Com aluguéis acessíveis e design moderno, os dormitórios da Nippon Life são um atrativo para novos talentos. (Issei Kato/Reuters)
Redator na Exame
Publicado em 6 de janeiro de 2025 às 07h45.
Com a população jovem em declínio e o mercado de trabalho cada vez mais competitivo, empresas japonesas estão implementando benefícios atraentes, como subsídios habitacionais e pagamento de dívidas estudantis, para recrutar e reter talentos. A busca por mão de obra qualificada tornou-se crucial, à medida que o Japão enfrenta uma crise demográfica sem precedentes. As informações são da Bloomberg.
Empresas como a Nippon Life Insurance estão investindo em estruturas como dormitórios corporativos modernos, que oferecem aluguéis significativamente abaixo do mercado. Ryosuke Yamamoto, funcionário da empresa, paga apenas ¥25 mil (US$ 160 ou R$ 985) por um quarto próximo ao centro de Tóquio, com kitchenette, banheiro privativo e áreas comuns. Esse benefício foi determinante em sua decisão de ingressar na companhia.
Outras organizações, como a Tokyo Energy & Systems, adotaram medidas como o pagamento de até ¥20 mil (R$ 789) por mês para quitar dívidas estudantis, um fator decisivo para atrair jovens talentos. A empresa superou sua meta de contratações pela primeira vez em anos, destacando a eficácia dessas iniciativas.
Além disso, empresas como a Itochu oferecem acomodações que incluem café, bar e até sauna, enquanto a TDK Corp. construiu dormitórios em regiões mais remotas para atrair trabalhadores de outras áreas.
A população ativa japonesa, especialmente na faixa etária de 20 a 24 anos, caiu 36% nas últimas três décadas, atingindo 4,7 milhões em 2023. Com a taxa de natalidade em declínio, o Japão pode enfrentar um déficit de mais de 11 milhões de trabalhadores até 2040, segundo o Recruit Works Institute.
Esse cenário forçou as empresas a intensificarem esforços de recrutamento. Mais de 40% dos estudantes universitários que se formam em março de 2025 já possuem ao menos uma oferta de emprego um ano antes da graduação, o maior índice desde 2016.
Apesar do aumento nas contratações, a retenção de jovens profissionais continua sendo um desafio. Dados do Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar indicam que cerca de 35% dos graduados em 2021 deixaram seus primeiros empregos em até três anos.
A cultura japonesa, que historicamente incentivava carreiras de longo prazo em uma única empresa, está mudando. Isso forçou gestores a manterem contato frequente com candidatos, reforçando os atrativos das companhias mesmo após as ofertas de emprego serem aceitas.
Com salários médios anuais de US$ 46.792 (R$ 288 mil), o Japão tem uma das remunerações mais baixas entre países desenvolvidos. Entretanto, empresas como a Nippon Life estão implementando aumentos salariais. A organização planeja elevar os salários de seus vendedores em cerca de 6% no próximo ano fiscal.
A Tokyo Energy, por sua vez, avalia ajustes na remuneração base durante as negociações salariais de primavera, refletindo uma tendência emergente no país.
Para pequenas e médias empresas, atrair jovens trabalhadores tornou-se uma questão de sobrevivência. Entre abril e setembro de 2024, o Japão registrou o maior número de falências desde 2013, com 163 empresas citando a falta de mão de obra como um fator determinante. Com a competição se intensificando, algumas companhias começaram a oferecer benefícios imediatamente após a aceitação das ofertas de trabalho, incluindo descontos em restaurantes e hotéis.
Especialistas apontam que, sem mudanças estruturais, muitas empresas enfrentarão dificuldades crescentes para competir no mercado de trabalho. “Recrutar jovens tornou-se a maior questão nas empresas”, afirmou Takashi Imai, gerente de RH da Tokyo Energy.
A solução passa por um esforço conjunto para oferecer pacotes de benefícios mais competitivos, salários ajustados à inflação e um ambiente de trabalho atraente, que alinhe as necessidades dos jovens profissionais às metas organizacionais.