Luís Felipe Castro, líder de pessoas, no escritório de Campinas: mudanças nas plantas e na rotina de trabalho para manter o time (Omar Paixão)
Da Redação
Publicado em 13 de dezembro de 2013 às 11h07.
Fundada em 1998, a Movile Entertainment é uma empresa de tecnologia. Desenvolve aplicativos para smartphones que utilizam os sistemas operacionais Android e iOS, além de criar serviços para celulares mais simples. É também uma companhia jovem — a começar por seu CEO, Fabrício Bloisi, de apenas 35 anos.
No entanto, toda essa juventude estava longe de se refletir no ambiente corporativo. Com áreas separadas e fechadas, a empresa mantinha as paredes todas brancas. “Não encantávamos as pessoas. A Movile era mais um trabalho num mercado aquecido”, afirma Luís Felipe Castro, líder de pessoas da companhia, referindo-se à quantidade de ofertas de emprego no setor de tecnologia.
Para atrair mais profissionais, era preciso criar diferenciais capazes de incentivar a criatividade da equipe e, ao mesmo tempo, zelar pelo bem-estar dos funcionários. Como resume Bloisi: “Queremos, aqui, as melhores pessoas, fazendo igual ou melhor do que os melhores do Vale do Silício. Para isso, fomos buscar lá um pouco de inspiração.”
O Desafio
Os funcionários da Movile se dividem em dois públicos. O primeiro, aquele que entrou quando a empresa era pequenininha e que hoje tem, pelo menos, seis anos de casa. O segundo é formado por gente que veio do mercado de tecnologia e que não costumava esquentar a cadeira — o tempo de permanência não chegava a um ano.
Com o mercado de tecnologia em ebulição e a falta de atrativos que prendessem os profissionais à Movile, o turnover, na casa dos 20%, era bem mais alto do que Castro gostaria. “O assédio aos nossos profissionais era grande e nós os perdíamos mais rápido do que conseguíamos fechar vagas”, diz ele. “Some-se a isso o fato de que não há, no mercado, muitos profissionais com o nível de excelência que buscamos.”
A Solução
Em agosto de 2011, a empresa lançou o Programa Jeito Moviliano de Ser, composto por diversas ações com foco em ambiente, clima e qualidade de vida. A inspiração veio do Vale do Silício, nos Estados Unidos, sede de empresas como Google e onde a própria Movile acabou abrindo um escritório em janeiro de 2012.
O primeiro passo foi justamente arrumar a casa. Os escritórios da Movile no Brasil — em São Paulo, Campinas e no Rio de Janeiro — ganharam decoração high-tech e áreas de convivência com videogames.
Agora, pufes, almofadas e lousas dividem espaço com mesas, cadeiras e computadores, e as divisórias foram derrubadas. Em Campinas, onde funciona o centro de inovação, a Movile se mudou para um escritório maior, em outubro de 2011.
Em São Paulo e no Rio foram feitas reformas, que consumiram investimentos de cerca de 1% do faturamento da empresa. O programa também incluiu uma prática comum no Google — a de doar uma verba para que cada novo funcionário decore sua estação de trabalho como desejar.
Com 50 reais, eles podem colocar desde plantas até bichinhos de pelúcia em suas baias. Já no mural dos sonhos, cada um expõe a foto de dois ou três sonhos que tem. Quando o sonho é concretizado, recebe um carimbo de realizado. Horário flexível, frutas na hora do lanche e comemorações foram algumas das medidas na rubrica qualidade de vida.
Nos escritórios de São Paulo e Campinas, a Movile passou a oferecer o agendamento de massagens, uma vez por semana, também no horário do trabalho. A última ação, implantada em novembro de 2012, foi a Curta Sexta, que permite encerrar as atividades às 16 horas nas sextas-feiras.
A participação nas ações do Jeito Moviliano de Ser também rende selos aos funcionários. Marcar presença na happy hour da empresa, um selo. Colaborar com a atualização do blog da Movile, mais um selo. No fim do ano, os empregados que conquistaram selos participam, ainda, de sorteios de iPods, iPhones, videogames e até viagens para conhecer companhias que são referência na área de tecnologia, como o Facebook.
O Resultado
O programa começou no Brasil e já foi estendido a todos os escritórios da Movile na Argentina, na Colômbia, no México e nos Estados Unidos. Embora não haja pesquisas de clima, a empresa vem mensurando o impacto da mudança. Em 2011, 30% dos funcionários da Movile participavam das atividades do Jeito Moviliano de Ser. No começo de 2012, esse percentual subiu para 60% e, atualmente, 92% dos profissionais participam de todas as atividades do programa.
Segundo o executivo de RH, os 8% restantes são recém-chegados, que ainda sentem um pouco de estranhamento, mas que acabam sendo levados pelos mais antigos. Os três meses que, antes, eram necessários para a empresa preencher uma vaga tiveram redução para duas ou três semanas — sem baixar o nível de exigência.
O turnover caiu 50% desde a adoção do programa, enquanto a produtividade aumentou cerca de 30%. “A empresa está entregando mais sem ter aumentado seu quadro, isso porque pessoas felizes produzem mais”, diz Castro. No prazo de um ano, a receita da Movile cresceu 50%, sem a entrada de um grande cliente.