Carreira

Ele não quer fazer parte da mobília

Frederico Atlas chegou onde podia na empresa familiar em que trabalha. E agora? Insiste ou cai fora?

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 09h34.

Frederico Atlas é um bem-sucedido executivo de uma grande empresa nacional. Nos 17 anos que passou na companhia, ele galgou todos os cargos, demonstrando competência invejável e ajudando a empresa a obter ótimos resultados. Não lhe falta reconhecimento: em tom de brincadeira, é costume ouvir que o presidente da companhia pode até ser dispensado, mas ele é imprescindível.

Muito do sucesso de Atlas se deve ao seu espírito inquieto, à constante briga por evolução, sempre se capacitando para realizar tarefas mais complexas, enfim, para subir, tornar-se melhor. Seu lema sempre foi "não virar móveis e utensílios", ou seja, nunca ficar num cargo tempo suficiente para ser confundido com a mobília do escritório. O dilema dele, agora, é justamente esse. Tendo passado por vários setores da companhia, Atlas está há oito anos no cargo de vice-presidente financeiro. Acima dele, só o presidente. Os demais diretores são todos da família proprietária da empresa. Aos 46 anos, Atlas chegou ao teto, não tem mais para onde crescer profissionalmente na companhia. O que fazer? Sentar o facho e aceitar virar "móveis e utensílios"? Partir para um desafio maior em outra empresa? Aventurar-se com um negócio próprio? Aposentar-se e abrir uma pousada na Praia do Francês?

Atlas parece ter bons motivos para preocupar-se. Ele deve estar passando por uma crise de carreira que mistura os componentes profissionais com os pessoais e os emocionais. Podemos dizer que se trata de uma crise existencial, muito comum em executivos nessa idade, principalmente quando não encontram mais um ambiente motivacional onde possam aplicar toda a sua energia.

Não vejo muitas saídas para Atlas senão aproveitar este momento para aprofundar os seus questionamentos e tirar o maior proveito possível da crise, transformando-a em oportunidade para ingressar em uma nova fase da sua carreira e, por que não, de sua vida.

Ficar na empresa e "virar móveis e utensílios" seria o fim da trajetória do Atlas de espírito irrequieto e competitivo. Além do mais, uma empresa familiar de grande porte que só tem um executivo de fora da família não está seguindo bem a cartilha da empresa competitiva num mundo globalizado. Nada contra empreendimentos familiares, mas a mistura de sangue novo proveniente de fora é altamente recomendável a este tipo de organização.

Outro ponto a considerar é que Atlas se tornou "o" homem de confiança do presidente (que deve ser o mais velho ou o fundador da empresa) e agora está cercado de membros da família querendo destroná-lo do poder.

Deixar a empresa para um desafio maior me parece a melhor solução, antes mesmo de iniciar um negócio próprio. Esta última opção requer pelo menos algum capital - que Atlas deve ter pois sempre foi bem recompensado, mas, sobretudo, exige espírito empreendedor e predisposição ao risco, o que não me parece ser o seu ponto forte. Como Atlas está irrequieto e tem ainda muita lenha para queimar, a pousada na Praia do Francês não deveria ser descartada, mas ficar para algum lugar no futuro.

O que ele deve fazer agora é retomar o contato com os amigos influentes e bem sucedidos e procurar os headhunters para bater um papo. Tudo, é claro, dentro da discrição que a situação requer.

Elvio Lupo Jr., diretor geral da Reebok do Brasil

Sem dúvida alguma Atlas, um executivo com perfil empreendedor que demonstra em seu comportamento maturidade profissional e pessoal, deve procurar novos desafios fora da empresa, sejam eles quais forem. O caso de Atlas é muito comum nas empresas brasileiras e acontece não só com profissionais que ocupam cargos estratégicos. Se o crescimento profissional de qualquer pessoa for limitado por alguma razão, ela deve procurar outros caminhos.

O caso deixa claro também que a estrutura da empresa não permite o crescimento de Atlas. Desta forma, se o executivo ficar por lá, estará fadado à desmotivação, o que não será bom para nenhuma das partes. Para a empresa, a situação não deve ser encarada como um problema e sim como uma oportunidade de repensar sua estrutura.

As empresas modernas que estão em busca de excelência devem estar preparadas para dar oportunidades aos seus profissionais, em qualquer tempo. Daí a importância de uma gerência de recursos humanos atuante que antecipe e identifique as melhores chances para os seus colaboradores, sejam eles executivos ou não. No caso de Atlas, se ele for tão competente quanto demonstra ser, já terá preparado uma outra pessoa para indicar em seu lugar.

Flávio Maluf, presidente da Eucatex

É estranho que Atlas tenha levado 17 anos para perceber que estava trabalhando numa empresa familiar. Se ele permaneceu esse tempo todo na companhia foi porque teve boas oportunidades de crescimento profissional. Ele sempre soube que havia um teto. Mas esse teto ainda não foi atingido. Explico. Se Frederico é de fato um profissional tão importante e que tantas contribuições vem dando para a empresa, poderia ocupar, por exemplo, uma vice-presidência executiva, com responsabilidade por outras áreas, não apenas a financeira. É preciso saber, porém, se Atlas reúne as qualificações necessárias para isso. Essa é a questão central. Se ele possuir essas qualificações e a empresa não se sensibilizar com sua situação - mesmo que isso exija mudanças na estrutura de gestão - sugiro que Atlas comece a pensar em tomar outro rumo profissional. Buscar a gerência geral de uma empresa de menor porte é uma alternativa. Ficar onde está e preparar-se para abrir um negócio próprio é outra - se ele tiver vocação para isso. Como Atlas tem apenas 46 anos e como profissionais da área financeira costumam ter os pés no chão, a pousada parece a alternativa menos provável, mas isso é com ele. Como no programa da tevê, você decide, Atlas.

Guilherme Velloso, headhunter e diretor da PMC AMROP International

Está passando da hora de Frederico Atlas fechar sua vida para balanço e definir seu caminho. Em princípio, é muito importante considerar que seu medo de virar "móveis e utensílios" da empresa é infundado, pois hoje nenhuma organização pode se dar ao luxo de manter em seu quadro de funcionários - principalmente nas funções de comando - alguém que não se movimente com agilidade e não esteja em constante evolução.

A questão de Atlas não é o tempo em que está no cargo, nem sua idade cronológica, e sim o que realmente vem realizando em termos profissionais e o que pode fazer daqui para a frente. Avaliar sua carreira, o mercado e a empresa em que trabalha é fundamental para fazer uma projeção futura.

Se ele não se sente motivado, deve correr atrás de uma oportunidade em outra empresa. Ele não deve ter medo de mudar. Se acredita que tem ainda alguma contribuição a oferecer para a companhia em que se encontra, deve fazê-lo o antes possível. Seja qual for a decisão final, o importante é que Atlas faça uma reavaliação constante de sua carreira. Ele deve escolher para onde quer levá-la, e não esperar que a empresa ou as circunstâncias decidam por ele - é só nessa situação que ele corre o risco de virar "móveis e utensílios".

Mariá Giuliese, diretora de operações da Lens & Minarelli

Os personagens e o enredo desta seção são fictícios. Mas os especialistas chamados a dar sua opinião são genuinamente de carne e osso. Caso você tenha uma história a contar, entre em contato conosco pelo e-mail: avidacomoelae@email.abril.com.br

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