitos entre países, ameaças ambientais e até sanitárias, como o recente período da pandemia.
Agora, pense comigo: como vislumbrar algo melhor se o que está acontecendo aqui e agora parece tão desesperançoso?
As pessoas mais novas não vivenciaram aquela história de euforia, não cresceram e se desenvolveram em uma época cheia de promessas empolgantes para o futuro. É natural, portanto, que a apatia seja um estado predominante nesse grupo.
Nada disso significa, no entanto, que devemos simplesmente aceitar essa situação, como se as coisas tivessem mesmo que ser assim. Nós podemos transformar as visões de futuro e, como líderes de empresas, temos a missão de fazer isso.
Além da questão da apatia da juventude ser preocupante por si só, tem o fato de que a sustentabilidade de um negócio depende do engajamento de todas as pessoas e de todas as áreas. Não adianta só a liderança conseguir enxergar um amanhã próspero. Para conduzir a empresa para esse lugar melhor, a sua visão precisa ser compartilhada.
Mais do que isso, a ideia de futuro da liderança deve parecer real. Jovens devem conseguir olhar para esse horizonte e acreditar que podem chegar lá, em vez de encararem essa visão como uma miragem em um deserto de desesperança.
Sei que inspirar e motivar as pessoas não são tarefas fáceis. Também é verdade que, em meio a tantas mudanças e desafios contemporâneos, falta ânimo para a própria liderança muitas vezes.
Algumas sugestões são usar a empatia para conhecer o contexto dos diversos grupos que compõem a sua empresa e entender como ele impacta na capacidade dos indivíduos sonharem. Também vale exercer uma liderança focada na transversalidade, o que significa trabalhar sobre diferentes óticas, e utilizar a inteligência coletiva para enfrentar os desafios. Assim, fica mais fácil se conectar com as pessoas e ajudá-las a resgatar o sentimento de esperança acerca do futuro.