Carreira

Em busca dos melhores advogados, escritórios nos EUA pagam até US$ 50 mil por indicações

A competição por talentos está em alta no país, entre os motivos? Qualificação e jornada de trabalho excessiva

Nos últimos dez anos, o mercado de trabalho americano gerou mais vagas do que havia profissionais disponíveis ou qualificados para preenchê-las (Motortion/Getty Images)

Nos últimos dez anos, o mercado de trabalho americano gerou mais vagas do que havia profissionais disponíveis ou qualificados para preenchê-las (Motortion/Getty Images)

Publicado em 22 de agosto de 2024 às 16h08.

Última atualização em 22 de agosto de 2024 às 16h53.

Tudo sobreEstados Unidos (EUA)
Saiba mais

Já pensou receber até 50 mil dólares por indicar um profissional talentoso à empresa? Essa é a motivação que escritórios de advocacia nos Estados Unidos estão usando para atrair profissionais juniores para o seu time. Segundo matéria do Financial Times, o escritório A&O Shearman ofereceu um bônus de 50 mil dólares para indicações de associados nos EUA em maio. Outro escritório que seguiu um caminho parecido para atrais jovens talentos foi o Kirkland & Ellis. Segundo o veículo americano, a empresa chegou a oferecer um bônus de indicação de 25 mil dólares.

O investimento vem da falta de advogados suficientes para o mercado americano, afirma Talitha Krenk, advogada brasileira há 13 anos e que atua nos Estados Unidos desde o ano passado.

“O sistema de ensino de Direito nos EUA é diferente do Brasil. Aqui são necessários 7 anos de estudo e um investimento de mais de 100 mil dólares. E a admissão na universidade é bem criteriosa. Com isso, existem menos profissionais no mercado a cada ano”, diz a advogada que mora e se formou no estado de Indiana.

“Em Indiana, por exemplo, temos cidades que não tem advogados para a população e nenhum escritório de advocacia local. Além disso, advogados nos EUA são especializados, o que filtra mais ainda o número de profissionais disponíveis em cada área.”

Os requisitos que impactam fora do escritório

Para trabalhar nos escritórios citados na matéria da Financial Times, a advogada Krenk afirma que os novos talentos precisarão primeiramente ter disponibilidade e interesse pela cultura da empresa.

“O escritório deve ocupar o primeiro lugar em sua vida. Geralmente, em big law firms você precisa ter disponibilidade 24/7, ou seja, mesmo que você não esteja em horário oficial de trabalho, você precisa estar disponível para atender ligações e responder e-mails fora do horário de trabalho”, diz.

Além da jornada intensa, o funcionário terá meta de horas faturadas que variam em torno de 2.500 a 3.000 horas anuais, afirma a advogada Krenk. “Essas horas são as que você está ativamente cobrando do cliente e produzindo lucro para o escritório. Além disso, você também precisa ser atualizado, disposto a aprender, fazer networking e escrever artigos para se manter desejável ao mercado americano”.

Parece que nem todos os advogados qualificados estão dispostos a ter uma carga horária de trabalho neste nível, afirma Krenk que criou o seu próprio escritório especializado em processos de imigração.

“Principalmente, quando você se casa e tem filhos. Muitos estão procurando mais equilíbrio entre a vida pessoal e profissional”.

A escassez de advogados nos EUA x Brasil 

No cenário atual, já é possível ver uma grande escassez de profissionais jurídicos em diversas áreas nos Estados Unidos, tanto em termos de quantidade quanto de qualidade, afirma João Mateus Loyola, advogado de imigração da Gondim Law Corp.

“Nos últimos dez anos, o mercado de trabalho americano gerou mais vagas do que havia profissionais disponíveis ou qualificados para preenchê-las. Para suprir essa demanda, o país tem dependido cada vez mais da mão de obra qualificada de profissionais estrangeiros.”

Entre as profissões mais carentes nos Estados Unidos, Loyola destaca os profissionais de saúde, assim como advogados especializados em imigração, fusões e aquisições. “Recentemente, dados mostraram que o país criou 353 mil novos empregos em janeiro, superando as expectativas de analistas que previam a criação de apenas 180 mil.”

No Brasil há um caminho diferente, segundo Flavia Filhorini Lepique, sócia do escritório Filhorini Advogados Associados, especialista em direito empresarial e do trabalho, compliance e governança corporativa.

"Na verdade o que se tem aqui no Brasil, é ao contrário. São mais advogados do que o mercado muitas vezes consegue absorver, nas mais diversas áreas. Há mais cursos de direito, comparativamente aos Estados Unidos, e todos estes fatores contribuem para caminharmos em direção oposta", diz Lepique, que também é presidente da comissão de compliance da OAB-SP.

Acompanhe tudo sobre:AdvogadosEstados Unidos (EUA)Leis trabalhistas

Mais de Carreira

Como usar a técnica que transformou a cultura da Microsoft para impulsionar sua carreira

10 dicas para se destacar em um ambiente de trabalho competitivo

Como responder 'Como você lida com mudanças?' na entrevista de emprego

Por que a cultura da empresa é a chave para atrair e reter talentos?