Recrutamento: o problema que o governador de Minas Gerais pode encontrar está nos salários (Pattanaphong Khuankaew/Thinkstock)
Luísa Granato
Publicado em 31 de outubro de 2018 às 14h27.
São Paulo - O mundo dos negócios e da política se juntou com a eleição de Romeu Zema, do Partido Novo, para o governo de Minas Gerais no domingo, dia 28. Ele é dono do Grupo Zema, que tem desde negócios de moda aos postos de combustíveis.
Agora, como governador, uma de suas propostas é fazer a seleção de seus secretários por critérios técnicos, e não por indicação política. Mas será possível trazer a fórmula de recrutamento do mundo corporativo para a gestão pública?
Segundo Zema, uma empresa de recrutamento será contratada para oferecer uma lista de candidatos ideais para cada pasta, de acordo com critérios estabelecidos por sua equipe.
A iniciativa é vista como positiva pelo diretor executivo do Page Group, Fernando Andraus.
“Essa seleção dá transparência e traz profissionais mais capacitados para o governo, com experiência acadêmica e de liderança executiva. Temos uma divisão dedicada ao recrutamento no serviço público e muitos países no mundo tem sistemas maduros desse tipo, como Inglaterra, França e o Chile”, comenta Andraus.
O executivo apresenta o caso do Chile como um exemplo de sucesso na América Latina. No país, os ministros continuam sendo indicados pelo presidente, mas todos os níveis hierárquicos abaixo deles são selecionados por empresas de recrutamento.
O sistema começou para contratar diretores de estatais e de secretarias e funciona como uma licitação. Cada empresa é cadastrada e avaliada recorrentemente dependendo da qualidade de resultados.
Assim, as vagas são publicadas e qualquer um pode se candidatar, como em concursos públicos. Todos os currículos são avaliados por consultores treinados e os selecionados passam pelo processo de avaliação de seus conhecimentos técnicos e de comportamento.
Segundo Andraus, o modelo garante transparência no governo e a competitividade para os cargos valoriza a qualidade da carreira pública. No final, a empresa indica uma lista de melhores candidatos para o cargo.
“O concurso público hoje é baseado em prova como principal instrumento de avaliação, o que não conversa com técnicas mais modernas de atração no recrutamento de profissionais”, diz ele.
Um problema que o governador de Minas Gerais pode encontrar está nos salários. Diferente do Chile, que possui salários competitivos para seus cargos públicos, Zema prometeu em campanha que ele, seu vice Paulo Brant e todos os secretários não receberiam salário até equilibrar os pagamentos do funcionalismo público.
A questão pode comprometer a diversidade de candidatos disponíveis para os cargos e a atratividade para os melhores talentos do mercado.
No Brasil, a seleção de talentos para o setor público já acontece desde 2015 com o trabalho do Vetor Brasil. A organização sem fins lucrativos e suprapartidária aloca profissionais dentro do governo por meio de dois programas, um para lideranças e outro para jovens talentos.
Em 2016, a organização firmou uma parceria com o então prefeito eleito de Londrina, Marcelo Belinati, para fazer a primeira seleção por competência para a Secretaria Municipal de Educação.
O processo inovador teve 129 candidatos e resultou na contratação da secretária Maria Tereza Paschoal de Moraes, que não tinha relação com o prefeito ou outras pessoas da prefeitura. Ela teve seu currículo analisado e passou por entrevistas, avaliações e sabatinas para ser contratada.
Para Joice Toyota, cofundadora e diretora executiva do Vetor Brasil, a proposta do governador eleito de Minas Gerais é viável. “Trata-se de uma escolha que oferece desafios e oportunidades, mas não anula a decisão de outros gestores que queiram formar times equilibrando critérios técnicos, de gestão e políticos”, comenta ela.